segunda-feira, 27 de março de 2006

Sebos. Grandes. Baratos. Aqueles lugares que a gente ama. Catar sebos sempre foi uma das minhas atividades preferidas. Lazer mesmo. Agora é uma necessidade básica. Vocês num tem noção não. Do tanto de livros que a pessoa tem que ler. Não apenas textos e fragmentos de textos xerocados. Livros inteiros. E romances. E filmes. Dos mais cults de todos. Daqueles sabe? Que nem tem nem em dvd nem em vhs pra alugar? Os mais raríssimos de todos? Então. Esses. E cadê o tempo livre do qual a pessoa reclamava dantes? Sumiu. Todinho de uma vez só.

Aí né? Sexta passada lá vou eu pro meu sebo mais querido. Com João né? Meu carrapato de estimação. Aí tou eu lá nos livros de comunicação e João me chama pra pegar qualquer coisa no alto de uma estante de livros infantis. Quando chego na frente da tal estante, dou de cara com "Ou isto ou aquilo" de Cecília Meireles.

Susto. Sorriso. Olhinhos brilhantes.

Pausa pra explicação.

Eu realmente amava esse livro. Ele faz parte das minhas lembranças infantis mais legais. Quando eu cresci um pouquinho ele sumiu da minha casa. O buraco negro engoliu. Na casa de vocês tem um buraco negro que engole as coisas? Tipo ninguém sabe ninguém viu? Na minha tem. Quer dizer. Na minha casa de João Pessoa. Aí ele deu cria e agora minha casa de Campinas também tem. Seu próprio e exclusivo buraco negro. Enfim. Eu deixei de ter o livro por causa do citado buraco negro. Aí aos 17 anos eu conheci Lumy e ela tinha o livro também e ele também fazia parte das lembranças infantis mais legais dela. E eu gostei dela de cara também por causa disso. E quando a gente soube que João ia ser um menino (e eu passava por um momento bem complicado nessa época), ela me deu um cartão com a "Cantiga da babá" escrita. E eu me comovi horrores e chorei. Porque a vida tem desses momentos não é? Em que a gente sente a beleza mais pura pairando no ar ao nosso redor.



Cantiga da babá


Eu queria pentear o menino
como os anjinhos de caracóis.
Mas ele quer cortar o cabelo,
porque é pescador e precisa de anzóis.

Eu queria calçar o menino
com umas botinhas de cetim.
Mas ele diz que agora é sapinho
e mora nas águas do jardim.

Eu queria dar ao menino
umas asinhas de arame e algodão.
Mas ele diz que não pode ser anjo,
pois todos já sabem que ele é índio e leão.

(Este menino está sempre brincando,
dizendo-me coisas assim.
Mas eu bem sei que ele é um anjo escondido,
Um anjo que troça de mim.)




Então eu comprei o livro pra João. Pra mim né? Que vocês entenderam. O que não quer dizer que João não tenha gostado porque ele adorou. E eu passei o final de semana todo lendo as poesias todas. Pra João e pra mim mesma. E deixei tudo o mais que eu tinha pra ler um pouco de lado. Só pra saborear minha infância de novo. Aos poucos e um pouco mais. E eu sei que eu vou abusar da paciência de todo mundo. Porque eu vou postar mais umas delicias desse livro por aqui. Que eu preciso dividir isso com vocês.

sexta-feira, 24 de março de 2006

Quem, de três milênios,
Não é capaz de se dar conta
Vive na ignorância, na sombra
À mercê dos dias, do tempo.

Johann Wolfgang von Goethe


Porque já não somos mais crianças há um bom tempo. E porque nesse pequeno mundo em que vivemos não há mais lugar para ingenuidades.

terça-feira, 14 de março de 2006

Sim, sim. Eu vou contar. Nem sei se vocês querem saber. Mas vou contar mesmo assim.

Então. Quarta-feira passada começaram minhas aulas na especialização. O negocio marromenos foi que, como eu demorei a fazer a matrícula, não pude pegar todas as disciplinas de jornalismo cultural, que é a minha área mesmo. Acabei pegando uma de cultural, uma de social e uma de educação, porque as outras de cultural estavam lotadas. Mas isso até que foi legal. Apesar de eu ter me voltado pra cultura agora, as duas disciplinas que eu peguei meio a contragosto (a de social e a de educação) têm tudo a ver com coisas que me interessam, que eu já estudei ou com as quais já trabalhei. As aulas foram boas, os textos e a bibliografia no geral são interessantes, os professores sabem do que estão falando, e as pessoas.. bem, as pessoas né? As pessoas são como sempre são as pessoas. Umas chatas de doer. Outras muito bacanas. E eu juro e prometo que estou tentando não ser preconceituosa nem turn on o modo bicho-do-mato, que é minha postura social normal por aqui. Só por aqui hein? Em João Pessoa vocês sabem como eu sou.

Mas tem nem graça ficar falando que foi lindo que foi legal que o mundo é perfeito e que todas as pessoas são felizes. No primeiro dia eu fui às 5 horas e 20 minutos esperar o ônibus e mesmo assim perdi o dito cujo. Porque esperei no lugar errado. E tive que pegar uma carona com outro motorista que se apiedou de mim e correu pra pegar meu ônibus no meio do caminho. Pensem numa vergonha grande. E eu me perdi né? Que todo mundo já sabia que isso ia acontecer. Duas vezes. E fiquei com medo do tumulto que é pegar o metrô na Praça da Sé. Vocês num tem noção não. Do tumulto. Tem até a policia, caso o tumulto se complique. É realmente um negocio assustador. Depois de anos dentro do metrô, depois do tumulto todinho, eu chego no terminal rodoviário e pego o ônibus pra Campinas. É uma alegria. Eu ouço musiquinhas e como biscoitinhos e durmo sonequinhas. Uma vez na rodoviária de Campinas eu percebo a cruel realidade: ainda tenho que pegar mais dois ônibus e andar mais uns quilômetros até sentar no meu sofá e botar as pernas pra cima. Sem esquecer que da Puc pra estação de metrô são mais uns quilômetros. E que eu tenho que trocar de linha pra chegar no terminal Tietê. Na Sé, aquele inferno. Ninguém merece minha gente. Quilômetros de caminhada + dois metrôs lotados + três ônibus vagarosos + outros quilômetros de caminhada = um bagaço de gente. Mas não desligue ainda. Que eu tenho que ir buscar João na casa da amiga dele. Igualmente de ônibus. E ajudar a fazer a lição de casa. E a roupa suja e a louça pra lavar e a comida pra fazer e o chão pra varrer e tudo mais que não precisa ser citado. É a Odisséia ela mesma em pessoa na vida do serumano. E a minha cama nunca foi um lugar tão agradável viu? Creiam em mim.

Eu ia falar de outras coisas. Aquelas coisas. Livros e filmes e musicas. Mas eu realmente preciso ir agora. Que de repente meu tempo encurtou de uma maneira inacreditável. E há coisas a serem resolvidas. Porque há mais coisas para contar. Várias. Creiam em mim. Não. Minha vida não é uma sitcom. Mas bem que poderia ser.

quinta-feira, 2 de março de 2006

Retalhos descosturados.

Porque né? É deles que é feita essa vida.



João é uma criança precocemente nostálgica.

- Eu vou guardar esse desenho do King Kong destruindo a cidade pra sempre. Que é pra quando eu crescer eu lembrar da minha infância.



Da série "Os absurdos que a gente vê por aí"

No Pão de Açúcar: café caríssimo e chiquérrimo importado da Itália. Mas e os grãos, vieram de onde mesmo? Do Brasil, obviamente. E tem gente que compra isso. Esse povo tem vergonha na cara não?




No afã da perseguição ao peixe, Lapkin, em vez do peixe, agarrou sem querer a mão de Ana Semiônovna, sem querer apertou-a aos lábios... Ela puxou a mão, mas já era tarde: os lábios sem querer se confundiram num beijo. Tudo isso aconteceu assim, sem querer. Depois do beijo, veio outro beijo, depois juras, protestos... Felizes momentos! Entretanto, nesta vida terrena não existe nada inteiramente feliz. A felicidade costuma trazer veneno em si mesma, ou é envenenada por algo externo. Assim foi também desta vez. Quando os dois jovens se beijavam, de repente ouviu-se uma risada.

(em Menino Malvado, de Anton P. Tchekov)

Porque né?
Vocês sabem?
Se existe?
A tal da felicidade?
Quando é que ela chega?
Alguém vem avisar que chegou?
E se não vem?
Como é que a gente sabe?
Se é feliz ou não?
Nessa vida?
Hein?

Demasiado complexo esse troço de ser feliz.