quarta-feira, 6 de dezembro de 2006

Por que os seriados não são eternos ?

Por que a gente começa a ver os primeiros episódios e depois vira totalmente dependente emocionalmente do troço?

Por que depois eles acabam?

Por que a gente quase morre quando eles acabam?

Por que a gente fica lendo bobagens sobre o seriado que acabou?

Por que a gente fica fazendo esses testes ridículos?

Por que a gente se aperreia quando vê o resultado?

Por que, se a gente já sabia que o resultado seria esse mesmo?



Por que raios os seriados existem hein?

quinta-feira, 23 de novembro de 2006

Aí tem essa coisa louca do pertencimento. Ou da visibilidade. Que eu fui numa palestra do Gilberto Dimenstein e li o livro novo dele e fiquei sabendo que pertencimento e visibilidade são conceitos formalmente elaborados que as pessoas cultas discutem em círculos intelectuais privilegiados. E fiquei sabendo também que as pessoas violentam umas às outras e a si mesmas porque se sentem invisíveis e não-pertencedoras a lugar ou pessoa ou grupo algum.

E eu me dei conta de que às vezes é assim que eu me sinto. E eu nem sei porque que eu nem tenho razões pra isso. Mas é dessa forma que calha de ser. E, um dia, uma qualquer e mínima coisa ocorre e plim. Eu me sinto invisível e não-pertencedora de lugar algum, de pessoa alguma; de grupo algum nesse pequeno mundo. Chamem isso de liberdade se quiserem. Eu já chamei, um dia. Mas a pessoa cresce e tem filho e vê a própria mãe envelhecendo e esse conceito de liberdade ( e independência) passa a ser algo complexo.

Porque, percebem? É preciso ter asas. Mas para fazer a mágica de criar asas é preciso ter raízes. E, um dia, bom tempo depois de você ter deixado a barra da saia da mãe, você se pega se perguntando de que forma você poderá criar asas se você não consegue criar raízes, uma vez que a vida que você leva é uma vida vivida hoje aqui e amanhã sabe-se lá onde. E você diz isso à sua terapeuta e ela lhe pergunta se, uma vez que criar raízes era seu objetivo em sua vida, por que raios você se casou com um estrangeiro? E você sorri amarelo e se cala, porque, c'est vrai,você não sabe por que.

E aí como se não fosse grande o bastante a sua agonia, a sua família e amigos, antes concentrados no Brasil e na França, se espalharam de vez.

Seus sogros vão morar nos EUA, dois amigos íntimos em Guadalupe, um na Jordânia e mais dois na Índia. E sua única e amada cunhada nessa vida, faz o quê? Vai pra Índia também. E se apaixona por aquilo lá, assim como todos os seus amigos que por lá estiveram, e pior dos piores, assim como se apaixonou por aquilo lá seu próprio marido, não muitos anos atrás.

E a Índia, que antes já não era um lugar tão longe assim, uma vez que é pequeno, trop pequeno esse mundo, agora ficou mais perto do que nunca.

Medo. Grande. Grande medo.

Chamem os bombeiros mais uma vez.

sexta-feira, 3 de novembro de 2006

A revista Época dessa semana trouxe uma matéria intitulada "Só as mães são sinceras". Eu não gosto da Época. Eu nem devia dizer isso, agora que eu tenho uma amiga que é repórter lá (Rê, tu lê isso aqui? Diz que não, vai). Mas eu tenho que admitir que essa edição foi feliz abordando esse tema espinhoso. Pra resumir, a matéria fala sobre como as mães de hoje _ entendam, as mães com filhos relativamente pequenos, e que têm qualquer idade entre 20 e 40 anos _ estão cada vez menos temerosas em assumir que sim, ter filhos é dramático. E segue, falando dos blogs das mães modernas porém desesperadas, e de como esses veículos, de certa forma, auxiliaram essa mudança de postura diante da maternidade.

Porque vocês lembram. Cinqüenta anos atrás as mães eram somente mães e pronto. Não se esperava muito delas e elas ficavam quietas. Aí veio a tal da revolução feminista e as mães tiveram que trabalhar fora, subir na carreira, administrar bem a casa, dar beijinhos e coisinhas mais aos maridos antes de irem dormir, ter um corte de cabelo bacana, usar as roupas do momento, entender o mundo e acompanhar as noticias, sair com os amigos e se divertir com eles, dedicar-se ao restante da família e, ainda por cima, como se tudo isso não bastasse, criar filhos bonitos, inteligentes, saudáveis e felizes.

Percebem o grau de irrealidade da condição humana desse ser. Não é difícil concordar que essa mãe jamais de la vie conseguiria operacionalizar tudo isso. E nunca conseguiu. Minha própria mãe é uma prova cabal disso. Alguma coisa, uma delas, ou duas, acabou sempre ficando de lado. Às vezes calhou de ser a filha. Mas as mães produtos do feminismo eram (e são) incapazes de assumir que falharam. E essa é a diferença entre essa geração e a geração de mães na qual a minha pessoa está inserida.

As mães da geração de mães na qual a minha pessoa está inserida ainda têm que trabalhar fora, subir na carreira, administrar bem a casa, dar beijinhos e coisinhas mais aos maridos antes de irem dormir, ter um corte de cabelo bacana, usar as roupas do momento, entender o mundo e acompanhar as noticias, sair com os amigos e se divertir com eles, dedicar-se ao restante da família e, ainda por cima, como se tudo isso não bastasse, criar filhos bonitos, inteligentes, saudáveis e felizes.

A diferença crucial é que as novas mães são sim capazes de assumir não somente que falham, mas também de gritar bem alto pra todo mundo ouvir: não, tudo isso, eu não consigo. E mais, têm a coragem de pensar e verbalizar a frase complexa:

TER FILHOS É DRAMÁTICO.

É claro que não são todas as mães. Eu conheço um monte delas que age como se a maternidade fosse a coisa mais celestial dentre as coisas terrenas. Pessoas, às vezes é. Mas muitas vezes, não é de maneira alguma.

Ter filhos não é só dramático. É monótono, solitário e angustiante. Faz a gente ter vontade de morrer. Faz a gente ter vontade de matar. O filho, inclusive. Faz a gente se perguntar "putz, o que foi que eu fiz da minha droga de vida?". Faz a gente se arrepender e pensar que sem aquela criaturinha pequena, gorducha e chorona, a gente poderia estar num lugar longe e bacana, curtindo a vida adoidado.

É verdade. Mas pouca gente assume. Ou assumia, porque, graças aos deuses, e aos blogs, essa falsidade generalizada anda capengando.

Eu mesma. Por mais que eu sempre tenha pensado tudo isso, eu não lembro de ter dito de maneira clara nenhuma vez. Lendo a matéria eu me dei conta disso. E vim correndo escrever esse post.

Porque entendam. João é tudo na minha vida. E é uma criança altamente bem resolvida, que nunca me deu muito trabalho. Mas eu fiquei grávida aos dezoito anos, de uma cara que não significava muita coisa, e tive que rebolar, rebolar e rebolar pra fazer faculdade, trabalhar, namorar, manter os amigos e cuidar dele. Não, pessoas, não foi fácil, vocês devem imaginar. E teve umas horas demasiado trágicas, em que eu cogitei dar veneno a ele e depois tomar uma dose eu também. Ora bolas, a pessoa surta. Quem não tem filhos não deve ter muita noção, mas a pessoa definitivamente surta. É preciso um bocado de apoio, autocontrole, terapia e (por que não?) remedinhos faixa preta pra agüentar o tranco.

Mas o mais importante é: revelar A Verdade às demais pessoas. Ter filhos é dramático. Não se enganem. Pensem cinco vezes antes de casar. Pensem cinco mil vezes antes de ter filhos. No fim das contas, é uma criaturinha, sem culpa da sua maluquice, que você põe no mundo, e que merece ser bonita, inteligente, saudável e feliz. E você, uma vez que pôs ela no mundo, tem toda responsabilidade sobre isso. E precisa estar pronto pra encarar.

Então, ficamos assim combinados. Não façam filhos sem querer muito isso, certo? Já que a gente não consegue diminuir a infelicidade nesse mundo bandido, pelo menos, vamos evitar aumentar, né?

sexta-feira, 20 de outubro de 2006

Então. ocupações mil + internet ruim de doer + Juca doente = minha pessoa sumida. Foi mal pessoas. Detesto fazer isso. Sumir assim sem mais.

Mas, eis que certas pessoas, somente porque agora têm blog novo, acham-se no direito de cobrar atualização. E eu resolvi atualizar. Não que eu esteja recebendo ordens. Mas era tempo mesmo já.

Deixa eu recapitular.

Dia 5 fui a uma palestra de um japonês _ professor Kunichi _ (falando em francês!) especializado na obra de Artaud, que é um dramaturgo francês doido que eu estou estudando agora, e na de Hijikata, que é um coreógrafo japonês, também doido, que eu também estou estudando agora. Haja abstração. Pras aulas e pra palestra. Fiquem somente sabendo que Artaud foi internado dezenas de vezes em hospitais psiquiátricos ao longo da vida. Que ficou viciado em peyote quando viveu por uns tempos entre os Tarahumaras no México. Que durante uma palestra simulou um ataque de peste. Que escrevia com cocô de mosquito. Hijikata, por sua vez, queria destruir o corpo, porque o corpo não pode simplesmente funcionar, ele tem que ser algo maior. Hijikata propôs colocar uma escada dentro do corpo e descer até o lugar mais profundo pra ver o que encontraríamos lá. Somente. Tem mais. Mas acho que isso chega pra dar uma idéia. Eu amo muito tudo isso.

Dia 8 fui dar uma olhada na Bienal de Arte com Dina. Gostei e tal. Mas tem todas aquelas obras que você vê e se pergunta "o que diabo é isso?" ou "isso é arte?" ou se diz "meu filho de 7 anos faz melhor" ou ainda "eu devia ter ficado em casa". Fora essas obras, tem as que são geniais e que fazem o troço valer a pena. Eu gosto de ler bem muito sobre uma exposição antes de ir ver, porque senão eu não entendo coisa nenhuma mesmo e sinto que perdi meu tempo. Sobre essa Bienal eu li enciclopédias, de tantos que foram os artigos de revistas. E foi bom. Entender as coisas é importante. No mais, foi bom demais rever Dina, jogar conversa fora, rir dos paulistanos modernos com suas roupas excêntricas, passear no parque, tirar fotos sem noção, comer quebra-queixo, beber caipirinha, ficar bêbada e acordar no outro dia com dor de cabeça. Viver é bom. Às vezes enche. Mas às vezes é bom. Eu acho.

Dia 12 teve dia das crianças né? e teve então toda aquela coisa de comprar presente, levar nas festinhas e shows e teatrinhos e brinquedotecas. Ser mãe é padecer, mas não no paraíso. É a ditadura da diversão sem descanso. Enfim. Eu também amo muito tudo isso. Devo logo confessar.

Dia 13. Dia 14. Dia 15. Feriado prolongado. O que acontece? Paulista que é paulista, caipira, assim, do interior, que nem eu, faz o que? Sai correndo pra praia. Foi o que fiz. O que todo mundo fez. E tudo _ as praias, os bares, os restaurantes, as pousadas, os museus, os parques, as estradas _ absolutamente tudo estava absolutamente lotado. Mas né? Que graça teria se fosse assim fácil? Nenhuma. Então pronto. Passei um dia em Santos e dois em São Sebastião e vi umas paisagens lindas de chorar. Sério. De chorar. Se bem que né? Eu chorei vendo Irmão Urso. Então eu não sou parâmetro nesse quesito. Não sou não.

Voltei a ler Norwegian Wood depois de algumas semanas. Que eu tinha parado porque era tanta desgraça na vida das pessoas que eu me revoltei. E o resto foi como eu pensei. Triste, triste, triste. Ô povo besta esse, que lê livros que fazem sofrer. Ainda bem que eu não sou assim. Mas eu preciso falar desse livro com calma. Eu juro e prometo que eu falo. Ah, comecei a ler Obrigado, Jeeves. Presente de Dridri _ meu recomendador oficial de livros cults e obscuros. É meu novo livro do ônibus. Eu falei sobre isso? Não né? Então. Como agora eu passo boa parte da minha semana dentro do ônibus, eu inventei o "livro do ônibus". Bem, é um livro que fica na mochila que eu carrego pra tudo que é canto. Deve ser pequeno e leve, que eu sou fraquinha e não consigo ficar andando por aí com um livro pesado nas costas. E eu leio somente no ônibus. E aposto comigo mesma que eu acabo o livro antes da semana acabar. E eu quase sempre ganho! Rá!

Vendo filminhos bacanas. Preguiça de falar de todos. Mas gostei especialmente de Totalmente Kubrick e A Lula e a Baleia. Chorei com o segundo. Também. Meu estoque de lagrimas é inversamente proporcional ao tamanho do meu estômago. Enfim. Filhos sofrendo me fazem chorar. Batata.

Agora eu vou ali voltar a escrever meu primeiro trabalho a ser entregue. Que era pra ser entregue ontem, quinta! Afe! Hoje, só amanhã. Mas eu consigo. Torçam por mim que eu consigo sim. Depois falo dele somente pra entediar a todos. E depois escrevo mais. Juro e prometo.

ps: fotos da Bienal e de Santos e de São Sebastião, aqui e ali.

segunda-feira, 2 de outubro de 2006

Aí a pessoa foi ver e levar seu próprio filho pra ver a exposição sobre Grande Sertão: Veredas, do Guimarães Rosa, no mais que bacana Museu da Língua Portuguesa.

Aí era uma daquelas exposições modernosas e estilosas, cheia de instalações surpreendentes e originais. E havia fragmentos do texto espalhados por todo o primeiro andar do museu, nas formas mais variadas, e você escalava escadas pra ler frases pintadas nas paredes e no chão, e puxava cordas e pedaços de tecido com frases impressas deslizavam do teto, e era aquela coisa interativa toda e havia ainda a terra do sertão por todos os lados, os sons do sertão ecoando o tempo todo, e de repente a pessoa espiou por um buraquinho na parede feito pra espiar mesmo e viu uma foto aérea de Paris, e por cima da foto estava escrito:

O sertão é em toda parte.

E a pessoa estremeceu e chorou. E procurou um cantinho pra se esconder porque a emoção foi mesmo daquelas violentas.

Porque, percebam. Aquela frase, por cima daquela foto, estava ali pra mim. Estou certa disso. Não tenho a mais ínfima duvida de todas. E como? Me digam. Como não estremecer e chorar? Se era Paris, logo Paris, e eu percebi que o sertão estaria sempre, pra todo O Sempre, em todo e qualquer lugar, porque o sertão que eu conheço, que faz parte de mim sem que eu consiga dele me separar, o sertão onde o meu pai nasceu e onde eu vivi muitas das minhas melhores lembranças, esse sertão, o meu sertão pessoal, intimo e intransferível, está aqui guardado comigo, no lugar mais seguro que existe dentro de mim. E não importa pra onde eu vá nesse mundo pequeno, minúsculo, ridículo, o sertão irá toda vez comigo.

Porque ele é em toda parte.




Ps: como se não fosse suficiente, outra pessoa vem e dedica uma poesia bem feia à minha própria pessoa. decididamente, chamem os bombeiros.

quarta-feira, 20 de setembro de 2006

oi quadrado querido!

mi, era dia de email coletivo sim, mas eu sou uma relapsa e nem escrevi. importante é que eu tou escrevendo agora né? pois.

então, meu fds foi um caso sério. porque fds é tempo de descanso né? mas aí a socialidade né? é uma coisa importante na vida das pessoas. e eu voltei sexta de são paulo, mortinha da silva, às 4 da tarde e às 8 tava na estrada de novo, voltando pra lá, pois sim, que guiom fez amigos novos lá e eles convidaram a gente pra jantar. mas, era de noite, fica ruim de ver as placas e o mapa e a gente se perdeu feio naquela cidade gigante e vimos polícia prendendo bandidos com direito a tiros e tudo, foi uma emoção só. resultado: chegamos tardérrimo no tal jantar, joão tava apavorado, guiom uma pilha e eu um bagaço. daí tentei ser simpática com os amigos novos, claro, que eu achava que eram todos portugueses. mas nem eram. tinha um chileno, um italiano e um polonês e a minha cabeça tava lenta lenta e meu inglês|francês|alemão|espanhol não tava funcionando muito bem. enfim. legais as pessoas, mas não consegui conversar muito. juro que tentei, mas nesse dia não deu.

por causa disso chegamos em casa quase de manhã e eu continuei mortinha da silva o resto do fds. e tinha pilhas de livros e textos pra estudar que os meus trabalhos finais das disciplinas desse semestre estão meio mirabolantes. são três: uma de historia do teatro, outra de crítica cultural e outra de educação-cultura-comunicação-linguagem. pessoas, vocês não têm a menor noção do quanto esse troço é puxado. saca um nível de exigência além das suas capacidades? pois saquem. e ainda tem essa de escrever monografias monstruosas pra cada uma no fim do semestre. problema é: tem uma que acaba semana que vem! e eu tou arrancando metade dos meus cabelinhos. essa que acaba semana que vem foi a aula de hoje; aí a anta que vos escreve inventou de fazer um comentário metido sobre umberto eco na aula e se fudeu (foi mal o palavrão, mas é isso); professor encasquetou que minha própria monografia dessa disciplina vai ser uma viagem qualquer sobre a polarização apocalípticos x integrados. sacam? fudida. totalmente. ler aquele livro indecifrável. e escrever sobre isso. alguém aí me salve por favor.

pra compensar o choque (mulher TEM que compensar o choque né? TEM que), entrei no primeiro brechó que surgiu no meu caminho e comprei três vestidos. tá, eram lindos. tá, eram baratos. mas precisava? não né? mas eu TINHA que. entendem né? eu sei que sim. agora tou com dor na consciência e no bolso, que é bem pior..

e chove. nunca chove nessa terra, mas, quando chove, a pessoa jura que é o dia do juízo final. aí duas semanas atrás foi o dia mais frio do ano, sensação térmica de 3 graus. semana passada fez 40 e agora deve estar nuns 18. e a saúde da pessoa indo pro brejo direto sem escalas que não haá ser humano nessa galáxia que agüente essa palhaçada climática.

falando em saúde, minha ginecologista suspeita que eu esteja com endometriose. por favor, não contem à minha mãe que eu sou filha única e ela é velhinha. mas eu tou com medinho. medo mesmo não, medinho só. e tem as espinhas. que não me abandonam jamais de la vie. e minha dermatologista fala que são os hormônios malucos por causa da possível endometriose e eu fico nessa. já tou no quinto remédio pra acne desse ano. e isso sem contar a parafernália de pílulas e géis e loções e cremes e protetores que eu tenho que passar todo dia o dia todo. pareço uma maluca no banheiro da puc no meu ritual de beleza depois do almoço. é tragicômico.

ah, esse fds eu vi dois filminhos legais: "a máquina" de joão falcão, com mariana ximenes e "querida wendy", com roteiro de lars von trier. gostei de ambos. e tou lendo um livro chamado norwegian wood, mas depois falo dele.

mas assim: cadê isabella hein? zabé? tu tá aqui? favor deixar recado, certo? grata pela preferência.

meninas eu vou indo. combinem o dia da gente se encontrar no msn ok?

beijos a todas!

gio.

ps: eu pensei em postar parte desse email no blog.. post tipo "quebrei minha unha hoje". vocês se incomodam? eu tiro os trechos mais "intimistas" hehehe. sabem como é: inspiração escassa..




precisa comentar? não né? beleza então.

quarta-feira, 6 de setembro de 2006

Tem dias que bate uma nostalgia braba na vida da pessoa.

Don't you cry tonight
I still love you baby
Don't you cry tonight
There's a heaven above you baby
Don't you cry tonight

Como se ouvir essa musica não fosse suficiente, quando acaba a fita (sim, a fita) do Guns você coloca a fita (sim, a fita; outra) da Legião pra tocar.

Todos os dias
Quando acordo
Não tenho mais
O tempo que passou
Mas tenho muito tempo
Temos todo o tempo
Do mundo

É uma situação complexa.

Quando eu tinha treze anos, eu ficava deprê com essas duas musicas. A primeira porque me lembrava de um amor platônico que eu cultivava desde os oito (!) anos com uma perseverança cega que me impressiona até hoje. A segunda porque me fazia pensar no dia em que eu já não poderia mais ingenuamente pensar que eu tinha todo o tempo do mundo porque eu era tão jovem. E as duas juntas ao mesmo tempo agora porque eu tinha certeza (hahaha) de que quando eu fosse gente grande eu não sofreria mais por amor (hahaha).

Quando eu tinha treze anos, eu achava que chegaria um tempo em que os problemas teriam fim. Quando eu tinha treze anos eu era uma grandessíssima tonta.

Acho que ainda sou.

Quando eu tinha treze anos eu sofria desde os oito (!) por conta da total ignorância de Fred com relação à minha pessoa. Pior. Porque se ele efetivamente me ignorasse de todo, eu ainda teria a possibilidade de me apegar à chance de que um dia ele olharia pra mim. Mas não. Ele não efetivamente me ignorava de todo. Ele sabia quem eu era. E ele até gostava de mim e era atencioso e educado. Problema é que eu era a melhor amiga da irmã caçula dele. Problema dos grandes. Eu era filha de grandes amigos dos pais deles e nossas famílias eram da mesma cidade. Ele praticamente me viu nascer. Era esse o problema. Dos grandes. Eu era alguém na vida dele sim. Alguém de certa forma importante. Que merecia respeito e carinho. E só. E eu amava Fred com toda a força do meu coraçãozinho de criança e mais tarde de pré-adolescente. E isso durou dos oito (!) aos treze anos. Sem que eu conseguisse achar graça em outro menino qualquer do universo. E eu vi Fred se apaixonar e azarar e namorar outras meninas. Que pra mim eram as mais felizes e sortudas de todas. Todos eles ¿ Fred e suas namoradinhas ¿ lá em cima no alto de um pedestal onde eu nunca conseguiria chegar.

Um dia eu cresci e Fred teve que morrer pra mim. Teve né? Porque a fila anda. Sempre anda. Tem que andar. Depois a gente se reencontrou e eu namorei um amigo dele e a gente se perdeu de novo e se reencontrou e a mesma coisa um monte de vezes. Aí ele sumiu no mundo. Quer dizer. Eu sempre soube onde ele estava. Que eu sou muito amiga da irmã caçula dele até hoje. Mas ele sumiu da minha vida de vez. Por um longo tempo.

Aí, em julho passado, tou eu perambulando de bar em bar na feirinha de Tambaú em companhia de Brubru e Dridri e com quem eu dou de cara? Pois foi. E essas lembranças todas me vieram à cabeça na hora em que eu vi Fred surgindo no fim da rua. Eu não pude me impedir de abraçá-lo apertado. Depois de perceber o tamanho da afeição que eu sinto por ele até hoje. Trocamos umas frases e depois fomos cada um pra um lado. Mas eu continuei sorrindo pelo resto da noite. Porque eu entendi. O quanto Fred foi importante pra mim. Por mais tonta que eu tenha sido por tanto tempo.

Fred me fez acreditar por anos e anos que chegaria o dia em que eu não mais sofreria por causa de amores contrariados. Me fez acreditar que um dia eu encontraria alguém especial e me apaixonaria e decidiria dividir a vida com essa pessoa e casaria e faria planos.

Bem.

Assim foi. A diferença é que eu achei - eu sempre achei - que nesse dia eu deixaria de sofrer e de me perguntar se era isso e de querer morrer às vezes.

E era tudo mentira. Essas coisas todas nas quais eu acreditei. Que eu deixaria de sofrer e tudo mais. Porque ninguém deixa.

Pelo menos eu acho que não. E eu acho também que se a pessoa deixa de sofrer e de se perguntar se é isso e de querer morrer às vezes é porque a pessoa já morreu e nem notou.

Bonito falar né?

Mas quem foi que disse que é bacana sofrer?

domingo, 20 de agosto de 2006

Eu tenho uma faxineira pra me dar uma mão nos momentos difíceis. É a quinta desde que cheguei em Campinas. As outras eram as quatro filhas dela. Mas não era disso que eu queria falar.

Eu queria falar sobre como as pessoas são incapazes (na maior parte do tempo) de aceitar o non-sense. Ou o unusual (excesso de vocábulos in english por aqui, rã?).

Enfim, dona Josefa, como muitas pessoas que eu conheço, não consegue aceitar os fatos. O fato, na verdade. Somente porque o fato foge ao padrão de normalidade que sabe-a-Deusa-o-por-quê aplicamos aos seres humanos adultos viventes nesse mundo.

Toda vez que dona Josefa vem aqui, ela insiste em levar Schuda do meu quarto pro quarto de João. Sabendo que o lugar de Schuda é deitada no meu travesseiro. Não, vocês não conhecem Schuda.

Então. Schuda é minha ovelha de pelúcia.

Pausa.

Muita calma nessa hora.

Sim. Eu tenho uma ovelha de pelúcia. Sim. O nome dela é Schuda. Mentira. O nome dela é Sudanesa Huda Yohana. Schuda é o apelido. Sim. Minha ovelha de pelúcia tem nome duplo, sobrenome e apelido. Sim. Eu durmo com ela. Sim. Eu passo a noite toda abraçada com ela. Sim. Eu, o marido e a ovelha dividimos a mesma cama. Não. Não pensem obscenidades. Que eu, Guiom e Schuda temos um profundo respeito pelos relacionamentos estabelecidos entre cada dois de nós.

Percebem?

Schuda é fundamental para mim. Amor não se justifica, por isso não vou ficar aqui explicando. Apenas quero esclarecer que eu sou casada, com filho, família grande, amigos numerosos, cachorro querido e coisas estimadas. Sei que sou amada e não me falta um carinho quando preciso. Mesmo assim preciso dormir abraçada com Schuda pra me sentir feliz e em paz.

Problema é: as pessoas não aceitam isso com naturalidade. E ficam querendo me convencer do quanto dormir abraçada com uma ovelha de pelúcia é uma coisa infantil. E ficam querendo me separar de Schuda.

Oras.

Muito bem.

Pode até ser infantil. Afinal eu agora tenho 26 anos. Pois olhem: eu tenho 26 anos, terminei a faculdade e estou no meio de uma especialização. Mas continuo sem saber o que quero ser quando crescer.

Problemas, hein?

domingo, 23 de julho de 2006

Deixa eu ir logo dizendo uma verdade. Marisa Monte é a melhor cantora (e compositora) que eu conheço. Pra mim né? Porque né? Cada um com a sua.

Eu acho que eu amei Marisa desde o momento em que eu ouvi a primeira música. Que foi "Bem que se quis", numa novela global qualquer. E faz tempo isso. E eu era bem novinha que disso eu me recordo.

Mas Marisa não me saiu da cabeça e eu tratei de adquirir todos os cds e decorar todas as canções.

Só que eu sempre tive um carinho especial por músicas que não eram dela mas que ela soube interpretar como ninguém. Os sambas e os chorinhos. E eu me apaixonei por Paulinho da Viola e Pixinguinha por causa de Marisa. Que eu ouvia os dois quando eu era criança por causa do meu pai. Mas a paixão mesmo surgiu por causa de Marisa. E eu pensava comigo mesma que Marisa podia gravar ainda mais sambas e chorinhos. Qual não foi a minha surpresa quando ela lançou os discos novos, e um deles, segundo ela mesma, tinha sido "gravado em uma atmosfera de samba".

Não só um disco de sambas, um disco de sambas escritos por ela.

:)

A piece of heaven..

Bem aqui no meu aparelho de som.



"Tarde, já de manhã cedinho
Quando a névoa toma conta da cidade (..)

E eu já não me sinto só
Tão só, tão só
Com o universo ao meu redor"



Querem saber? Se eu fosse uma música eu seria um samba.

Assim.. eu me considero uma pessoa relativamente roquenrou. Tanto que às vezes eu me pergunto por que eu só falo de roque por aqui. "De bandas gringas que ninguém conhece", como Bruno gosta de dizer. Porque, sério de verdade, eu seria um samba.

Nada de patriotismo, que samba não é o ritmo nacional coisa nenhuma. Samba é coisa de carioca, e o resto do país imita. Mas eu seria um samba. É. Tem muito carioquismo na minha alma sertaneja sim.

Eu seria um samba. Ponto.



"É o Bonde do Dom que me leva
Os anjos que me carregam
Os automóveis que me cercam
Os santos que me projetam
Nas asas do bem desse mundo
Carrego um quintal lá no fundo
A água do mar me bebe
A sede de ti prossegue"



Porque o samba é aquela coisa. Repleta de boemia e melancolia e nostalgia e tristeza e beleza e dor e desgosto e sofrimento e padecimento.

E uma coisa eu aprendi nessa vida. É preciso. É preciso tudo isso. Boemia e melancolia e nostalgia e tristeza e beleza e dor e desgosto e sofrimento e padecimento. É preciso pra gente sentir pelo menos um lampejo de completude de vez em quando.

Que essa estória de céu azul sem nuvens, sol brilhante, mar calmo e brisa fresca todo dia é de uma chatice sem tamanho.

É preciso que haja tempestades. Nuvens negras, raios e trovões, furacões e maremotos.

É preciso chorar, sofrer, padecer. Que essa é a metade obscura da vida. Mas é a metade dela, então não adianta tentar fugir porque ninguém vai conseguir.



"Quando é noite de lua, eu saio pra rua pra meditar
O meu pinho faz tudo pra ver meu canário cantar
No soluçar do vento
No sussurro das folhagens
No gemido dos coqueiros
Pede a ele pra criar coragem
Nem assim o meu canário canta
E da minha garganta um triste gemido sai"



Tá, eu sei. Quando se está feliz, não existe tempo pra pensar que um dia a tristeza vai chegar. Mas eu nunca prometi ser normal. Então eu sempre penso. Mesmo feliz, eu penso na tristeza. Porque a tristeza é uma velha amiga. Que eu conheço bem. E outra. Eu não consigo ser nada aos poucos. Nem feliz nem triste. Eu me jogo, eu já disse isso aqui. Eu já tentei ser diferente. Mas eu não consigo. Eu me jogo. E quando eu me jogo vem tudo ao mesmo tempo. Felicidade e tristeza. Mas eu já acostumei. A vida toda me jogando né? Acostumei sim. É só assim que eu sei viver.



"Coração não tem barreira, não
Desce a ladeira, perde o freio devagar
Eu quero ver cachoeira desabar
Montanha, roleta russa, felicidade
Posso me perder pela cidade
Fazer o circo pegar fogo de verdade
Mas tenho meu canto cativo pra voltar"



Aí depois de ouvir o cd todinho três vezes, eu me peguei perguntando sobre onde fica o amor no meio disso tudo. Porque sem amor não há samba.



"Pois tudo o que se sabe do amor
É que ele gosta muito de mudar
E pode aparecer onde ninguém ousaria supor"




Então Nelson né? Porque depois de um primeiro encontro pouco satisfatório com a obra de Nelson Rodrigues, Bruno proporcionou-me uma emoção intensa e preciosa ao me recomendar (e me emprestar) um trecho de "A Menina Sem Estrela". E eu me emocionei muitíssimo e chorei todas as minhas pitangas com essas memórias de Nelson. Mas depois eu falo mais delas. Que eu queria falar aqui de coisinhas que Nelson disse sobre o amor.



"(..) continuou o meu romance com Lúcia. Pouco a pouco fui dizendo as coisas que são tudo para mim: - 'Todo amor é eterno e, se acaba, não era amor'. E dizia: - 'Quem nunca desejou morrer com o ser amado, não amou, nem sabe o que é amar'. As nossas conversas eram tristes, porque o amor nada tem a ver com a alegria e nada tem a ver com a felicidade."


Querem saber? Eu sempre pensei assim. Certas coisas a gente tem medo de dizer. Principalmente entre amigos que acreditam no amor verdadeiro. Principalmente em público como aqui. Por isso acho que eu nunca disse. Mas é isso. O amor passa longe da felicidade.

Querem saber? Eu não sei se eu sei onde fica o amor no meio disso tudo. Porque essa é uma mania muito besta que a gente tem. Essa de querer saber definir o amor, de querer saber onde ele fica e tudo mais. Melhor deixar o amor quieto. O amor também passa longe da racionalidade. Então não cabem explicações. Ama-se. Ponto. Sem pensar sobre isso. Deixa eu parar de falar de amor de uma vez.

Sim. Eu seria um samba.

segunda-feira, 10 de julho de 2006

Férias né? A pessoa perde total a inspiração pra escrever em seu próprio blog. Uma vez, numa conversa emessênica com Ailton, chegamos à conclusão que o exílio beneficia com a dádiva da melancolia os escritores (Santa pretensão, Batman!). É o caso, I think. Em sua própria terra, rodeada de seus próprios familiares, amigos e agregados queridos, em frente de seu próprio mar preferido, a pessoa tem mais o que fazer. Ou não tem nada pra fazer e fica vagabundando. Que é muitíssimo diferente de escrever ou de ter vontade de e assunto pra. Escrever é coisa de vagabundo. Óquei, I agree. Mas não coisa de vagabundo de férias de frente pra seu próprio mar preferido.

Mas como falta de inspiração pra escrever posts é um assunto demasiado batido, eu não vou ficar divagando sobre isso. Nem vou dar corda pra falta de inspiração que não faz o meu tipo. Vou ficar aqui tagarelando abobrinhas postáveis. Mais minha cara.



Aí sábado eu fui bater ponto no centro histórico pessoense com Lumy. Meio sem muita vontade por causa da chuvinha fina que sempre cai aqui no inverno e que me irrita profundamente. Mas fui. Tou lá numa jornada em busca de uma cerveja quando de repente ouço um grito-pergunta: "Gio?! Eu sou Manu!". Que eu já sabia que Manu era Manu quando eu dei de cara com ela. Foi massa. Não importa quantos anos de internet eu tenha, certos fenômenos sempre me pegam pelo pé como se eu fosse neófita. Esse de conhecer ao vivo pessoas virtuais amigas sempre me emociona. E a gente ficou de conversa mole um tempão. Mas né? Quem me conhece ao vivo sabe o quanto eu sou capaz de falar se me derem espaço. Aí eu nem conversei tudo que eu queria conversar com Manu, mas estou certa de que a gente vai se encontrar de novo. E fico deveras feliz com isso.

Caminhar né? No calçadão. Ao cair da tarde. Assim uma coisa saudável. E comer açaí? Mais ainda. Certo, beleza, tamos aí. Mas as pessoas amigas residentes nesta cidade exageram. Agora é um tal de açaí toda semana e correr e nadar e, afe, jogar vôlei. Como assim pessoas? Zabellicota bem observou, ou teria sido Ailton? Não, eu não tenho cara de quem gosta de jogar vôlei. Nem cara, nem disposição física, nem talento, nem patavina. Mas né? Tudo em nome da sociabilidade. Até ver filmes ruins, só porque Andrei queria porque queria ir ver o danado do filme que a gente já sabia que era ruim no cinema. Até perdoar Bruno porque ele tá no fim do período e só me viu duas vezes. É. Amigos né? Tamos aí.

Tem outras. Mas né? A pessoa divide o computador com os outros milhões de pessoas que dormem sob o mesmo teto dessa casa. Inclusive com sua própria filha-postiça que fica do lado da pessoa enquanto a pessoa escreve pentelhando a hora toda pra pessoa parar de escrever que já escreveu demais que ela quer entrar na internet e atualizar o flog e fuçar o orkut alheio e tagarelar no emessene. Por isso, deixem eu ir nesse momento. Eu juro e prometo - toda vez né? eu juro e prometo nas férias - que depois eu escrevo mais.

quarta-feira, 21 de junho de 2006

Eu tinha combinado comigo mesma que meu próximo post seria alegre e otimista e alto-astral e essa coisa toda. Que nem combina com meu estado de espírito nesse momento da minha vida. Mas né? Eu ia tentar.

E eu me disse: "Então vai ter que postar antes do dia 21 de junho".Que o dia 21 de junho é um dia complexo. Eu realmente pensei nisso uma semana atrás. Mas não deu. Não postei. E o dia 21 de junho chegou. E cá estou eu. E não há no mundo nada mais em que eu consiga pensar hoje a não ser isso.

O dia 21 de junho é o dia da morte do meu pai.

Olhem. Eu detesto isso sabem? Autocomiseração. Autoflagelação. Autovitimização (essa foi boa). Oh deuses todos como sou infeliz e coitada e pobrezinha de mim. Odeio. Muita gente por aí perdeu o pai ou outra pessoa querida e continua em pé. Como eu. Porque é aquela coisa. É preciso continuar o tempo não pára the show must go on. Eu sei. Eu juro e prometo que eu sei bem.

Mas. Cara. Não dá. Você tenta. Você tenta de verdade. Mas não sai da cabeça. Não sai do coração. Dezesseis anos. E continua doendo como se tivesse acontecido ontem. E você começa a escrever ou falar sobre isso no dia de hoje e quando você vê o nó na garganta já tá apertado. E você chora na frente do computador. É um caso de corpo de bombeiros com certeza. Quem foi mesmo que inventou os blogs hein?

Eu não devia postar isso. Mas eu odeio pensar os negócios e escrever e depois jogar fora. Odeio. E infecciona né? Eu acredito que sim. Se você deixa os negócios guardados no fundo do baú que tem dentro do peito. Melhor postar mesmo. Fuck.

Aí eu tentei pensar: "Daqui a pouco você vai pra João Pessoa e isso tudo vai passar". Aí logo depois eu tentei pensar de novo: "Vai ficar lá, com seus amigos e seu cachorro e sua família na casa onde vocês sempre sonharam morar". Certo. Família né? Na casa dos sonhos né? E eu lembrei. O pai né? E o sonho foi sonhado junto com ele. E ele recitava uma poesia de Cecília Meireles (daquele livro. lembram?) que diz assim:


O ultimo andar

No ultimo andar é mais bonito:
Do ultimo andar se vê o mar.
É lá que eu quero morar.

O ultimo andar é muito longe:
Custa-se muito a chegar.
Mas é lá que eu quero morar.

Todo o céu fica a noite inteira
Sobre o ultimo andar.
É lá que eu quero morar.

Quando faz lua, no terraço
Fica todo o luar.
É lá que eu quero morar.

Os passarinhos lá se escondem
Para ninguém os maltratar:
No ultimo andar.

De lá se avista o mundo inteiro:
Tudo parece perto, no ar.
É lá que eu quero morar:

No ultimo andar.


E você adorava essa poesia. E ficava construindo seu castelinho no ultimo andar dentro da cabecinha de criança. Seu castelinho no ultimo andar no Cabo Branco. E o castelinho se concretizou e de lá agora você de fato vê o mar e todo o luar. E os passarinhos e o mundo inteiro. Mas falta né? O pai. Vai faltar sempre. E não há nada que ninguém possa fazer. Nada a fazer a não ser lembrar. E pensar. Pensar e dizer baixinho com você mesma.

É bonito, pai. É muito bonito o nosso ultimo andar.

quarta-feira, 14 de junho de 2006

Alguém disse uma vez que todo dia ao acordar precisamos lembrar de quem somos. Muito bem. Já é quase meio dia. Acordei às seis e meia. E ainda não lembrei quem eu sou. Mas isso não exatamente me angustia. Porque no fim das contas todas né? Eu não sei se eu sei mesmo quem eu sou de verdade.

Houve um tempo em que eu queria avidamente saber. Houve um tempo, esse mais recente, em que eu achei que sabia. Ocorreu uma coisa qualquer, não sei bem o quê, que me fez perder as certezas.

Pensando bem né? De que nos servem as certezas? Inútil ter certezas.

Sempre lembrando que a dúvida é o preço da pureza. Mas isso é outra estória.

Sim. Hoje eu acordei incrédula.

Normalmente eu recitaria Martha Medeiros. Como já fiz aqui uma vez. E diria:



O quarto ainda está crescente
E já venero a lua cheia.

O disco ainda nem foi lançado
E eu já sei a letra de cor.

O sol ainda nem nasceu
E já estou estendida na areia.

Fuzilem-me!
Não há nada em que eu não creia.



Por que essa sou eu. Fuzilem-me. Mas né? Hoje eu acordei incrédula.

Não perguntem o por quê. Hoje eu acordei incrédula. É só.

Alguém aí chame o corpo de bombeiros pra vir me resgatar.

quinta-feira, 1 de junho de 2006

Porque você passou toda sua vida fazendo os planos todos pra quando você fosse arquiteta. E, numa bela sexta-feira - dia 13 de março (como esquecer?) -, você teve a revelação que mudaria tudo para todo O Sempre. Você se deu conta de que você nunca seria arquiteta. Qualquer coisa. Menos arquiteta.

E levou anos pra isso ser digerido. Se é que foi digerido já. Foi há 8 longos anos e isso ainda continua remoendo as entranhas. Mesmo que você nunca mencione. Mas continua remoendo sim.

E você só percebe que continua quando - 8 longos anos depois - você sonha três noites consecutivas com todo aquele processo doloroso de largar do curso e se afastar da turma e desistir do sonho.

Você se formou em jornalismo. Começou a fazer pós-graduação. Nada a ver mais. Arquitetura? Aquilo passou.

Passou coisa nenhuma. Três noites. O mesmo sonho horroroso.

Problemas hein?

terça-feira, 9 de maio de 2006

Porque né ? A pessoa foi ao cinema ver o filme oscarizado. Mas nem comentou aqui sabe lá porque. Aí a pessoa foi fazer comprinhas na Rua 25 de Março - vulgo Portal do Inferno - em Sampa, e avistou o dvd nas barraquinhas dos piratões e lembrou de como foi a experiência de ver o danado do filme e se emocionou.

Percebam a gravidade da situação: a pessoa se emocionou no centro de São Paulo. Como se não bastasse ter se emocionado no parque, em frente ao lago com os patos, e no sebo, em frente à estante com os livros infantis. Os limites todos do bom senso né? Foram para as cucuias de mãos dadas.

Tá. Vamos brincar de situar os leitores. Foi Brokeback Mountain. Quando eu soube do que se tratava o enredo, eu pensei com meus botões: "putz. sofrerei horrores." Eu me conheço bem, leitores amigos. Eu me conheço deveras bem desde longa data. E eu sabia. E foi batata. Eu sofri. Horrores.

Porque assim. Eu tenho isso. Ou issos. O primeiro isso é que eu sou capaz de me emocionar com os patos do lago do parque ou os livros infantis da estante do sebo ou os dvds piratas da barraquinha do camelô. O segundo isso é o negocio dos amores contrariados. Que têm sim cheiro de amêndoas amargas. Como quer Mestre Gabo. Que me seduz e me sufoca. E faz com que eu saia colecionando amores contrariados pela vida afora. Meus e alheios.

Não perguntem o porquê que eu não sei qual é. Só sei disso: eu sempre tive esse fascínio meio macabro por amores contrariados. A ponto de detonar as minhas próprias estórias de amor satisfeito pra me jogar de barriga nas estórias de amor fadadas ao fracasso, ao sofrimento e à dor.

Eu nunca prometi não ser enferma.

Então é isso. Entendem?

Eu sou Jack Twist que sofre porque não pode ter Ennis Del Mar porque ele tem medo de enfrentar o mundo. Eu sou Florentino Ariza que sofre porque não pode ter Fermina Daza porque ela escolheu Juvenal Urbino e não ele. Eu sou Otto que sofre porque não pode ter Anna porque a vida separou os dois tantas vezes que eles, mesmo querendo, não conseguem mais se encontrar. Eu sou Cayetano Delaura que sofre porque não pode ter Sierva María de Todos los Ángeles porque ele é um padre exorcista e ela é uma criança endemoniada. Eu sou Chow Mo-Wan que sofre porque não pode ter Su Li-Zhen Chan porque os dois são casados e é melhor que tudo continue assim. Eu sou Peter Walsh que sofre porque não pode ter Clarissa Dalloway porque ela é uma moça rica que deve fazer um bom casamento. Eu sou Olivier que sofre porque não pode ter Julie porque era o melhor amigo do marido dela e ele morreu e o fantasma dele assombra demais os dois. Eu sou André que sofre porque não pode ter Ana porque eles são irmãos.

Entendem?

Eu sou todos e cada um deles. E não há como não sangrar quando uma estória de amor assim me pega pelo pé. Porque eu preciso ver o sangue pra ter certeza de que ele corre sim nas minhas veias.

Mas eu nunca prometi não ser enferma.

terça-feira, 25 de abril de 2006

Só as reflexões de João salvam a pessoa nos momentos difíceis da vida:


Tu num devia se aperrear porque não tá trabalhando não. Tu num tá estudando? Então? Pelo menos tu agora tem o que fazer da vida, que ficar em casa o dia todo, só cozinhando, arrumando a casa e lavando a roupa não é legal pra ninguém.


Olhe, eu num sei porque o governo num bota mais ônibus pra levar as pessoas. Tem pouco ônibus, aí pronto, tu demora um tempão pra vir me buscar. Sei não, esse governo faz o que, hein? Que nem ônibus direito bota pro povo andar?


Esse negócio de ter casa é muita besteira mesmo. Os bichos não têm casa e vivem muito bem. Quer dizer, alguns até têm, mas só alguns, a maioria vive na natureza mesmo e tá feliz com isso. Mas com as pessoas é uma confusão se não tiver dinheiro pra comprar a casa ou pra pagar aluguel. Aí fica um monte de gente sofrendo, querendo casa, querendo terra, arrumando confusão. Os humanos são muito bestas mesmo. Esse negócio de ter casa só podia ser invenção dos humanos.




A pessoa tem crises existenciais homéricas. E a pessoa realmente sofre com elas. Mas a pessoa se diverte. Com os conselhos de João não tem como, a pessoa se diverte horrores.

terça-feira, 11 de abril de 2006

Só as cartas (sim. cartas. escritas à mão. enviadas pelo correio. como dantes. lembram?) dos amigos salvam a pessoa nos momentos difíceis da vida:



Sem medo algum de exagerar, da pra contar nos dedos de uma mão as cartas que eu já mandei :) Putz, é muito estranho escrever sem backspace...
(Bruno, 9 de fevereiro de 2006)

Outra coisa é que essa caneta maldita falha, acho que deu pra notar. Ela é boa de escrever, mas falha. Tentei escolher uma que não falhasse, mas não deu muito certo. (...) E agora parece que a caneta de repente melhorou. Temperamental, ela. Chinesa também. Deve ter sido fabricada por gente ganhando uma ninharia. Mas tem 'materiais da Alemanha e Suíça', segundo tem escrito aqui. Mas que inútil falar sobre isso.
(Andrei, 15 de fevereiro de 2006)

Como você pode ver, eu nunca soube fazer um 'j' maiúsculo direito. Todos os meus 'j' maiúsculos ficam ridículos, como o de 'João Pessoa', no cabeçalho dessa missiva. Antes, eu até ficava constrangido por não saber fazer um 'j' maiúsculo. Quando eu era evangélico (sim, eu fui evangélico), ficava achando que era pecado não saber escrever o nome do filho de Deus direito; assim, eu até escrevia, claro, mas meu 'j' era ridículo. Eu achava que ia pro inferno só porque não sabia escrever Jesus Cristo de modo bonito; mas isso passou, e hoje uso meu 'j' maiúsculo feio mesmo pra abrir as cartas. Em breve, vou escrever 'Aracaju', e o 'j' vai lá pra última sílaba, de modo que meus problemas com os 'j' serão resolvidos.
(Ailton, 23 de março de 2006)



A pessoa sofre de saudades. Desses doidos e de todo mundo querido que está longe. A pessoa realmente sofre. Mas a pessoa se diverte. Com essas cartas, não tem como, a pessoa se diverte horrores.

sexta-feira, 7 de abril de 2006

Esse não era um blog dado a polêmicas. Mas agora né? Depois da vida amorosa de Kafka e da longevidade dos insetos? Pode tudo gente amiga. Pode sim.



Nas vésperas da Semana Santa, Banco do Brasil promove blasfêmia:
Centro Cultural, no Rio, expõe órgão sexual feito com Terços!
Boa tarde, amigos!
1)
O Centro Cultural Banco do Brasil, do Rio de Janeiro, situado em frente à Igreja da Candelária, no centro histórico, está patrocinando a exposição "Erótica - Os sentidos da Arte", com dinheiro público e de incontáveis cidadãos.
Infelizmente, é uma exposição imoral freqüentada livremente por menores de idade, inclusive por colegiais levados em excursões.
2)
Pior ainda. É uma exposição com conteúdo blasfemo, como a obra "Desenhando com Terços", que usa esse milenar instrumento de oração dos católicos para desenhar um órgão sexual misturado com a cruz.
3)
A referida exposição patrocinada pelo Banco do Brasil é uma ofensa aos milhões de católicos de todo o país. Ainda assim, seus organizadores anunciaram que sua realização irá se prolongar; durante a Semana Santa inclusive.
Sinceramente, fiquei espantado e indignado!
4)
Apesar da gravidade do fato, que me conste, nenhum meio de comunicação fez referência ao conteúdo blasfemo dessa exposição. Por isso, tomei a iniciativa de enviar-lhe este e-mail.
Também estou enviando esta informação às autoridades religiosas do Rio de Janeiro e do Brasil inteiro, às autoridades civis, federais e estaduais, aos meios de comunicação e às autoridades do Banco do Brasil.
5)
Até quando continuará essa ofensa gratuita à fé cristã da grande maioria dos brasileiros?
Infelizmente, este fato não é isolado e, quem sabe, faz parte de uma onda de blasfêmias anticristãs que percorre o mundo, incluindo o livro "O Código da Vinci".
6)
Estão, a seguir, o telefone e o e-mail do curador do Centro Cultural do Banco do Brasil, Sr. Tadeu Chiarelli, os links do site do Banco do Brasil nos quais aqueles que desejarem poderão deixar seu protesto; e o link para o site Blasfêmia Não!
7)
Por favor, se você também está indignado e cansado do silêncio diante da ridicularização pública da fé católica, reenvie esta mensagem a seus amigos e familiares, e cobre das autoridades religiosas e civis medidas para fazer cessar esta ofensa gratuita.
Muito obrigado, e que a Providência o recompense pelo seu interesse nesta iniciativa em prol do Brasil.
Atenciosamente,
Sérgio Luiz Ferreira Passos, estudante
Instituto de Psicologia
Centro de Filosofia e Ciências Humanas
Universidade Federal do Rio de Janeiro
LINKS DE PARTICIPAÇÃO E OPINIÃO:
a) Para enviar directamente e-mail de reclamação ou sugestão ao Centro Cultural do Banco do Brasil no Rio, clique em:
BancoDoBrasil:MeuProtestoPelaBlasfemia
b) Para escrever mensagem de reclamação ou sugestão à Ouvidoria do Banco do Brasil, no site do Banco, clique no seguinte link:
https://www16.bancodobrasil.com.br/appbb/portal/fs/rsp/ouvidoria/index.jsp?site=ouvidoria&tipo=02
c) Telefone gratuito da Ouvidoria do Banco do Brasil: 0800 729-5678
d) Telefone do Curador do Centro Cultural do Banco do Brasil no Rio, Sr. Tadeu Chiarelli: (21) 3808-2020
Endereço do Centro Cultural do BB: Rua Primeiro de Março 66. Centro
e) Link do Blog Blasfêmia Não!
http://blasfemianao.tripod.com/blog/





Então eu poderia me perguntar de onde esse cidadão descolou meu email. Mas nem é preciso que eu desconfio.

E não. Eu não vou entrar no mérito da questão. Por que vocês sabem. Quer dizer. Alguns sabem. Pois eu digo pra todo mundo saber logo de uma vez: eu não falo de religião. Muito menos da minha. Pra dar uma noção da coisa: falar da minha religião pra mim é como falar da minha vida sexual atual. Falo de jeito nenhum. Nem amarrada. Nem perguntem que não adianta.

E não. De novo. Eu não sou cristã. Mas assim. Nada contra. Aquela coisa toda.

O ponto é: isso não lembra uma coisa a vocês? Tipo umas certas charges de um certo profeta? E o drama todo que foi o negócio?

Não vou dizer aqui que as pessoas têm liberdade de expressão nesse país e que vivemos numa democracia. Eu poderia dizer. Mas não vou dizer. Não precisa. Vocês poderiam rebater dizendo que a minha liberdade termina onde começa a de vocês. Vocês poderiam rebater. Mas não vão rebater. Não precisa. Ninguém aqui é ingênuo, certo? Portanto vamos evitar a repetição desnecessária de argumentos há muito mastigados e digeridos.

Continuando: mas não dá a impressão de que todo mundo fica cada vez mais intolerante? Mais neurótico? Mais histérico?

Pra mim dá. E disso eu tenho medo. Muito medo.

segunda-feira, 3 de abril de 2006

Jorge Luis Borges escreveu certa vez sobre Franz Kafka :

..(o tema de Kafka) "é a insuportável e trágica solidão de quem carece de um lugar, por humilíssimo que seja, na ordem do universo."
("Nosso pobre individualismo" em "Outras Inquisições")

Daí eu me pergunto: que lugar na ordem do universo pode ter Gregor Samsa? Que outra coisa, além de uma insuportável e trágica solidão, pode carregar um inseto monstruoso? Ou qualquer um, que seja diferente, estranho, alheio, inadequado? O que pode haver, nesse mundo mesquinho e perverso, para aqueles que, sem saberem porque, saíram diferentes do padrão? O quê? Além de solidão?

segunda-feira, 27 de março de 2006

Sebos. Grandes. Baratos. Aqueles lugares que a gente ama. Catar sebos sempre foi uma das minhas atividades preferidas. Lazer mesmo. Agora é uma necessidade básica. Vocês num tem noção não. Do tanto de livros que a pessoa tem que ler. Não apenas textos e fragmentos de textos xerocados. Livros inteiros. E romances. E filmes. Dos mais cults de todos. Daqueles sabe? Que nem tem nem em dvd nem em vhs pra alugar? Os mais raríssimos de todos? Então. Esses. E cadê o tempo livre do qual a pessoa reclamava dantes? Sumiu. Todinho de uma vez só.

Aí né? Sexta passada lá vou eu pro meu sebo mais querido. Com João né? Meu carrapato de estimação. Aí tou eu lá nos livros de comunicação e João me chama pra pegar qualquer coisa no alto de uma estante de livros infantis. Quando chego na frente da tal estante, dou de cara com "Ou isto ou aquilo" de Cecília Meireles.

Susto. Sorriso. Olhinhos brilhantes.

Pausa pra explicação.

Eu realmente amava esse livro. Ele faz parte das minhas lembranças infantis mais legais. Quando eu cresci um pouquinho ele sumiu da minha casa. O buraco negro engoliu. Na casa de vocês tem um buraco negro que engole as coisas? Tipo ninguém sabe ninguém viu? Na minha tem. Quer dizer. Na minha casa de João Pessoa. Aí ele deu cria e agora minha casa de Campinas também tem. Seu próprio e exclusivo buraco negro. Enfim. Eu deixei de ter o livro por causa do citado buraco negro. Aí aos 17 anos eu conheci Lumy e ela tinha o livro também e ele também fazia parte das lembranças infantis mais legais dela. E eu gostei dela de cara também por causa disso. E quando a gente soube que João ia ser um menino (e eu passava por um momento bem complicado nessa época), ela me deu um cartão com a "Cantiga da babá" escrita. E eu me comovi horrores e chorei. Porque a vida tem desses momentos não é? Em que a gente sente a beleza mais pura pairando no ar ao nosso redor.



Cantiga da babá


Eu queria pentear o menino
como os anjinhos de caracóis.
Mas ele quer cortar o cabelo,
porque é pescador e precisa de anzóis.

Eu queria calçar o menino
com umas botinhas de cetim.
Mas ele diz que agora é sapinho
e mora nas águas do jardim.

Eu queria dar ao menino
umas asinhas de arame e algodão.
Mas ele diz que não pode ser anjo,
pois todos já sabem que ele é índio e leão.

(Este menino está sempre brincando,
dizendo-me coisas assim.
Mas eu bem sei que ele é um anjo escondido,
Um anjo que troça de mim.)




Então eu comprei o livro pra João. Pra mim né? Que vocês entenderam. O que não quer dizer que João não tenha gostado porque ele adorou. E eu passei o final de semana todo lendo as poesias todas. Pra João e pra mim mesma. E deixei tudo o mais que eu tinha pra ler um pouco de lado. Só pra saborear minha infância de novo. Aos poucos e um pouco mais. E eu sei que eu vou abusar da paciência de todo mundo. Porque eu vou postar mais umas delicias desse livro por aqui. Que eu preciso dividir isso com vocês.

sexta-feira, 24 de março de 2006

Quem, de três milênios,
Não é capaz de se dar conta
Vive na ignorância, na sombra
À mercê dos dias, do tempo.

Johann Wolfgang von Goethe


Porque já não somos mais crianças há um bom tempo. E porque nesse pequeno mundo em que vivemos não há mais lugar para ingenuidades.

terça-feira, 14 de março de 2006

Sim, sim. Eu vou contar. Nem sei se vocês querem saber. Mas vou contar mesmo assim.

Então. Quarta-feira passada começaram minhas aulas na especialização. O negocio marromenos foi que, como eu demorei a fazer a matrícula, não pude pegar todas as disciplinas de jornalismo cultural, que é a minha área mesmo. Acabei pegando uma de cultural, uma de social e uma de educação, porque as outras de cultural estavam lotadas. Mas isso até que foi legal. Apesar de eu ter me voltado pra cultura agora, as duas disciplinas que eu peguei meio a contragosto (a de social e a de educação) têm tudo a ver com coisas que me interessam, que eu já estudei ou com as quais já trabalhei. As aulas foram boas, os textos e a bibliografia no geral são interessantes, os professores sabem do que estão falando, e as pessoas.. bem, as pessoas né? As pessoas são como sempre são as pessoas. Umas chatas de doer. Outras muito bacanas. E eu juro e prometo que estou tentando não ser preconceituosa nem turn on o modo bicho-do-mato, que é minha postura social normal por aqui. Só por aqui hein? Em João Pessoa vocês sabem como eu sou.

Mas tem nem graça ficar falando que foi lindo que foi legal que o mundo é perfeito e que todas as pessoas são felizes. No primeiro dia eu fui às 5 horas e 20 minutos esperar o ônibus e mesmo assim perdi o dito cujo. Porque esperei no lugar errado. E tive que pegar uma carona com outro motorista que se apiedou de mim e correu pra pegar meu ônibus no meio do caminho. Pensem numa vergonha grande. E eu me perdi né? Que todo mundo já sabia que isso ia acontecer. Duas vezes. E fiquei com medo do tumulto que é pegar o metrô na Praça da Sé. Vocês num tem noção não. Do tumulto. Tem até a policia, caso o tumulto se complique. É realmente um negocio assustador. Depois de anos dentro do metrô, depois do tumulto todinho, eu chego no terminal rodoviário e pego o ônibus pra Campinas. É uma alegria. Eu ouço musiquinhas e como biscoitinhos e durmo sonequinhas. Uma vez na rodoviária de Campinas eu percebo a cruel realidade: ainda tenho que pegar mais dois ônibus e andar mais uns quilômetros até sentar no meu sofá e botar as pernas pra cima. Sem esquecer que da Puc pra estação de metrô são mais uns quilômetros. E que eu tenho que trocar de linha pra chegar no terminal Tietê. Na Sé, aquele inferno. Ninguém merece minha gente. Quilômetros de caminhada + dois metrôs lotados + três ônibus vagarosos + outros quilômetros de caminhada = um bagaço de gente. Mas não desligue ainda. Que eu tenho que ir buscar João na casa da amiga dele. Igualmente de ônibus. E ajudar a fazer a lição de casa. E a roupa suja e a louça pra lavar e a comida pra fazer e o chão pra varrer e tudo mais que não precisa ser citado. É a Odisséia ela mesma em pessoa na vida do serumano. E a minha cama nunca foi um lugar tão agradável viu? Creiam em mim.

Eu ia falar de outras coisas. Aquelas coisas. Livros e filmes e musicas. Mas eu realmente preciso ir agora. Que de repente meu tempo encurtou de uma maneira inacreditável. E há coisas a serem resolvidas. Porque há mais coisas para contar. Várias. Creiam em mim. Não. Minha vida não é uma sitcom. Mas bem que poderia ser.

quinta-feira, 2 de março de 2006

Retalhos descosturados.

Porque né? É deles que é feita essa vida.



João é uma criança precocemente nostálgica.

- Eu vou guardar esse desenho do King Kong destruindo a cidade pra sempre. Que é pra quando eu crescer eu lembrar da minha infância.



Da série "Os absurdos que a gente vê por aí"

No Pão de Açúcar: café caríssimo e chiquérrimo importado da Itália. Mas e os grãos, vieram de onde mesmo? Do Brasil, obviamente. E tem gente que compra isso. Esse povo tem vergonha na cara não?




No afã da perseguição ao peixe, Lapkin, em vez do peixe, agarrou sem querer a mão de Ana Semiônovna, sem querer apertou-a aos lábios... Ela puxou a mão, mas já era tarde: os lábios sem querer se confundiram num beijo. Tudo isso aconteceu assim, sem querer. Depois do beijo, veio outro beijo, depois juras, protestos... Felizes momentos! Entretanto, nesta vida terrena não existe nada inteiramente feliz. A felicidade costuma trazer veneno em si mesma, ou é envenenada por algo externo. Assim foi também desta vez. Quando os dois jovens se beijavam, de repente ouviu-se uma risada.

(em Menino Malvado, de Anton P. Tchekov)

Porque né?
Vocês sabem?
Se existe?
A tal da felicidade?
Quando é que ela chega?
Alguém vem avisar que chegou?
E se não vem?
Como é que a gente sabe?
Se é feliz ou não?
Nessa vida?
Hein?

Demasiado complexo esse troço de ser feliz.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2006

Ser gente grande é um negocio difícil.

Você pensa que o pior são as contas pra pagar.

Até que um dia você descobre que não importa o esforço que você faça. Você tem o filho e a mãe e a memória do pai e o cônjuge e a sua identidade secreta. A família grande e os amigos numerosos. E o cão e a casa e as coisas.

Mesmo assim você esta só. Completa e irremediavelmente só.

É, sem duvida, um negocio difícil.



Dois dias atrás eu tive uma cólica menstrual inacreditável. Pra dar uma idéia da coisa: eu tenho cólica desde os doze anos. Pra dar uma idéia da coisa: eu já fui pro hospital varias vezes por causa da cólica. Pra dar uma idéia da coisa: eu tive um filho e a cólica nunca passou. Pra dar uma idéia da coisa: eu tive um trabalho de parto que durou seis horas e a dor não foi maior do que as minhas cólicas mais cabeludas. Portanto percebam. A cólica de dois dias atrás pode ser considerada bastante cabeluda na minha escala de cabelosidade das cólicas. Sim, e o que há de novo? Eu respondo rápido: eu nunca senti uma cólica tão bastante cabeluda estando tão completa e irremediavelmente só nesse pequeno mundo. Sim, eu liguei pras pessoas. E planejei ligar pra mais pessoas. Pras pessoas mais importantes de todas e que talvez quem sabe quiçá poderiam me ajudar com uma palavra de conforto visto que nenhuma delas se encontrava exatamente na cidade de Campinas no momento. Mas, nada. Nenhuma palavra de conforto, por razões variadas. Sim, eu pensei em chamar um vizinho. Mas, nada. Nenhum em casa, por razões variadas. O que não faria diferença nenhuma (eles estarem em casa) porque nenhum deles é exatamente meu amigo. Eu pensei em ir pro hospital, mas nem dirigir eu conseguia. Eu pensei em chamar um táxi, mas desmaiei de sono antes de chegar perto do telefone. Percebam a quantidade de remédios que eu tomei pra ter desmaiado de sono de repente. Sim, eu chorei. Fazia um tempo desde a ultima vez que eu tinha chorado tanto. Mas o pior, o pior mesmo foi que eu não chorei somente de dor.

Eu chorei de solidão.



Ser gente grande é, sem duvida, um negocio difícil. Longe de casa então, deixa isso quieto.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2006

Um post nos moldes antigos, pra variar da variação.



Nossa vida campineira segue no seu passo arrastado. A especialização só começa em março, o que significa que eu estou de molho ainda. Guiom volta e meia fica ainda mais cansado do trabalho e do Brasil e dos brasileiros, mas até mesmo isso é normal aqui em casa. João peleja pra acostumar com o ritmo da primeira série, com suas lições de casa diárias e visitas ao parque escassas. Nossa vida campineira segue enfim.



Ontem voltei a caminhar no parque dos patos. Não, é claro que o parque tem um nome e tal, mas João né? Batizou o parque de "dos patos" e pronto, ficou. Engraçado é que eu esqueço e falo pras pessoas: "lá no parque dos patos" e as pessoas "onde?". Mas não era isso que ia falar. Eu ia falar que voltar a caminhar no parque dos patos é uma coisa realmente ótima pra minha pessoa. Quando voltei a fazer yoga no ano passado eu parei de caminhar. Tá bom, eu confesso: fiquei com medo de emagrecer. Isso mesmo: medo de emagrecer ainda mais. Quem me conhece sabe o palito que eu sou, o tiquinho que eu como e a minha gigantesca dificuldade pra conseguir ganhar umas gramas a mais. Mas não era isso que eu ia falar, cada vez mais repetitiva minha pessoa se torna. Eu ia falar que caminhar é uma coisa realmente ótima porque me faz muito bem; que grande novidade isso, claro que caminhar faz bem pra qualquer um, mas não era isso coisetal. Eu me sinto mesmo muito em casa naquele parque, eu me sinto mesmo muito tranqüila à sombra daquelas árvores, eu me sinto mesmo muito em paz olhando aquele laguinho de águas paradas. E eu sou mesmo muito impressionável. Fiquei lá caminhando e ouvindo Adriana Calcanhoto dizer que "transito entre dois lados de um lado, eu gosto de opostos, exponho meu modo, me mostro, eu canto para quem?" e chorei. Sério. Chorei em plena manhã de terça-feira em pleno parque repleto de pessoas. Chorei enquanto caminhava à sombra das árvores e olhava o laguinho de águas paradas. Chorei enfim. Problemas hein?



Conforme vocês podem deduzir do parágrafo anterior, eu ando ouvindo Adriana Calcanhoto bem muito. Nada de novo no front, só os velhos sucessos mesmo. Que essa criatura me emociona deveras. Modos que eu preciso ouvi-la quando fico sensível. Aí pronto. Dana-se tudo. Que eu fico ainda mais sensível. Conforme vocês podem deduzir do parágrafo anterior. Porque assim, eu também "faço longas cartas pra ninguém"; eu também "perco o chão, eu não acho as palavras"; eu também "tenho por principio nunca fechar portas"; eu também muitas coisas mais. Mas xeu parar por aqui que a situação tá ficando complicada.



Aí eu finalmente vi On Connaît la Chanson (o nome em português é "Amores Parisienses" bleh) que é super antigo e eu era doida pra ver porque eu amo de coração Agnes Jaoui. E era um musical. E eu sabia. E eu desprezo musicais. E eu gostei mesmo assim. Que nem era um musical como os outros e era muito mais divertido. O que não significa que o filme era uma comédia. Se vocês forem catar ele por aí vão dizer que é uma comédia. Mas, creiam em mim que eu sei do que eu falo. Não esperem dar deliciosas gargalhadas nem muito menos derramar um sofrido pranto. É um filme francês minha gente. É blasé, altamente blasé. Como filmes franceses no geral. Aliás, se vocês não costumam gostar de ou se identificar com ou qualquer coisa + filmes franceses, não vejam, que não vai rolar. Filme francês é meio como religião: ou a pessoa abraça ou então não rola de jeito nenhum. Só um lembrete, especialmente destinado a Bruno: Jaoui é a diretora de Le Goûts des Autres, que também não é exatamente uma comédia. Enfim, preciso refazer o discurso não. Então pronto, pra quem viu esse filme, não é preciso dizer mais nada.



Lendo Tchekov de Janet Malcolm. E gostanto horrores. O livro é assim: "Uma viagem à vida do escritor" + "37 contos traduzidos do russo" por Tatiana Belinky. Eu ainda não cheguei nos contos e já me apaixonei por Anton Pavlovitch Tchekov. E eu nem sou chegada a biografias. Mas essa me pegou pelo pé. Não que Tchekov tenha tido uma vida excepcional. Justamente por isso. Ele não era nada persona, como a maioria dos artistas. Não tinha uma vida dificílima de alcoólatra falido e exilado como Dostoiévski, nem era um profeta com apelo de celebridade internacional como Tolstói. Era uma pessoa totalmente comum. Pra um cara que aos vinte e poucos anos foi considerado um dos maiores escritores russos de todos os tempos ser uma pessoa comum é bastante coisa. E vamos aqui combinar que ser uma pessoa comum muitas vezes é o que há. Esse é um dos casos.


Ainda em "Lendo Tchekov" mas nada a ver com ele: em determinado momento, Malcolm descreve uma refeição que ela fez em Yalta, uma decadente cidade ucraniana.

Sempre fico sensibilizada com comida simples, bem preparada; com a idéia de que uma pessoa estranha que nunca vou encontrar se deu ao trabalho de cuidar do meu jantar, cozinhando-o com perfeição e arrumando-o com elegância num prato. Sinto como se algo amistoso e generoso estivesse sendo irradiado na minha direção. E, inversamente, sinto algo mal-intencionado e agressiva na comida pretensiosa e descuidada servida nos hotéis. E mesmo os pratos elegantes e rigorosamente preparados dos bons restaurantes muitas vezes fazem com que eu me sinta consciente do egocentrismo dos seus realizadores: estão fazendo aquilo por amor à arte, não por mim.

Eu sinto isso também. Sempre senti e sempre achei que era meio maluquice minha sentir. Foi engraçado ler alguém falando exatamente o que eu falo pra mim mesma (e não pros outros, pra ninguém achar que é maluquice minha). O fato é que ontem fomos jantar num restaurante francês muito bacana. Bacana e com comida preparada "por amor à arte", o que não quer dizer que o chef era egocêntrico ou qualquer coisa. Eu gosto de lá em geral, comida, decoração, vinhos, atendimento. Mas ontem não pude deixar de notar que meu lindo prato - que era truta e tinha um nome francês complicadíssimo - era mais lindo do que gostoso.

Mas então a gente entra noutra estória que eu queria discutir. Algumas semanas atrás eu pensei em começar a falar de comidas e bebidas aqui, porque comer e beber bem são coisas que realmente me interessam e me fazem feliz e me dão margem pra falar bastante. Aí Bruno (esse post falando dele direto, sei não; vai ficar se achando), sempre ele - minha consciência bloguística, disse que falar disso era coisa de "gente refinada", o que pra mim soou como "gente metida". E eu, óbvio, fiquei cabreira com isso. E nem falei nem nada. E fiquei me perguntando se devia ou não falar. Uma dúvida-martelo em meu cérebro crepita e a alma se agita aflita, disse certa vez Chico César. Então isso vai ser uma pesquisa, certo? Querendo, manifestem-se que eu gostarei de ouvir opiniões. Não querendo, calem-se para sempre. Ei, esse final era brincadeira viu?

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2006

Eu poderia copiar Ju e Laura sem parar. Não faço isso porque seria feio e sem graça. Mas isso eu não pude deixar passar de jeito nenhum:


Antes tarde do que mais tarde, nossa adesão à campanha:

"Namore uma mãe solteira"

Diretrizes básicas:
1) Nós não temos pressa de casar, porque já temos filho
2) Nós não temos pressa de ter filho, porque já temos filho
3) Nós não temos tempo de grudar no seu pé, porque já temos filho
4) Se você quiser ter um filho, tudo bem, porque já temos filho
5) Se você não quiser ter filho, tudo bem também, porque nós já temos filho

: : Laura, mãe casadíssima, mas sabe-se lá... : :


Porque né? A maioria de vocês sabe, mas nem todos. Eu fui mãe solteira por um tempo considerável. E, creiam em mim, é chato. Assim, não chato de todo, tem seu lado bom, você cria seu filho como bem entende, coisa e tal. Mas nesse aspecto sentimental é chato. Não tenho como mostrar estatísticas aqui, mas estou certa de que perdi alguns muitos pretês (pretendentes, entendam, é que esse vocabulário made in 2 Neurônio me sobe à cabeça às vezes) devido ao fato de eu ser mãe solteira. Que eu era (ainda sou) logo franca e ia já dizendo: "olhe só, rapais, eu tenho em filho, certo?" Então você, leitor amigo, me diz: "mas se o cara gostar mesmo de você, não é isso que vai fazer ele desistir". Claro, concordo total, tanto é que eu namorei pessoas e até casei com meu próprio marido mesmo tendo João. Mas não venham me dizer que ter um filho não atrapalha que isso é ilusão. Atrapalha sim. Então por isso eu estou publicamente aderindo à campanha. E vou daqui a pouco pedir a Fefê o botão legal demais que tem no blog dela e vou botar ele pra piscar aqui também. Porque por trás de uma mãe solteira também bate um coração. E é um coração de mãe minha gente. Tem coisa mais sensível? Então. Recado dado. Especialmente aos meus amigos homens-em-busca-de-um-chinelo-velho-para-seu-pé-cansado. E vocês, mães solteiras de todo o mundo, saibam que têm em mim uma grande aliada.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2006

E eu acabei nem contando os planos pra 2006. Por que eu não tinha (e eu tenho agora?) certeza de nada e não é legal ficar falando das coisas que você espera que aconteçam bem antes delas aconteceram veramente e tal que vocês me entenderam.

Então.

Geraldo Vandré era um rapaz esperto.

Esperar não é saber.

Não é não.

Paciência e canja de galinha e pouco dinheiro no bolso. Não faz mal a ninguém e todo mundo devia adotar como dieta. Concordo e assino embaixo.

Mesmo assim.

Ninguém nesse mundo pequeno deveria entregar a própria vida nas mãos da espera.

Ano passado foi um ano de espera pra mim. Não foi o primeiro. Não vai ser o ultimo.

Mas eu fiz um pacto comigo mesma. Esse ano muitas coisas vão mudar. O bom é que quase todas as mudanças que eu tenho em mente dependem quase que exclusivamente da minha pessoa. Nada de planos mirabolantes. Somente coisas fora do lugar. E todo mundo precisa de uma faxina em sua vida de vez em quando.

Continuando.

Eu fiz planejamentos. Detalhados. E decidi expandir meus horizontes. Muito. Mesmo. Sério.

Mas eu nem vou ficar aqui falando de tudo que eu já ouço os bocejos de vocês.

Então.

Tudo isso pra dizer que eu consegui entrar na especialização em Jornalismo Cultural da PUC. Nem foi uma seleção tão rígida assim como eu imaginei. E nem era isso exatamente que eu queria fazer dentro de Comunicação Social.

Mas né? Aconteceu isso e foi realmente muito legal. Eu achei.

A parte complexa da estória: é em São Paulo.

Aí começa outra estória. A que eu não queria contar. Mas que eu vou contar só uma parte.

A gente decidiu que nossa meta na vida agora é mudar de Campinas pra São Paulo.

Não vai ser assim tirar chupeta da boca de um bebê mas não é inviável total. Estamos mexendo os palitinhos todos. Com bastante fé. Cruzem os dedos todos aí por mim oquei? Pois.

Aí como a vida é mesmo uma piada - logo nesse momento de transição e quebra total de todos os paradigmas - a gente começa a conhecer pessoas legais aqui e ter uma vida social razoável.

Mas né? A vida é mesmo uma piada. E a gente nunca se satisfaz. Jamais de la vie a gente se satisfaz com nothing at all. Enfim.

E o mundo continua girando. Mesmo pequeno. Girando. Como sempre. Indiferente ao drama de cada um. Pensando bem.. melhor assim.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2006

Esse blog anda musical demais nesses últimos tempos. Mas enfim né?


Aí você põe Sons and Daughters pra ouvir no ultimo volume.

Just dance me in
Just dance me in
Just dance me in


E tem vontade de sair dançando pela casa.

Beleza. Você sai.

Depois você tem vontade de olhar o seu The One nos olhos e dizer pra ele:

Yeah baby. Just dance me in.

Mas você logo lembra que o seu The One esta relativamente longe nesse momento.

Tédio. Puro tédio. :/

(Por que será que as pessoas importantes na nossa vida não estão sempre à mão quando precisamos delas?)

O que você faz nesse momento de agonia?
Chora?
Arranca os cabelos?
Arremessa a louça toda na parede?

Nada disso.

Você faz que nem eu.

Enche um pote com tangerinas e senta na soleira da porta da frente. Come tudinho devagar, bago por bago, cuspindo os caroços no canteiro onde um dia, quiçá, você plantará uma arvore.

Quem sabe assim não nasce uma agora?

Morar no interior tem dessas coisas boas.. ;)

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2006

Prometi né ? Então, tou cumprindo.

Só que eu vou falar da viagem de volta pra Campinas. Que as demais viagens de começo de ano foram longas e a minha pessoa anda com preguiça em demasia nos últimos tempos.

Então foi assim: sexta à noite eu e João deixamos a Terrinha. Calculem aí o drama todo. Superadas as lágrimas, as náuseas, as turbulências e demais chateações, chegamos vivos em São Paulo no sábado de manhã. Aproveitando que a gente estava lá mesmo, fomos ver a exposição "Dinos na Oca" no Parque do Ibirapuera. Assim, é massa. Principalmente se você tem uma criança fissurada por dinossauros e bichos do tipo em casa. Os esqueletos e pegadas e rochas e a coisa toda. Mas é bem caro, eu achei. E podia ser mais caprichada; a iluminação, os cenários e tudo mais. Mas tudo bem, eu sou meio metida a exigente, então não me tomem como parâmetro.

Voltamos pra Campinas na hora do almoço e todos nós capotamos, obviamente, que ninguém agüenta tantas horas de sonhos bizarros.


Além da exposição, bem poucas coisas dignas de nota nesse fim-de-semana: domingo é aquele mundialmente conhecido Dia de Fnac, que, obviamente, estava lotada, pois há bem poucas coisas dignas de serem feitas por essas bandas. Enfim, prosseguindo: João ficou lá, todo feliz, entretido com a contadora de estórias, e eu lá, toda feliz também, entretida com Tchekov. Pausa para explicação necessária: eu entrei há uns dois meses numa espécie de russian trip. Então você, leitor amigo, me pergunta: mas que raios é isso, criatura? Então, é uma neurose nova que eu inventei; ando tentando ser uma leitora disciplinada (Luis Carlos, meu ideal é você, querido); aí com isso eu decidi ler os russos; não os russos assim simplesmente, os russos clássicos traduzidos pela primeira vez para o português, numa ordem cuja lógica que só quem entende sou eu mesma. Li Pais e Filhos (herança do meu pai) e Ássia (presente de Andrei) de Turgueniev e gostei de ambos. Trechinhos, que postar trechinhos é o que há:


- Penso, deitado aqui à sombra deste monte de feno... O lugar insignificante que ocupo é tão minúsculo em comparação com o resto do espaço, onde não estou e onde ninguém se importa comigo! A parcela do tempo que hei de viver é tão ridícula em face da eternidade, onde nunca estive nem estarei... Neste átomo, neste ponto matemático, o sangue circula, o cérebro trabalha e quer alguma coisa... Que estupidez! Que inutilidade!

(é Bazarov falando, o niilista que é o personagem principal de Pais e Filhos; alias, foi nesse livro que o niilismo foi definido pela primeira vez)

A felicidade não conhece o amanhã; nem mesmo o ontem; não se lembra do passado nem lembra do futuro; ela tem o presente - ainda assim, não um dia, mas um átimo.

(esse é um trecho de Ássia, é o narrador falando, o Sr. N.)

Então, Tchekov é meu próximo alvo. Ainda não tenho nenhum livro dele e me delicio com as possibilidades de escolha. Sugestões são bem-vindas, certo?

Então, de novo, problema é que o negocio descamba pra outros lados diferentes da literatura. Todos os lados imagináveis. A Rússia, em todos os aspectos, é uma coisa que me interessa bastante esses dias. É uma trip só, daqui a pouco passa. Mas por enquanto vocês vão ouvir falar um bocado desse assunto por aqui.


Eu tinha me dito que ia falar de um monte de coisas ao mesmo tempo agora, pra relembrar os velhos tempos desse blog. Mas vou fazer isso não. Tou numa fase quebra total de todos os paradigmas. Por isso esse post termina aqui. Mas eu estou certa de que eu volto logo.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2006

Três horas para ir embora. Não há muito a dizer.


We like giving anything away
I can say it's by the sea
It's a house that used to be
The home of a friendly mind

We like giving anything away
We find ships inside of bottles
When the garden's overgrown
The house is white, but the paint is coming off

I didn't know if you wanted to
But I came to pick you up
You didn't even hesitate
And now you and me are on our way
I think I've bought everything we need
Don't look back, don't think of the
All the places we should've been
It's a good thing that you came along with me

Gold in the air of summer
You'll shine like gold in the air of summer
You'll shine like gold in the air of summer
You'll shine like gold in the air of summer



Agora é esperar o choro parar de rolar solto. E segurar a saudade. Sabe lá se eu vou conseguir.

terça-feira, 24 de janeiro de 2006

Agora faz bastante tempo. Disso eu sei.

E eu disse que iria descrever as viagens e tudo mais com riqueza de detalhes. Disso eu também sei.

Mas a preguiça reina soberana e invencível, uma vez que a pessoa se encontra de frente para o mar do Cabo Branco, na sua própria cidade natal.

E seu caso de amor com a periodicidade está gravemente enfermo. Afinal das contas todas, não é? A pessoa se encontra de frente para o mar, coisa e tal.

Mas eu avisei a vocês.

Avisei mais ou menos. Mas disso todo mundo sabe. Cada vez mais repetitiva a minha pessoa se torna.

Mas nem era disso que eu queria falar.

Eu queria falar que ontem foi aniversário de Bruno. Post-homenagem com um dia de atraso tem nem graça. Disso eu sei. Mas Bruno é aquela última pessoa que pagaria aluguel no meu coração e eu me culparia para todo o sempre se não escrevesse um post-homenagem mesmo com um dia de atraso e não fizesse uma festa à beira da piscina e não me fantasiasse pelo menos de leve de coelhinha e não cantasse pelo menos uma parte do happy birthday to you estilo Marilyn Monroe.

Vejam bem. Eu fiz tudo isso. Nem é muito. Mas é bastante. A pessoa paga micos inacreditáveis por amor aos amigos não é verdade? Pelo menos a minha pessoa paga. Kings Kongs inacreditáveis. E nem liga. Porque afinal das contas todas não é? Que graça teria essa vida?

Então. A outra coisa que eu queria falar era: Bruno, eu amo tu com força. Creia em mim que é verdade. Parabéns pela décima vez e todas as coisas bacanas do mundo que as pessoas desejam nessas horas umas às outras. E sim, pode namorar sim. Eu juro e prometo que deixo. E nem faço cara feia nem nada.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2006

Noticias são importantes. Disso eu sei.

Porque às vezes, meio sem querer, a pessoa some. E ninguém sabe mais se ela está em João Pessoa ou Campinas ou São Paulo ou no Rio de Janeiro ou.. enfim. Quando a mãe da pessoa perde a pessoa de vista, é um sinal.

Passemos então à narração da saga.

Dia 14 de dezembro eu fui pra João Pessoa. Fiquei por lá até dia 31. Preciso nem dizer que foram dias maravilhosos né não? Foi tudo meio corrido porque como sempre havia planos. Dessa vez mais planos do que nunca. Rever pessoas amadas como sempre foi a melhor parte. Mas aí, como eu disse, dia 31 eu vim correndo (correndo não, mas vocês entenderam) pra Campinas, que meus sogros iam chegar. Dia 1 de janeiro estávamos nós todos em Ubatuba e depois em Paraty. Dia 4 no Rio de Janeiro e dia 8 em São Paulo. Sim, foi a maratona ela mesma em pessoa. Eu pretendia narrar as viagens com riqueza de detalhes, tipo num blog turístico, mas agora me deu uma preguiça básica de bolso. É que amanhã tou indo pra João Pessoa de novo e nem arrumei minhas malas ainda. Cigano perde.

Repetindo: era pra ser um post interminável. Fico devendo esse. Juro e prometo que falo das viagens direitinho, como boa amiga que juro e prometo que sou. Que esse post daqui foi só informativo mesmo. Noticias são importantes. Disso eu sei.

Uma vez em João Pessoa, devo sumir do mundo virtual. Porque vamos aqui combinar que em João Pessoa eu tenho mais o que fazer. Não querendo dizer que ficar internetando horas a fio seja falta do que fazer, mas vocês entenderam. Portanto, pessoas amigas, virtuais e/ou reais, perdoem a ausência. Ou não, né não? Quer dizer, ou eu posso não me ausentar ou vocês podem não me perdoar. Mas vocês entenderam, oras.

Pensem numa vida imprevisível essa minha. E isso porque eu ainda nem falei dos planos pra 2006. Mas isso é assunto de mais um post interminável. Aguardem e confiem.