terça-feira, 25 de abril de 2006

Só as reflexões de João salvam a pessoa nos momentos difíceis da vida:


Tu num devia se aperrear porque não tá trabalhando não. Tu num tá estudando? Então? Pelo menos tu agora tem o que fazer da vida, que ficar em casa o dia todo, só cozinhando, arrumando a casa e lavando a roupa não é legal pra ninguém.


Olhe, eu num sei porque o governo num bota mais ônibus pra levar as pessoas. Tem pouco ônibus, aí pronto, tu demora um tempão pra vir me buscar. Sei não, esse governo faz o que, hein? Que nem ônibus direito bota pro povo andar?


Esse negócio de ter casa é muita besteira mesmo. Os bichos não têm casa e vivem muito bem. Quer dizer, alguns até têm, mas só alguns, a maioria vive na natureza mesmo e tá feliz com isso. Mas com as pessoas é uma confusão se não tiver dinheiro pra comprar a casa ou pra pagar aluguel. Aí fica um monte de gente sofrendo, querendo casa, querendo terra, arrumando confusão. Os humanos são muito bestas mesmo. Esse negócio de ter casa só podia ser invenção dos humanos.




A pessoa tem crises existenciais homéricas. E a pessoa realmente sofre com elas. Mas a pessoa se diverte. Com os conselhos de João não tem como, a pessoa se diverte horrores.

terça-feira, 11 de abril de 2006

Só as cartas (sim. cartas. escritas à mão. enviadas pelo correio. como dantes. lembram?) dos amigos salvam a pessoa nos momentos difíceis da vida:



Sem medo algum de exagerar, da pra contar nos dedos de uma mão as cartas que eu já mandei :) Putz, é muito estranho escrever sem backspace...
(Bruno, 9 de fevereiro de 2006)

Outra coisa é que essa caneta maldita falha, acho que deu pra notar. Ela é boa de escrever, mas falha. Tentei escolher uma que não falhasse, mas não deu muito certo. (...) E agora parece que a caneta de repente melhorou. Temperamental, ela. Chinesa também. Deve ter sido fabricada por gente ganhando uma ninharia. Mas tem 'materiais da Alemanha e Suíça', segundo tem escrito aqui. Mas que inútil falar sobre isso.
(Andrei, 15 de fevereiro de 2006)

Como você pode ver, eu nunca soube fazer um 'j' maiúsculo direito. Todos os meus 'j' maiúsculos ficam ridículos, como o de 'João Pessoa', no cabeçalho dessa missiva. Antes, eu até ficava constrangido por não saber fazer um 'j' maiúsculo. Quando eu era evangélico (sim, eu fui evangélico), ficava achando que era pecado não saber escrever o nome do filho de Deus direito; assim, eu até escrevia, claro, mas meu 'j' era ridículo. Eu achava que ia pro inferno só porque não sabia escrever Jesus Cristo de modo bonito; mas isso passou, e hoje uso meu 'j' maiúsculo feio mesmo pra abrir as cartas. Em breve, vou escrever 'Aracaju', e o 'j' vai lá pra última sílaba, de modo que meus problemas com os 'j' serão resolvidos.
(Ailton, 23 de março de 2006)



A pessoa sofre de saudades. Desses doidos e de todo mundo querido que está longe. A pessoa realmente sofre. Mas a pessoa se diverte. Com essas cartas, não tem como, a pessoa se diverte horrores.

sexta-feira, 7 de abril de 2006

Esse não era um blog dado a polêmicas. Mas agora né? Depois da vida amorosa de Kafka e da longevidade dos insetos? Pode tudo gente amiga. Pode sim.



Nas vésperas da Semana Santa, Banco do Brasil promove blasfêmia:
Centro Cultural, no Rio, expõe órgão sexual feito com Terços!
Boa tarde, amigos!
1)
O Centro Cultural Banco do Brasil, do Rio de Janeiro, situado em frente à Igreja da Candelária, no centro histórico, está patrocinando a exposição "Erótica - Os sentidos da Arte", com dinheiro público e de incontáveis cidadãos.
Infelizmente, é uma exposição imoral freqüentada livremente por menores de idade, inclusive por colegiais levados em excursões.
2)
Pior ainda. É uma exposição com conteúdo blasfemo, como a obra "Desenhando com Terços", que usa esse milenar instrumento de oração dos católicos para desenhar um órgão sexual misturado com a cruz.
3)
A referida exposição patrocinada pelo Banco do Brasil é uma ofensa aos milhões de católicos de todo o país. Ainda assim, seus organizadores anunciaram que sua realização irá se prolongar; durante a Semana Santa inclusive.
Sinceramente, fiquei espantado e indignado!
4)
Apesar da gravidade do fato, que me conste, nenhum meio de comunicação fez referência ao conteúdo blasfemo dessa exposição. Por isso, tomei a iniciativa de enviar-lhe este e-mail.
Também estou enviando esta informação às autoridades religiosas do Rio de Janeiro e do Brasil inteiro, às autoridades civis, federais e estaduais, aos meios de comunicação e às autoridades do Banco do Brasil.
5)
Até quando continuará essa ofensa gratuita à fé cristã da grande maioria dos brasileiros?
Infelizmente, este fato não é isolado e, quem sabe, faz parte de uma onda de blasfêmias anticristãs que percorre o mundo, incluindo o livro "O Código da Vinci".
6)
Estão, a seguir, o telefone e o e-mail do curador do Centro Cultural do Banco do Brasil, Sr. Tadeu Chiarelli, os links do site do Banco do Brasil nos quais aqueles que desejarem poderão deixar seu protesto; e o link para o site Blasfêmia Não!
7)
Por favor, se você também está indignado e cansado do silêncio diante da ridicularização pública da fé católica, reenvie esta mensagem a seus amigos e familiares, e cobre das autoridades religiosas e civis medidas para fazer cessar esta ofensa gratuita.
Muito obrigado, e que a Providência o recompense pelo seu interesse nesta iniciativa em prol do Brasil.
Atenciosamente,
Sérgio Luiz Ferreira Passos, estudante
Instituto de Psicologia
Centro de Filosofia e Ciências Humanas
Universidade Federal do Rio de Janeiro
LINKS DE PARTICIPAÇÃO E OPINIÃO:
a) Para enviar directamente e-mail de reclamação ou sugestão ao Centro Cultural do Banco do Brasil no Rio, clique em:
BancoDoBrasil:MeuProtestoPelaBlasfemia
b) Para escrever mensagem de reclamação ou sugestão à Ouvidoria do Banco do Brasil, no site do Banco, clique no seguinte link:
https://www16.bancodobrasil.com.br/appbb/portal/fs/rsp/ouvidoria/index.jsp?site=ouvidoria&tipo=02
c) Telefone gratuito da Ouvidoria do Banco do Brasil: 0800 729-5678
d) Telefone do Curador do Centro Cultural do Banco do Brasil no Rio, Sr. Tadeu Chiarelli: (21) 3808-2020
Endereço do Centro Cultural do BB: Rua Primeiro de Março 66. Centro
e) Link do Blog Blasfêmia Não!
http://blasfemianao.tripod.com/blog/





Então eu poderia me perguntar de onde esse cidadão descolou meu email. Mas nem é preciso que eu desconfio.

E não. Eu não vou entrar no mérito da questão. Por que vocês sabem. Quer dizer. Alguns sabem. Pois eu digo pra todo mundo saber logo de uma vez: eu não falo de religião. Muito menos da minha. Pra dar uma noção da coisa: falar da minha religião pra mim é como falar da minha vida sexual atual. Falo de jeito nenhum. Nem amarrada. Nem perguntem que não adianta.

E não. De novo. Eu não sou cristã. Mas assim. Nada contra. Aquela coisa toda.

O ponto é: isso não lembra uma coisa a vocês? Tipo umas certas charges de um certo profeta? E o drama todo que foi o negócio?

Não vou dizer aqui que as pessoas têm liberdade de expressão nesse país e que vivemos numa democracia. Eu poderia dizer. Mas não vou dizer. Não precisa. Vocês poderiam rebater dizendo que a minha liberdade termina onde começa a de vocês. Vocês poderiam rebater. Mas não vão rebater. Não precisa. Ninguém aqui é ingênuo, certo? Portanto vamos evitar a repetição desnecessária de argumentos há muito mastigados e digeridos.

Continuando: mas não dá a impressão de que todo mundo fica cada vez mais intolerante? Mais neurótico? Mais histérico?

Pra mim dá. E disso eu tenho medo. Muito medo.

segunda-feira, 3 de abril de 2006

Jorge Luis Borges escreveu certa vez sobre Franz Kafka :

..(o tema de Kafka) "é a insuportável e trágica solidão de quem carece de um lugar, por humilíssimo que seja, na ordem do universo."
("Nosso pobre individualismo" em "Outras Inquisições")

Daí eu me pergunto: que lugar na ordem do universo pode ter Gregor Samsa? Que outra coisa, além de uma insuportável e trágica solidão, pode carregar um inseto monstruoso? Ou qualquer um, que seja diferente, estranho, alheio, inadequado? O que pode haver, nesse mundo mesquinho e perverso, para aqueles que, sem saberem porque, saíram diferentes do padrão? O quê? Além de solidão?