sexta-feira, 20 de outubro de 2006

Então. ocupações mil + internet ruim de doer + Juca doente = minha pessoa sumida. Foi mal pessoas. Detesto fazer isso. Sumir assim sem mais.

Mas, eis que certas pessoas, somente porque agora têm blog novo, acham-se no direito de cobrar atualização. E eu resolvi atualizar. Não que eu esteja recebendo ordens. Mas era tempo mesmo já.

Deixa eu recapitular.

Dia 5 fui a uma palestra de um japonês _ professor Kunichi _ (falando em francês!) especializado na obra de Artaud, que é um dramaturgo francês doido que eu estou estudando agora, e na de Hijikata, que é um coreógrafo japonês, também doido, que eu também estou estudando agora. Haja abstração. Pras aulas e pra palestra. Fiquem somente sabendo que Artaud foi internado dezenas de vezes em hospitais psiquiátricos ao longo da vida. Que ficou viciado em peyote quando viveu por uns tempos entre os Tarahumaras no México. Que durante uma palestra simulou um ataque de peste. Que escrevia com cocô de mosquito. Hijikata, por sua vez, queria destruir o corpo, porque o corpo não pode simplesmente funcionar, ele tem que ser algo maior. Hijikata propôs colocar uma escada dentro do corpo e descer até o lugar mais profundo pra ver o que encontraríamos lá. Somente. Tem mais. Mas acho que isso chega pra dar uma idéia. Eu amo muito tudo isso.

Dia 8 fui dar uma olhada na Bienal de Arte com Dina. Gostei e tal. Mas tem todas aquelas obras que você vê e se pergunta "o que diabo é isso?" ou "isso é arte?" ou se diz "meu filho de 7 anos faz melhor" ou ainda "eu devia ter ficado em casa". Fora essas obras, tem as que são geniais e que fazem o troço valer a pena. Eu gosto de ler bem muito sobre uma exposição antes de ir ver, porque senão eu não entendo coisa nenhuma mesmo e sinto que perdi meu tempo. Sobre essa Bienal eu li enciclopédias, de tantos que foram os artigos de revistas. E foi bom. Entender as coisas é importante. No mais, foi bom demais rever Dina, jogar conversa fora, rir dos paulistanos modernos com suas roupas excêntricas, passear no parque, tirar fotos sem noção, comer quebra-queixo, beber caipirinha, ficar bêbada e acordar no outro dia com dor de cabeça. Viver é bom. Às vezes enche. Mas às vezes é bom. Eu acho.

Dia 12 teve dia das crianças né? e teve então toda aquela coisa de comprar presente, levar nas festinhas e shows e teatrinhos e brinquedotecas. Ser mãe é padecer, mas não no paraíso. É a ditadura da diversão sem descanso. Enfim. Eu também amo muito tudo isso. Devo logo confessar.

Dia 13. Dia 14. Dia 15. Feriado prolongado. O que acontece? Paulista que é paulista, caipira, assim, do interior, que nem eu, faz o que? Sai correndo pra praia. Foi o que fiz. O que todo mundo fez. E tudo _ as praias, os bares, os restaurantes, as pousadas, os museus, os parques, as estradas _ absolutamente tudo estava absolutamente lotado. Mas né? Que graça teria se fosse assim fácil? Nenhuma. Então pronto. Passei um dia em Santos e dois em São Sebastião e vi umas paisagens lindas de chorar. Sério. De chorar. Se bem que né? Eu chorei vendo Irmão Urso. Então eu não sou parâmetro nesse quesito. Não sou não.

Voltei a ler Norwegian Wood depois de algumas semanas. Que eu tinha parado porque era tanta desgraça na vida das pessoas que eu me revoltei. E o resto foi como eu pensei. Triste, triste, triste. Ô povo besta esse, que lê livros que fazem sofrer. Ainda bem que eu não sou assim. Mas eu preciso falar desse livro com calma. Eu juro e prometo que eu falo. Ah, comecei a ler Obrigado, Jeeves. Presente de Dridri _ meu recomendador oficial de livros cults e obscuros. É meu novo livro do ônibus. Eu falei sobre isso? Não né? Então. Como agora eu passo boa parte da minha semana dentro do ônibus, eu inventei o "livro do ônibus". Bem, é um livro que fica na mochila que eu carrego pra tudo que é canto. Deve ser pequeno e leve, que eu sou fraquinha e não consigo ficar andando por aí com um livro pesado nas costas. E eu leio somente no ônibus. E aposto comigo mesma que eu acabo o livro antes da semana acabar. E eu quase sempre ganho! Rá!

Vendo filminhos bacanas. Preguiça de falar de todos. Mas gostei especialmente de Totalmente Kubrick e A Lula e a Baleia. Chorei com o segundo. Também. Meu estoque de lagrimas é inversamente proporcional ao tamanho do meu estômago. Enfim. Filhos sofrendo me fazem chorar. Batata.

Agora eu vou ali voltar a escrever meu primeiro trabalho a ser entregue. Que era pra ser entregue ontem, quinta! Afe! Hoje, só amanhã. Mas eu consigo. Torçam por mim que eu consigo sim. Depois falo dele somente pra entediar a todos. E depois escrevo mais. Juro e prometo.

ps: fotos da Bienal e de Santos e de São Sebastião, aqui e ali.

segunda-feira, 2 de outubro de 2006

Aí a pessoa foi ver e levar seu próprio filho pra ver a exposição sobre Grande Sertão: Veredas, do Guimarães Rosa, no mais que bacana Museu da Língua Portuguesa.

Aí era uma daquelas exposições modernosas e estilosas, cheia de instalações surpreendentes e originais. E havia fragmentos do texto espalhados por todo o primeiro andar do museu, nas formas mais variadas, e você escalava escadas pra ler frases pintadas nas paredes e no chão, e puxava cordas e pedaços de tecido com frases impressas deslizavam do teto, e era aquela coisa interativa toda e havia ainda a terra do sertão por todos os lados, os sons do sertão ecoando o tempo todo, e de repente a pessoa espiou por um buraquinho na parede feito pra espiar mesmo e viu uma foto aérea de Paris, e por cima da foto estava escrito:

O sertão é em toda parte.

E a pessoa estremeceu e chorou. E procurou um cantinho pra se esconder porque a emoção foi mesmo daquelas violentas.

Porque, percebam. Aquela frase, por cima daquela foto, estava ali pra mim. Estou certa disso. Não tenho a mais ínfima duvida de todas. E como? Me digam. Como não estremecer e chorar? Se era Paris, logo Paris, e eu percebi que o sertão estaria sempre, pra todo O Sempre, em todo e qualquer lugar, porque o sertão que eu conheço, que faz parte de mim sem que eu consiga dele me separar, o sertão onde o meu pai nasceu e onde eu vivi muitas das minhas melhores lembranças, esse sertão, o meu sertão pessoal, intimo e intransferível, está aqui guardado comigo, no lugar mais seguro que existe dentro de mim. E não importa pra onde eu vá nesse mundo pequeno, minúsculo, ridículo, o sertão irá toda vez comigo.

Porque ele é em toda parte.




Ps: como se não fosse suficiente, outra pessoa vem e dedica uma poesia bem feia à minha própria pessoa. decididamente, chamem os bombeiros.