domingo, 16 de outubro de 2005

Da série :

"Como é que eu agüento João hein? Digam-me vocês!" - Episodio I




A própria mãe (no caso, a minha pessoa) estudando (como sempre, aliás) e o próprio filho (no caso, a pessoa de João) que estava por aqui e por ali catando uma coisa útil pra fazer (como sempre, aliás):

- Mamãe.
- Ã.
- Xeu te perguntar uma coisa.
- É importante?
- Por que?
- Só pergunte se for importante.
- É?
- É.
- Por que?
- Porque eu preciso me concentrar na questão da adequação da teoria funcionalista para a analise dos pressupostos básicos da comunicação organizacional.
- Ah.

- Mas mamãe.
- Que é que danado tu quer minino?
- Perguntar uma coisa!
- Pergunte de uma vez!
- Mas é que eu num sei se é importante...
- PERGUNTE DE UMA VEZ CRIATURA OU ENTÃO FIQUE QUIETO PREU LER AQUI!
- Certo, certo. Se estresse não que daqui a pouco seu estômago começa a doer...

(Puta-que-pariu)

(Perdoem os termos, caros leitores)

- Mamãe.
- João, olhe, parabéns! Você conseguiu. Parei de estudar. Agora pergunte logo o que você quer saber que eu tou quase sem paciência hoje.
- Certo. Pergunto.
- Pergunte, João...
- Certo.

- Mamãe.
- ...
- Certo, calma, vou perguntar!
- ... ...
- Mamãe.
- ... ... ...
- Quantos minutos tem meia hora?

(Aleluia Senhor)

- Meia hora tem trinta minutos, João.
- Certo.

- Mamãe.
- Diz.
- E quantos segundos tem em meia hora?
- Não sei, João. Não sou boa de matemática.
- E precisa ser pra saber disso?
- Precisa sim.
- Ah.

- Mamãe.
- Diz, João. Logo.
- E quantos milésimos de segundo tem em meia hora?




A própria mãe (que vocês já sabem de quem se trata) tomando seu café despreocupadamente numa manhã de sábado. O próprio filho (idem, ibidem) tomando café (ou fingindo que) ao lado dela.

- Mamãe.
- Oi.
- Não sei por que tem passarinhos que cantam os nomes deles e outros passarinhos que fazem as coisas que o nome dele diz...
- Como é João? Entendi nada.
- Ouxe! Como tu é lesa!
- Olhe João, comece a sessão falta-de-respeito não, que você sobe agorinha pro seu quarto e fica lá o dia todo viu?
- Certo. Desculpe.
- Vá, explique.
- Assim: tem passarinhos que cantam os nomes deles, como o Bem-te-vi e o Quero-quero; e tem outros que fazem as coisas que o nome deles diz, como o Beija-flor, porque ele beija a flor. Entendeu?
- João, é o contrario. O nome do Bem-te-vi é esse porque ele canta assim "bem-te-vi, bem-te-vi". E o nome do Beija-flor é esse porque ele beija a flor e tal. Entendeu? O nome deles é esse por causa do canto ou do que eles fazem, e não o contrario.
- E é?
- É.
- E o calopsita?
- Que é que tem?
- Por acaso ele faz calopsitas? Ou é o canto dele que é assim: "calopsita, calopsita"?

(Ai. Creiam em mim. Isso cansa. E como.)




Agora vejam bem. A pessoa leva anos apurando seu gosto musical. Gasta dinheiro comprando cds. Perde tempo baixando musicas. Lê sobre o assunto. Informa-se com os amigos. Descobre um artista maravilhoso. O marido importa da França o cd novo do dito cujo. O cd do dito cujo chega. Você fica feliz. Sente-se uma pessoa privilegiada. Deita no sofá. Esquece de tudo por alguns instantes. Reflete sobre como é gratificante estar ouvindo aquela musica divina. (Para efeito de esclarecimento é importante que os leitores saibam que a musica em questão é instrumental).

Ai chega seu filho, aquele ser que você mesma gestou em seu ventre fecundo por nove meses (tudo bem, por oito meses no caso de João), que é a pessoa mais preciosa do mundo pra você, que tem seis anos e que emociona e enlouquece você todo santo dia. Senta no sofá pertinho de você e solta:

- Por que essas musicas que tu escuta são assim?
- Assim como?
- Assim: tipo "karaokê"?



Aí tem as horas em que uma pessoa que é mãe morre de orgulho:

- Tenho que praticar bastante meus desenhos. Quando eu crescer eu quero ser pintor, igual ao Picasso e o Portinari.




Mas, eis que se coloca o dilema-mor da vida da mãe Motherna:

O que fazer quando seu filho de seis anos insiste em manter um penteado que deixa ele com cara de paspalho?


terça-feira, 11 de outubro de 2005

Cinco dias para a segunda da bateria de provas às quais me submeterei esse mês. Belo momento pra repensar a periodicidade desse blog e promover atualizações constantes. Tudo bem. Vamos ignorar momentaneamente esse fato e dar prosseguimento à reflexão.



Desde que eu me lembro, eu sempre adorei história. Sempre foi minha disciplina favorita. Acho que isso se deveu em parte à competência de uma professora que tive e que me acompanhou da oitava série ao cursinho pré-vestibular. Bem, o caso não é de discutir aqui os motivos da minha simpatia por esta ciência. O caso é que as coisas às vezes calham de acontecer no tempo certo, no tempo exato.

Quando eu fiz dezesseis anos eu ganhei da minha mãe uma coleção luxuosa e enorme sobre a historia da humanidade, uma coleção chamada Historia em Revista. Meus pais sempre mantiveram o habito de comprar coleções de livros. A casa da minha mãe é até hoje cheia delas por todos os cantos. Logo que eu comecei a falar, começaram a construir pouco a pouco o meu acervo pessoal. Minha infância foi marcada pelo lirismo da obra de Monteiro Lobato, pelas reinações de Narizinho, Pedrinho e Emilia.

Mas eu cresci e minhas obrigações escolares de certa forma me impediram de ler por inteiro as coleções que fui ganhando. A tal coleção de historia ficou guardada, à espreita, por quase dez anos. No momento em que resolvi vir morar em Campinas, minha mãe pôs-se a decidir "o que é meu, o que é teu" dentre nossos livros. Pois bem, a citada coleção veio comigo e ficou meses adornando toda uma prateleira das minhas estantes. Numa tarde qualquer de tédio, tirei o primeiro volume da coleção e comecei a ler, sem maiores planos ou pretensões.

E eis que uma pequena tempestade tomou de assalto a minha cabecinha. Não sei muito bem por que fui caindo de amores pela evolução das primeiras civilizações humanas, em especial pela maneira como foram sendo definidos os primeiros códigos de linguagem, muitos deles ainda indecifrados. Quando me dei conta já estava avidamente pesquisando e anotando minhas observações sobre o tema, não sei muito bem por que. O caso é que eu mudei um tanto o foco dos meus estudos em comunicação e talvez isso vá fazer uma diferença fundamental na minha vida, no modo como eu vejo o mundo. Se eu tivesse lido a coleção quando eu a ganhei, aos dezesseis anos, é claro que isso não teria acontecido.

Não vou ficar aqui discursando longamente sobre o tema; não, não é o caso. O caso é que, como existe uma possibilidade (ainda que remota, pois acho que não me dediquei o suficiente) de eu passar no concurso que fiz no domingo passado, e então começar a trabalhar no Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), os meus interesses teóricos em comunicação social e a minha busca profissional (e por que não dizer, também, pessoal?) correm o risco de sofrer uma tremenda metamorfose. E como eu sou um bichinho inquieto por natureza, esse troço todo anda me fritando os neurônios como poucas outras coisas conseguem fritar.


Por isso, pelos concursos, pelo que me espera no próximo ano, e por mais algumas coiselhas e coisudas, ando ansiosa como nem sei o quê. A ansiedade me rendeu uma dor crônica no estômago que marido, filho, mãe, demais parentes, amigos e professora de yoga de plantão classificaram como uma possível gastrite. Eu sei, eu sei, preciso ir num médico e cuidar disso direito. Mas a idéia de ter que fazer uma endoscopia arrepia todos os pelinhos do meu pobre corpinho. Enfim, veremos.



Semana passada vimos um filme maravilhoso. "Machuca", chileno, dirigido por Andrés Wood (Machuca, Chile / Espanha, 2004). Tudo bem, devo admitir que em certos momentos eu achei que o melodrama quase extrapolou o limite do razoável, mas mesmo assim a historia de dois pré-adolescentes (um muito rico e outro muito pobre) - cujos caminhos se encontram em meio à tensão dos meses que antecederam o golpe de Pinochet - comove sim. E muito. Certo, certo, Bruno diria: "mas pra comover Gio um filme não precisa ser necessariamente comovente; Gio é uma criatura que chorou no cinema vendo 'Lilo e Stitch'!" Admito mais uma vez: sou uma manteiga derretida, uma chorona compulsiva, uma sensível inveterada... mas, o filme é bom sim. Creiam em mim e leiam o resto. Ano passado tínhamos visto um outro filme de Wood, "Febre do Loco", que nos deixou perplexos com sua atmosfera mítica e sufocante. Esse cara tornou-se então nossa nova descoberta cinematográfica e estamos loucos atrás de outros filmes dele. Se tiverem oportunidade, não deixem de ver que os filmes valem mesmo o investimento.



Ouvindo de tudo um pouco enquanto estudo o dia inteiro (assim: eu acho que estudar é uma das melhores coisas que uma pessoa pode fazer na vida, mas vamos combinar aqui que cansa que só). Descobri que gosto da Joss Stone, embora às vezes ela seja meio pop. Loirinha, bonitinha, novinha, mas com voz grave, potente e enérgica como uma negona! E tem coisa mais bacana que vozeirão de negona? Tem nada. Mas a obsessão da semana é mesmo o Jonh Frusciante. Putz. Que é aquilo aquele homem hein? Apaixonada total eu agora. Gostava faz um tempo mas essa semana viciei. Em especial numa musica perfeita: "Murderers". Essa musica me leva a fazer associações boas demais, e posso ficar ouvindo ela a tarde inteira. Mas deixa quieto isso que tem coisas das quais não se fala.



Descobri a prosa nervosa e inebriante de Raduan Nassar. Li "Um copo de cólera" e, depois de assistir "Lavoura Arcaica" de novo (que continua sendo meu filme preferido), comecei a ler o romance no qual foi baseado o longa. De ¿Lavoura Arcaica¿ falo depois que é assunto muito. Deixa eu derramar meus elogios a "Um copo de cólera" aqui. O livro é curtinho, uma novela, pra ser lida de um fôlego só. O inicio é extremamente excitante. Mas excitante no sentido sexual do termo mesmo. (Não, eu não vou começar a falar de intimidades aqui. Sim, sim eu me considero uma pessoa liberada e sexualmente bem-resolvida. Mas... Não, não falemos disso que esse não é o espaço. D' accord, pode vir a ser um dia quem sabe. Mas vamos voltar ao post certo?). Então, nem superado o impacto do inicio, a narrativa começa a fluir com uma velocidade e uma vibração impressionantes e você se vê perdido em meio àquelas argumentações todas e de repente: o fim. Igualmente excitante. Uma delicia só esse livro. Emprestados de Andrei, ele e "Lavoura Arcaica". Andrei, mon cher, devo essa revelação divina a você! Recomendo, recomendo. Mas preciso transcrever um trechinho aqui (adoro transcrever trechinhos) pra dar uma amostrinha a vocês. Esse é o finalzinho mesmo, as ultimas linhas:

"...e até que me desloquei entre aqueles fragmentos e atravessei a peça toda, e so foi cruzar o corredor pr'eu alcançar a porta ali do quarto, boiando vagamente à luz tranqüila duma vela: deitado de lado, a cabeça quase tocando os joelhos recolhidos, ele dormia, não era a primeira vez que ele fingia esse sono de menino, e nem seria a primeira vez que me prestaria aos seus caprichos, pois fui tomada de repente por uma virulenta vertigem de ternura, tão súbita e insuspeitada, que eu mal continha o ímpeto de me abrir inteira e prematura pra receber de volta aquele enorme feto."



Nem sei se falei. Se falei repito, se não falo agora: fiz prova pro Iphan ontem. Melhor que eu esperava, mas chutei o balde algumas vezes. O jeito né? A gente sempre chuta o balde algumas vezes nessas provas sem-noção. Enfim, o resultado? Veremos.



Por causa da prova aproveitamos pra passar o dia lá em São Paulo mesmo. Viajamos às cinco da manhã e vou dizer uma coisa séria a vocês: ninguém no mundo merece acordar às quatro da madrugada de domingo. Nos meus dias de alforriada, essa é a hora mínima pra ir dormir, oras. Mas enfim. Fiquei a manhã toda quebrando a cuca e depois fomos almoçar num restaurante bacaninha (que esqueci geral o nome) providencialmente descolado na Vila Mariana. Pra compensar o coitado de João, que pulou da cama antes do sol sair, resolvemos fazer um programinha infatil à tarde. Fomos ao Instituto Butantã ver os bichinhos nojentinhos. João, é claro, amou todas aquelas cobras, aranhas, escorpiões, e lagartos horrorosos. Tá, beleza, também fiquei impressionada com a píton Albina (uma cobra loira, vejam vocês), a naja egípcia (com aquela cabeça de naja mesmo) e (horror dos horrores) a sucuri de cinco metros. Tão impressionada que tive dificuldades pra dormir. Eu moro em casa, perto daqui tem uma mata, sabe como é né? Então. E outra: como fez calor ontem. Caracas. Trinta e cinquinhos graus. E eu que fui toda cuidadosa ver a previsão do tempo na véspera: "céu parcialmente nublado com possibilidade de chuva à tarde". Sei, sei. Empacotei-me, empacotei João e quase que a gente tem um piriri de tão quente que estava o sol. Ô tempo doido o desse estado, minha deusa!



Rapaz, é aquela coisa: Orkut empolga no começo e depois enche. Entrei na fase do "enche". Os fantasmas do passado começaram a aparecer, deixar scraps, adicionar como amigo, adicionar no emessêne, mandar emails suspeitos e eu fui me invocando. Quase quase cometi orkuticídio, como diz Lumy. Mas eis que me aparecem uns amigos do colégio, outros da faculdade de direito (véi nadinha!) e primas há muito perdidas de vista. Fiquei com pena. Juro. Fiquei sim. Pensando melhor, deixa a pobre da minha conta lá mais um tempinho.



Ai que eu ia me esquecendo! Amigos pessoenses: alegrai-vos! Comprei minha passagem! Chego dia 14 de dezembro de novo na Paraíba-pequenina-mando-um-abraço-pra-ti. Ai que felicidade! Ops, depois da felicidade, a desgraça: fico duas semanas só. Fazer o quê né não? Nada é perfeito mesmo. Mas, como meu tempo será cruelmente corrido, já comecei a agendar festanças e passeinhos. Por isso queridos: atenção hein? Que eu não quero deixar de dar dois beijos estalados nas bochechas de nenhum de vocês!