domingo, 23 de julho de 2006

Deixa eu ir logo dizendo uma verdade. Marisa Monte é a melhor cantora (e compositora) que eu conheço. Pra mim né? Porque né? Cada um com a sua.

Eu acho que eu amei Marisa desde o momento em que eu ouvi a primeira música. Que foi "Bem que se quis", numa novela global qualquer. E faz tempo isso. E eu era bem novinha que disso eu me recordo.

Mas Marisa não me saiu da cabeça e eu tratei de adquirir todos os cds e decorar todas as canções.

Só que eu sempre tive um carinho especial por músicas que não eram dela mas que ela soube interpretar como ninguém. Os sambas e os chorinhos. E eu me apaixonei por Paulinho da Viola e Pixinguinha por causa de Marisa. Que eu ouvia os dois quando eu era criança por causa do meu pai. Mas a paixão mesmo surgiu por causa de Marisa. E eu pensava comigo mesma que Marisa podia gravar ainda mais sambas e chorinhos. Qual não foi a minha surpresa quando ela lançou os discos novos, e um deles, segundo ela mesma, tinha sido "gravado em uma atmosfera de samba".

Não só um disco de sambas, um disco de sambas escritos por ela.

:)

A piece of heaven..

Bem aqui no meu aparelho de som.



"Tarde, já de manhã cedinho
Quando a névoa toma conta da cidade (..)

E eu já não me sinto só
Tão só, tão só
Com o universo ao meu redor"



Querem saber? Se eu fosse uma música eu seria um samba.

Assim.. eu me considero uma pessoa relativamente roquenrou. Tanto que às vezes eu me pergunto por que eu só falo de roque por aqui. "De bandas gringas que ninguém conhece", como Bruno gosta de dizer. Porque, sério de verdade, eu seria um samba.

Nada de patriotismo, que samba não é o ritmo nacional coisa nenhuma. Samba é coisa de carioca, e o resto do país imita. Mas eu seria um samba. É. Tem muito carioquismo na minha alma sertaneja sim.

Eu seria um samba. Ponto.



"É o Bonde do Dom que me leva
Os anjos que me carregam
Os automóveis que me cercam
Os santos que me projetam
Nas asas do bem desse mundo
Carrego um quintal lá no fundo
A água do mar me bebe
A sede de ti prossegue"



Porque o samba é aquela coisa. Repleta de boemia e melancolia e nostalgia e tristeza e beleza e dor e desgosto e sofrimento e padecimento.

E uma coisa eu aprendi nessa vida. É preciso. É preciso tudo isso. Boemia e melancolia e nostalgia e tristeza e beleza e dor e desgosto e sofrimento e padecimento. É preciso pra gente sentir pelo menos um lampejo de completude de vez em quando.

Que essa estória de céu azul sem nuvens, sol brilhante, mar calmo e brisa fresca todo dia é de uma chatice sem tamanho.

É preciso que haja tempestades. Nuvens negras, raios e trovões, furacões e maremotos.

É preciso chorar, sofrer, padecer. Que essa é a metade obscura da vida. Mas é a metade dela, então não adianta tentar fugir porque ninguém vai conseguir.



"Quando é noite de lua, eu saio pra rua pra meditar
O meu pinho faz tudo pra ver meu canário cantar
No soluçar do vento
No sussurro das folhagens
No gemido dos coqueiros
Pede a ele pra criar coragem
Nem assim o meu canário canta
E da minha garganta um triste gemido sai"



Tá, eu sei. Quando se está feliz, não existe tempo pra pensar que um dia a tristeza vai chegar. Mas eu nunca prometi ser normal. Então eu sempre penso. Mesmo feliz, eu penso na tristeza. Porque a tristeza é uma velha amiga. Que eu conheço bem. E outra. Eu não consigo ser nada aos poucos. Nem feliz nem triste. Eu me jogo, eu já disse isso aqui. Eu já tentei ser diferente. Mas eu não consigo. Eu me jogo. E quando eu me jogo vem tudo ao mesmo tempo. Felicidade e tristeza. Mas eu já acostumei. A vida toda me jogando né? Acostumei sim. É só assim que eu sei viver.



"Coração não tem barreira, não
Desce a ladeira, perde o freio devagar
Eu quero ver cachoeira desabar
Montanha, roleta russa, felicidade
Posso me perder pela cidade
Fazer o circo pegar fogo de verdade
Mas tenho meu canto cativo pra voltar"



Aí depois de ouvir o cd todinho três vezes, eu me peguei perguntando sobre onde fica o amor no meio disso tudo. Porque sem amor não há samba.



"Pois tudo o que se sabe do amor
É que ele gosta muito de mudar
E pode aparecer onde ninguém ousaria supor"




Então Nelson né? Porque depois de um primeiro encontro pouco satisfatório com a obra de Nelson Rodrigues, Bruno proporcionou-me uma emoção intensa e preciosa ao me recomendar (e me emprestar) um trecho de "A Menina Sem Estrela". E eu me emocionei muitíssimo e chorei todas as minhas pitangas com essas memórias de Nelson. Mas depois eu falo mais delas. Que eu queria falar aqui de coisinhas que Nelson disse sobre o amor.



"(..) continuou o meu romance com Lúcia. Pouco a pouco fui dizendo as coisas que são tudo para mim: - 'Todo amor é eterno e, se acaba, não era amor'. E dizia: - 'Quem nunca desejou morrer com o ser amado, não amou, nem sabe o que é amar'. As nossas conversas eram tristes, porque o amor nada tem a ver com a alegria e nada tem a ver com a felicidade."


Querem saber? Eu sempre pensei assim. Certas coisas a gente tem medo de dizer. Principalmente entre amigos que acreditam no amor verdadeiro. Principalmente em público como aqui. Por isso acho que eu nunca disse. Mas é isso. O amor passa longe da felicidade.

Querem saber? Eu não sei se eu sei onde fica o amor no meio disso tudo. Porque essa é uma mania muito besta que a gente tem. Essa de querer saber definir o amor, de querer saber onde ele fica e tudo mais. Melhor deixar o amor quieto. O amor também passa longe da racionalidade. Então não cabem explicações. Ama-se. Ponto. Sem pensar sobre isso. Deixa eu parar de falar de amor de uma vez.

Sim. Eu seria um samba.

segunda-feira, 10 de julho de 2006

Férias né? A pessoa perde total a inspiração pra escrever em seu próprio blog. Uma vez, numa conversa emessênica com Ailton, chegamos à conclusão que o exílio beneficia com a dádiva da melancolia os escritores (Santa pretensão, Batman!). É o caso, I think. Em sua própria terra, rodeada de seus próprios familiares, amigos e agregados queridos, em frente de seu próprio mar preferido, a pessoa tem mais o que fazer. Ou não tem nada pra fazer e fica vagabundando. Que é muitíssimo diferente de escrever ou de ter vontade de e assunto pra. Escrever é coisa de vagabundo. Óquei, I agree. Mas não coisa de vagabundo de férias de frente pra seu próprio mar preferido.

Mas como falta de inspiração pra escrever posts é um assunto demasiado batido, eu não vou ficar divagando sobre isso. Nem vou dar corda pra falta de inspiração que não faz o meu tipo. Vou ficar aqui tagarelando abobrinhas postáveis. Mais minha cara.



Aí sábado eu fui bater ponto no centro histórico pessoense com Lumy. Meio sem muita vontade por causa da chuvinha fina que sempre cai aqui no inverno e que me irrita profundamente. Mas fui. Tou lá numa jornada em busca de uma cerveja quando de repente ouço um grito-pergunta: "Gio?! Eu sou Manu!". Que eu já sabia que Manu era Manu quando eu dei de cara com ela. Foi massa. Não importa quantos anos de internet eu tenha, certos fenômenos sempre me pegam pelo pé como se eu fosse neófita. Esse de conhecer ao vivo pessoas virtuais amigas sempre me emociona. E a gente ficou de conversa mole um tempão. Mas né? Quem me conhece ao vivo sabe o quanto eu sou capaz de falar se me derem espaço. Aí eu nem conversei tudo que eu queria conversar com Manu, mas estou certa de que a gente vai se encontrar de novo. E fico deveras feliz com isso.

Caminhar né? No calçadão. Ao cair da tarde. Assim uma coisa saudável. E comer açaí? Mais ainda. Certo, beleza, tamos aí. Mas as pessoas amigas residentes nesta cidade exageram. Agora é um tal de açaí toda semana e correr e nadar e, afe, jogar vôlei. Como assim pessoas? Zabellicota bem observou, ou teria sido Ailton? Não, eu não tenho cara de quem gosta de jogar vôlei. Nem cara, nem disposição física, nem talento, nem patavina. Mas né? Tudo em nome da sociabilidade. Até ver filmes ruins, só porque Andrei queria porque queria ir ver o danado do filme que a gente já sabia que era ruim no cinema. Até perdoar Bruno porque ele tá no fim do período e só me viu duas vezes. É. Amigos né? Tamos aí.

Tem outras. Mas né? A pessoa divide o computador com os outros milhões de pessoas que dormem sob o mesmo teto dessa casa. Inclusive com sua própria filha-postiça que fica do lado da pessoa enquanto a pessoa escreve pentelhando a hora toda pra pessoa parar de escrever que já escreveu demais que ela quer entrar na internet e atualizar o flog e fuçar o orkut alheio e tagarelar no emessene. Por isso, deixem eu ir nesse momento. Eu juro e prometo - toda vez né? eu juro e prometo nas férias - que depois eu escrevo mais.