segunda-feira, 12 de dezembro de 2005

So please please please
Let me let me let me
Get what I want
Lord knows it would be the first time



Por que às vezes é tão difícil?
Por que, se poderia ser tão fácil?
Por que eu não compreendo isso?
Por que?

Alguém me explica?
Faz favor?



Ó todos os deuses de todos os panteões de todas as religiões, ajudem-me, sil vous plaît, agora nessa hora sem demora!



(e por que os Smiths tinham que fazer essas musicas? pra fazer a pessoa piorar muito? pra todo O Sempre de sua deprê infinitamente? e por que raios a pessoa deprê calha de ficar ouvindo repetidas vezes "please let me get what i want this time"? pra afundar? ainda mais? bem lá no fundíssimo do poço? como se isso fosse possível? e por que raios a pessoa fica deprê se faltam apenas três míseros dias para a própria pessoa ir passar umas merecidas férias em sua própria cidade? por que, se nesse momento ela deveria estar aos pulos?)



Por que? Por que? Por que?

quinta-feira, 8 de dezembro de 2005

João, o responsável pelos momentos de humor desse blog..



(assim, as duas primeiras piadas são meio requentadas, mas é que eu não quis desperdiçá-las)



João, chegando no quarto revirado dele, acompanhado de um amigo, o Lucas :

Lucas: Putz João! Que que aconteceu aqui? Passou um tsunami?
João: Tsunami não. Foi um furacão Katrina..



João e a violência no mundo:

- Fiquei muito triste porque o resultado do referendo foi 'não'..
- E foi João? Nem sabia que tu sabia disso..
- Claro que sabia! Eu sou criança mas sei das coisas!
- Sabe né? Tou vendo..
- Sei sim! Por exemplo, sei que o certo era votar no 'sim'.
- E era né? E tu sabe explicar por que tu acha isso?
- Oras, é obvio que sei! Votar no 'sim' era o certo porque todas as pessoas deviam ser contra as armas, contra a venda das armas e contra a violência no mundo.

(fiquei calada com essa.)



João e o "lado B":

- Mãe, o que é 'marginal'?
- 'Marginal' é mais ou menos bandido.
- Não mãe. O que quer dizer uma coisa que é 'marginal'?
- Ah sim..
- Então, o que?
- Assim, 'marginal' é uma coisa que pouca gente gosta ou conhece; não sei se eu sei explicar direito mas é mais ou menos isso..
- Certo, entendi.
- Entendeu? Sério?
- Entendi. 'Marginal' é assim como 'alternativo' né? Tipo 'anti-comercial' ou 'lado B'.

(mais calada ainda.)



Um dia, não faz muito tempo, ele era gorducho e cheirosinho e dizia "Mamam, Zão qué ixo!". Não mais que de repente você olha pra ele um dia, um dia qualquer sem nada de especial da vida de vocês, e percebe que ele mudou. Você sabe que ele mudou, você sabe que o tempo passou. Mas mesmo assim você se assusta. Tem uma coisa nele que você não sabe explicar o que é. É uma coisa que não estava lá antes e que agora faz toda a diferença. Assim do nada você vê no olhar dele ou no sorriso ou na entonação da voz, ou nos três ao mesmo tempo, que ele deixou de ser o seu bebê faz tempo. Existe uma maturidade esquisita nele, uma segurança de quem sabe que é amado e é feliz e sabe a importância que tem pras pessoas que cuidam dele. É uma coisa que você nunca pensou que veria nele tão cedo, mas ela existe e é visível demais. Você se emociona e chora baixinho pra ele não ver. Você pensa em você mesma e percebe que um dia ele vai sair pela porta da sua casa de mãos dadas com outra pessoa que não é você e vai se perder pelo mundo, do mesmo jeito que você fez. Você sente um aperto no coração, embora saiba que ele não lhe pertence e que você não pode prendê-lo, por mais precioso que ele seja pra você.

Antes você achava um saco ele te acordar a noite inteira com pesadelos. Ou pedir pra você limpar o bumbum dele. Ou ter que cortar a carne do prato dele quando você esta' morrendo de fome. Agora que você não faz mais nada disso, você percebe que seis curtos anos se passaram. E lembra com uma mistura de orgulho e tristeza que agora, toda quinta à noite, ele pede silêncio total na casa porque ele precisa ver o noticiário na tv, pois na sexta de manhã tem assembléia na escola, e ele precisa saber o que esta' acontecendo no mundo que é pra não ficar sem ter o que dizer. Céus.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2005

Segunda-feira em Campinas.
Céu azul. Brisa fresca.

Sabem de uma coisa?

Eu gosto de segundas-feiras.
Parece que a vida te deu outra chance de recomeçar.
E você sempre pode tentar fazer melhor dessa vez.

Eu sei. Eu sei.
Dá enjôo essa overdose de otimismo né?
Eu sei. Eu sei.

Mas é que..
Vejam bem..



A pessoa tinha um pai. Que nasceu no Cariri paraibano. Numa fazenda. A fazenda era chamada de "Feijão". Isso porque tinha um pé de feijão gigante na frente da casa. (óquei, o pai contava isso quando ela era bem pequena certo? abstraiam essa parte.). Pois. Esse pai criava um monte de bichinhos exóticos e tomava banho de rio todo dia (quando tinha água no rio, obviamente). Esse pai um dia foi embora com o coração doendo. Foi ganhar a vida na capital. Um dia ele conheceu a mãe dessa pessoa. Essa mãe cresceu num sítio. Ela tinha uma casa na árvore grande do pomar. Ela fazia bonecas de pano recheadas com flores de camomila. Ela começou a alfabetizar crianças na varanda de casa quando tinha 16 anos. Ela sonhava abrir uma escola. Um dia os dois casaram e foram morar na beira do mar. Num outro dia nasceu a filha. A própria pessoa que vos fala. Lá mesmo na casa na beira do mar. Os pais não eram mais jovens quando a filha nasceu. De modo que, quando a filha tinha três anos, o pai aposentou-se. Já viram né? Pois. O pai ia à praia todos os dias com a filha. Ele levava uma pá para a praia e cavava piscininhas entre as pedras. Ele ensinou a filha a nadar ali. À noite ela dormia ouvindo as lendas da infância do pai. Ou os relatos das viagens que fariam juntos pelo mundo.

Percebem?

Havia um lirismo invencível na vida dessa pessoa. Essa pessoa cresceu e aconteceram coisas. E esse lirismo se perdeu de alguma forma. Mas essa pessoa não consegue, simplesmente não consegue, explicar nem como nem por que isso se deu.

Aí é segunda-feira e essa pessoa olha pela janela de sua casa em Campinas e faz sol lá fora e sopra uma brisa fresca que vem lá de fora e entra dentro da casa e enche tudo de uma coisa qualquer onírica e diáfana (e eu adoro essas duas palavras) e o céu está azul, mas azul "de uma palidez parelha e rútila" como disse Érico Veríssimo uma certa vez.

Percebem?

É o lirismo de novo aqui. De volta de alguma forma. Materializado, ou não exatamente, em algo que a pessoa em questão não sabe especificar o que é.

Na verdade o lirismo nunca se foi de fato. Ele esteve camuflado, esperando a melhor oportunidade para reaparecer.

E de repente uma segunda-feira em Campinas parece significar muitas coisas. Depende de como se vê. Ainda bem.

Percebem?

Há esperança, meus amigos. Ainda há.

Não desistam. Nunca. Magia acontece todos os dias.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2005

Hoje foi a festa de aniversario da Mariana, colega de classe e amigona do peito de João. Seria uma festa como outra qualquer se eu não tivesse telefonado de manhã pra casa dela e falado com a mãe dela. Não sei muito bem porque me ofereci pra ajudar se ela precisasse. E pasmem: ela aceitou.

Agora deixa eu abrir um parênteses meio grande aqui.

Eu me considero uma pessoa bem sociável. Quem me conhece pode confirmar. Não sou nada bicho-do-mato, nada tímida, nada acanhada, nada disso. Às vezes me acho até intrometida e faladeira demais. Isso já me deu dores-de-cabeça, claro, mas trouxe mais coisas boas do que ruins. Hoje posso me gabar de ter montes de amigos, e o que é melhor, bons amigos e amigos de verdade. Fora o outro monte de colegas e conhecidos. E isso se deveu em grande parte ao fato de eu ser extrovertida e gregária. Taí uma das coisas das quais me orgulho.

Pois bem. Quando eu soube que viria pra Campinas foi o caos. Eu tinha uma porção de coisas da minha vida acertadas em João Pessoa, e me mudar significa abrir mão delas. Claro que eu pretendia sair da terrinha um dia, mas não achava que aquele fosse o momento certo. No fim das contas acabei vindo, assim a contra-gosto mesmo. Achei que o difícil seria refazer os planos e sonhos, como falei a uns dois posts atrás, e que o resto se ajeitaria com o tempo. Nem por um momento me passou pela cabeça que eu teria problemas de "inclusão social" aqui.

Pois bem. Eu tive. Eu tenho. Muitos.

Não sei exatamente o que é. Já queimei muito os neurônios pensando nisso e desisti de achar uma resposta. O fato é: eu não consigo fazer amigos em Campinas. Não importa que esforço eu faça. De um jeito ou de outro as coisas acabam azedando.

Seria fácil dizer que os campineiros são chatos e coisa e tal. Mas seria reduzir e simplificar demais as coisas e isso não é nada verdade. Talvez o problema seja realmente comigo. O que me intriga é que eu sempre acho que estou fazendo a coisa certa mas mesmo assim não funciona. E eu nunca descubro porque.

Por essas e por outras, viver em Campinas não tem sido fácil. Não sou nada acostumada com esse isolamento social. Pra piorar, não tenho nenhum membro da família por perto. Um drama enfim.

Fecha o parênteses.

Então hoje a mãe da Mariana, que é estrangeira em Campinas como eu (ela é capixaba), aceita minha ajuda e me convida pra participar da festa. Fiquei meio cabreira a principio, por causa do trauma. Mas chegando lá me senti à vontade e relaxei. Relaxei é modo de dizer, porque eram muitas crianças na festa e, como eu disse, eu fui mesmo pra ajudar. Cheguei totalmente moída em casa. Foi uma tarde agitada demais essa. Mas eu me diverti e me senti menos sozinha. E vocês não fazem idéia da importância que isso tem pra mim nesse momento.



Inutilidade publica: é amanhã a (uma das, na verdade) entrevista de Guiom lá em Petrópolis. Nem estou aflita que eu sei que não adianta. Não depende nada de mim esse resultado, embora ele vá mudar minha vida toda de novo. Esperar é preciso. Tic tac tic tac..



O filme dessa semana foi radicalmente cult: Blood Simple - filme de estréia dos irmãos Joel e Ethan Coen. Eu adoro os Coen. Fargo, The Big Lebowski e The Man Who Wasn't There são pérolas do cinema americano pra mim. O que não quer dizer que figurem entre os meus favoritos, mas isso é outra conversa. Blood Simple é um ótimo filme, enxuto e bem escrito, tenso e agoniante como é típico da dupla de diretores/roteiristas/produtores. Mas tome sangue. E mortes. E corpos. E ambientes sombrios. E situações bizarras. Enfim, estamos falando dos Coen não? Pois.



Dando um tempo na busca por novidades musicais. Ouvindo os queridos de sempre: Placebo (Without You I'm Nothing - amo e venero) e The Killers (Hot Fuss - amo amo e venero venero) e P J Harvey (To Bring You My Love - amo amo amo e venero venero venero). Uma observação rápida: e num é que The Killers parece mesmo com The Cure?



Nesses tempos ociosos a carruagem da leitura passa depressa. Depois de Lavoura Arcaica li Extensão do Domínio da Luta de Michel Houellebecq (do qual eu prometi falar com calma) e agora decidi me dedicar aos russos. Comecei anteontem Pais e Filhos de Ivan Turguêniev e estou gostando muito. Aguardem comentários mais detalhados.


João está prestes a perder seu oitavo dente. E ele só tem seis anos. Mas o problema não é nem esse. O problema mesmo é que só nasceram três. E o menino já não comia bem hein.. imaginem agora..