segunda-feira, 12 de dezembro de 2005

So please please please
Let me let me let me
Get what I want
Lord knows it would be the first time



Por que às vezes é tão difícil?
Por que, se poderia ser tão fácil?
Por que eu não compreendo isso?
Por que?

Alguém me explica?
Faz favor?



Ó todos os deuses de todos os panteões de todas as religiões, ajudem-me, sil vous plaît, agora nessa hora sem demora!



(e por que os Smiths tinham que fazer essas musicas? pra fazer a pessoa piorar muito? pra todo O Sempre de sua deprê infinitamente? e por que raios a pessoa deprê calha de ficar ouvindo repetidas vezes "please let me get what i want this time"? pra afundar? ainda mais? bem lá no fundíssimo do poço? como se isso fosse possível? e por que raios a pessoa fica deprê se faltam apenas três míseros dias para a própria pessoa ir passar umas merecidas férias em sua própria cidade? por que, se nesse momento ela deveria estar aos pulos?)



Por que? Por que? Por que?

quinta-feira, 8 de dezembro de 2005

João, o responsável pelos momentos de humor desse blog..



(assim, as duas primeiras piadas são meio requentadas, mas é que eu não quis desperdiçá-las)



João, chegando no quarto revirado dele, acompanhado de um amigo, o Lucas :

Lucas: Putz João! Que que aconteceu aqui? Passou um tsunami?
João: Tsunami não. Foi um furacão Katrina..



João e a violência no mundo:

- Fiquei muito triste porque o resultado do referendo foi 'não'..
- E foi João? Nem sabia que tu sabia disso..
- Claro que sabia! Eu sou criança mas sei das coisas!
- Sabe né? Tou vendo..
- Sei sim! Por exemplo, sei que o certo era votar no 'sim'.
- E era né? E tu sabe explicar por que tu acha isso?
- Oras, é obvio que sei! Votar no 'sim' era o certo porque todas as pessoas deviam ser contra as armas, contra a venda das armas e contra a violência no mundo.

(fiquei calada com essa.)



João e o "lado B":

- Mãe, o que é 'marginal'?
- 'Marginal' é mais ou menos bandido.
- Não mãe. O que quer dizer uma coisa que é 'marginal'?
- Ah sim..
- Então, o que?
- Assim, 'marginal' é uma coisa que pouca gente gosta ou conhece; não sei se eu sei explicar direito mas é mais ou menos isso..
- Certo, entendi.
- Entendeu? Sério?
- Entendi. 'Marginal' é assim como 'alternativo' né? Tipo 'anti-comercial' ou 'lado B'.

(mais calada ainda.)



Um dia, não faz muito tempo, ele era gorducho e cheirosinho e dizia "Mamam, Zão qué ixo!". Não mais que de repente você olha pra ele um dia, um dia qualquer sem nada de especial da vida de vocês, e percebe que ele mudou. Você sabe que ele mudou, você sabe que o tempo passou. Mas mesmo assim você se assusta. Tem uma coisa nele que você não sabe explicar o que é. É uma coisa que não estava lá antes e que agora faz toda a diferença. Assim do nada você vê no olhar dele ou no sorriso ou na entonação da voz, ou nos três ao mesmo tempo, que ele deixou de ser o seu bebê faz tempo. Existe uma maturidade esquisita nele, uma segurança de quem sabe que é amado e é feliz e sabe a importância que tem pras pessoas que cuidam dele. É uma coisa que você nunca pensou que veria nele tão cedo, mas ela existe e é visível demais. Você se emociona e chora baixinho pra ele não ver. Você pensa em você mesma e percebe que um dia ele vai sair pela porta da sua casa de mãos dadas com outra pessoa que não é você e vai se perder pelo mundo, do mesmo jeito que você fez. Você sente um aperto no coração, embora saiba que ele não lhe pertence e que você não pode prendê-lo, por mais precioso que ele seja pra você.

Antes você achava um saco ele te acordar a noite inteira com pesadelos. Ou pedir pra você limpar o bumbum dele. Ou ter que cortar a carne do prato dele quando você esta' morrendo de fome. Agora que você não faz mais nada disso, você percebe que seis curtos anos se passaram. E lembra com uma mistura de orgulho e tristeza que agora, toda quinta à noite, ele pede silêncio total na casa porque ele precisa ver o noticiário na tv, pois na sexta de manhã tem assembléia na escola, e ele precisa saber o que esta' acontecendo no mundo que é pra não ficar sem ter o que dizer. Céus.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2005

Segunda-feira em Campinas.
Céu azul. Brisa fresca.

Sabem de uma coisa?

Eu gosto de segundas-feiras.
Parece que a vida te deu outra chance de recomeçar.
E você sempre pode tentar fazer melhor dessa vez.

Eu sei. Eu sei.
Dá enjôo essa overdose de otimismo né?
Eu sei. Eu sei.

Mas é que..
Vejam bem..



A pessoa tinha um pai. Que nasceu no Cariri paraibano. Numa fazenda. A fazenda era chamada de "Feijão". Isso porque tinha um pé de feijão gigante na frente da casa. (óquei, o pai contava isso quando ela era bem pequena certo? abstraiam essa parte.). Pois. Esse pai criava um monte de bichinhos exóticos e tomava banho de rio todo dia (quando tinha água no rio, obviamente). Esse pai um dia foi embora com o coração doendo. Foi ganhar a vida na capital. Um dia ele conheceu a mãe dessa pessoa. Essa mãe cresceu num sítio. Ela tinha uma casa na árvore grande do pomar. Ela fazia bonecas de pano recheadas com flores de camomila. Ela começou a alfabetizar crianças na varanda de casa quando tinha 16 anos. Ela sonhava abrir uma escola. Um dia os dois casaram e foram morar na beira do mar. Num outro dia nasceu a filha. A própria pessoa que vos fala. Lá mesmo na casa na beira do mar. Os pais não eram mais jovens quando a filha nasceu. De modo que, quando a filha tinha três anos, o pai aposentou-se. Já viram né? Pois. O pai ia à praia todos os dias com a filha. Ele levava uma pá para a praia e cavava piscininhas entre as pedras. Ele ensinou a filha a nadar ali. À noite ela dormia ouvindo as lendas da infância do pai. Ou os relatos das viagens que fariam juntos pelo mundo.

Percebem?

Havia um lirismo invencível na vida dessa pessoa. Essa pessoa cresceu e aconteceram coisas. E esse lirismo se perdeu de alguma forma. Mas essa pessoa não consegue, simplesmente não consegue, explicar nem como nem por que isso se deu.

Aí é segunda-feira e essa pessoa olha pela janela de sua casa em Campinas e faz sol lá fora e sopra uma brisa fresca que vem lá de fora e entra dentro da casa e enche tudo de uma coisa qualquer onírica e diáfana (e eu adoro essas duas palavras) e o céu está azul, mas azul "de uma palidez parelha e rútila" como disse Érico Veríssimo uma certa vez.

Percebem?

É o lirismo de novo aqui. De volta de alguma forma. Materializado, ou não exatamente, em algo que a pessoa em questão não sabe especificar o que é.

Na verdade o lirismo nunca se foi de fato. Ele esteve camuflado, esperando a melhor oportunidade para reaparecer.

E de repente uma segunda-feira em Campinas parece significar muitas coisas. Depende de como se vê. Ainda bem.

Percebem?

Há esperança, meus amigos. Ainda há.

Não desistam. Nunca. Magia acontece todos os dias.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2005

Hoje foi a festa de aniversario da Mariana, colega de classe e amigona do peito de João. Seria uma festa como outra qualquer se eu não tivesse telefonado de manhã pra casa dela e falado com a mãe dela. Não sei muito bem porque me ofereci pra ajudar se ela precisasse. E pasmem: ela aceitou.

Agora deixa eu abrir um parênteses meio grande aqui.

Eu me considero uma pessoa bem sociável. Quem me conhece pode confirmar. Não sou nada bicho-do-mato, nada tímida, nada acanhada, nada disso. Às vezes me acho até intrometida e faladeira demais. Isso já me deu dores-de-cabeça, claro, mas trouxe mais coisas boas do que ruins. Hoje posso me gabar de ter montes de amigos, e o que é melhor, bons amigos e amigos de verdade. Fora o outro monte de colegas e conhecidos. E isso se deveu em grande parte ao fato de eu ser extrovertida e gregária. Taí uma das coisas das quais me orgulho.

Pois bem. Quando eu soube que viria pra Campinas foi o caos. Eu tinha uma porção de coisas da minha vida acertadas em João Pessoa, e me mudar significa abrir mão delas. Claro que eu pretendia sair da terrinha um dia, mas não achava que aquele fosse o momento certo. No fim das contas acabei vindo, assim a contra-gosto mesmo. Achei que o difícil seria refazer os planos e sonhos, como falei a uns dois posts atrás, e que o resto se ajeitaria com o tempo. Nem por um momento me passou pela cabeça que eu teria problemas de "inclusão social" aqui.

Pois bem. Eu tive. Eu tenho. Muitos.

Não sei exatamente o que é. Já queimei muito os neurônios pensando nisso e desisti de achar uma resposta. O fato é: eu não consigo fazer amigos em Campinas. Não importa que esforço eu faça. De um jeito ou de outro as coisas acabam azedando.

Seria fácil dizer que os campineiros são chatos e coisa e tal. Mas seria reduzir e simplificar demais as coisas e isso não é nada verdade. Talvez o problema seja realmente comigo. O que me intriga é que eu sempre acho que estou fazendo a coisa certa mas mesmo assim não funciona. E eu nunca descubro porque.

Por essas e por outras, viver em Campinas não tem sido fácil. Não sou nada acostumada com esse isolamento social. Pra piorar, não tenho nenhum membro da família por perto. Um drama enfim.

Fecha o parênteses.

Então hoje a mãe da Mariana, que é estrangeira em Campinas como eu (ela é capixaba), aceita minha ajuda e me convida pra participar da festa. Fiquei meio cabreira a principio, por causa do trauma. Mas chegando lá me senti à vontade e relaxei. Relaxei é modo de dizer, porque eram muitas crianças na festa e, como eu disse, eu fui mesmo pra ajudar. Cheguei totalmente moída em casa. Foi uma tarde agitada demais essa. Mas eu me diverti e me senti menos sozinha. E vocês não fazem idéia da importância que isso tem pra mim nesse momento.



Inutilidade publica: é amanhã a (uma das, na verdade) entrevista de Guiom lá em Petrópolis. Nem estou aflita que eu sei que não adianta. Não depende nada de mim esse resultado, embora ele vá mudar minha vida toda de novo. Esperar é preciso. Tic tac tic tac..



O filme dessa semana foi radicalmente cult: Blood Simple - filme de estréia dos irmãos Joel e Ethan Coen. Eu adoro os Coen. Fargo, The Big Lebowski e The Man Who Wasn't There são pérolas do cinema americano pra mim. O que não quer dizer que figurem entre os meus favoritos, mas isso é outra conversa. Blood Simple é um ótimo filme, enxuto e bem escrito, tenso e agoniante como é típico da dupla de diretores/roteiristas/produtores. Mas tome sangue. E mortes. E corpos. E ambientes sombrios. E situações bizarras. Enfim, estamos falando dos Coen não? Pois.



Dando um tempo na busca por novidades musicais. Ouvindo os queridos de sempre: Placebo (Without You I'm Nothing - amo e venero) e The Killers (Hot Fuss - amo amo e venero venero) e P J Harvey (To Bring You My Love - amo amo amo e venero venero venero). Uma observação rápida: e num é que The Killers parece mesmo com The Cure?



Nesses tempos ociosos a carruagem da leitura passa depressa. Depois de Lavoura Arcaica li Extensão do Domínio da Luta de Michel Houellebecq (do qual eu prometi falar com calma) e agora decidi me dedicar aos russos. Comecei anteontem Pais e Filhos de Ivan Turguêniev e estou gostando muito. Aguardem comentários mais detalhados.


João está prestes a perder seu oitavo dente. E ele só tem seis anos. Mas o problema não é nem esse. O problema mesmo é que só nasceram três. E o menino já não comia bem hein.. imaginem agora..

segunda-feira, 28 de novembro de 2005

Mantendo todos informados sobre o andamento das mudanças em nossas vidas: Guiom passou na dinâmica de grupo que fez no Rio. Era a terceira etapa do processo de seleção e agora ele terá que fazer algumas entrevistas. Agora deixem eu ir ali procurar casa e escola e etecéteras em Petrópolis.



Listando os progressos: consegui pegar uma rodovia assustadora e ir a um shopping meio longinho, sozinha e dirigindo! E estou muitíssimo orgulhosa de mim mesma. Parece besteira né? É que vocês não tem noção de como as rodovias paulistas me apavoram..



Religamos o modo filme-obscuro: Sin noticias de Dios. Assim: o negócio de que o céu e o inferno estão completamente ligados e são interdependentes me soou pouco original e pareceu cópia do Saramago em "O Evangelho Segundo Jesus Cristo"; o fato de no céu falarem francês e no inferno falarem inglês, apesar de parecer meio obvio, me divertiu. Não é um filme estupendo mas é legal. E pensem assim: não é sempre que a gente pode ver Gael García Bernal (Lindo! Tesão! Bonito e gostosão! Foi péssimo, eu sei, perdoem. É que esse ser humano me tira do sério..) e Penélope Cruz e Victoria Abril juntos num filme né não?



Ouçam Devendra Banhart e sintam-se por alguns momentos perdidos numa comunidade hippie em plenos anos sessenta. Eu garanto: é uma viagem e tanto. Ah sim: e dancem. Com os braços pra cima e os pés descalços e coroas de flores na cabeça. E fechem os olhos e imaginem asas de borboleta nascendo em suas costas e sintam uma luz lilás envolvendo vocês e.. bom.. chega né? A única pessoa que se chama Gio aqui sou eu. Pois.



"Lavoura Arcaica" acabou e como eu previ fiquei totalmente deprimida. Primeiro porque eu adoro essa estória. Segundo porque os amores contrariados são infinitamente mais interessantes e comoventes que os amores satisfeitos. E terceiro porque eu sou assim mesmo: sugestionável até o limite do socialmente aceitável.. E todos os escritores e cineastas e compositores fizeram um pacto "vamos abalar Gio todos ao mesmo tempo agora porque é muito divertido". Tenho dito.



Frases e frases. Eu já disse que eu adoro frases? Acho que não. Então: eu adoro frases. E trechinhos. E poemas. Essa eu conhecia faz tempo mas reli dia desses e senti um arrepio de identificação:

Não perca a mágica do momento concentrando-se no que está por vir.
(H. Jackson Brown Jr.)

O que está por vir promete ser bom demais da conta. Mas esperar pela festa já é curtir a festa não?

quarta-feira, 16 de novembro de 2005

Leitores amigos, deixa eu sentar aqui pertinho de vocês e dividir o meu "drama da semana".

Todo mundo que lê esse blog há um tempinho sabe a peleja que foi minha mudança pra Campinas né? Pois então. Abandonar a terrinha, a mãe, o cachorro, a família, os amigos, os planos, os sonhos. Foi difícil pra caramba. E vocês querem sinceridade? Pois. Ainda é difícil. Muito. Mesmo assim, a gente se esforçou. Considero que nesses onze meses conseguimos nos adaptar bem. Falta muita coisa, eu sei. Falta coragem pra andar sozinha de carro no centro, falta plantar uma arvore na porta de casa, faltam amigos. E que falta fazem os amigos.. aos poucos fui vendo o lado positivo de morar aqui. Aos poucos fui refazendo meus planos, meus sonhos. Aos poucos, caminhando. E então uma noticia abala a paz do meu lar:

Guiom passou numa seleção de trainees com a qual ele sempre sonhou.

Em Petrópolis, no Rio de Janeiro.

Primeira coisa que eu disse: "não vou nem amarrada". Imaginem vocês: logo agora que eu comecei a me acostumar? Logo agora que eu refiz meus planos e sonhos? Levantar acampamento de novo? Nem morta!

Depois de muita conversa, as partes interessadas (o marido, claro, e minha mãe, que acha que Petrópolis vai ser melhor pra todos nós) conseguiram me acalmar um pouco. Comecei a pensar que talvez não seja uma tragédia completa essa mudança. De qualquer forma, não é definitivo. Guiom tem que passar em mais uma etapa do processo de seleção. Enfim, veremos.

Só uma coisa a dizer: cigano perde viu?



O nome dessa família é "pé-no-mundo" (precisa explicar?) né não? Pois. Em três semanas, quatro passeios bacanas demais: Joaquim Egidio, distrito charmoso daqui de Campinas; Itu, cidade com um patrimônio histórico e arquitetônico super rico e bem conservado; centro histórico de São Paulo, que a gente começou a viciar naquela cidade; e Embu das Artes, cidadezinha cujo nome diz tudo. Nos dois primeiros passeios comemos bem demais: comida mineira em Joaquim Egidio e alemã em Itu. E sejamos francos: comer bem é que há né não? Pois. Nos quatro passeios João emburrou rapidinho. Sejamos francos mais uma vez: nenhuma criança de seis anos agüenta ficar o dia todo vendo paisagens bucólicas ou igrejas barrocas ou edifícios modernistas ou esculturas metidas né não? Pois. Sem-noção demais eu e Guiom.. Juro e prometo que mostro as fotos do centro histórico de São Paulo e de Embu. Depois que agora bateu uma preguiça básica de organizar a pilha de imagens..



Nosso amigo Vincent esteve aqui esse final de semana. Vinha da Filadélfia, depois de trabalhar oito meses la', e ia pra França tocar a vida. Muito bom mesmo ter amigos em casa. E eu esperando Dona Dina, que esta' perdida na Selva Paulistana, dar as caras por aqui!



Assim: eu sou a rainha do filme-alternativo-obscuro-do-qual-ninguém-mais-ouviu-falar. Eu sei disso e todo mundo sabe também. Mas esses últimos tempos resolvi dar umas chances pro cinema comercial e me dei bem. Montes de coisas boas! Listinha que eu adoro listinhas:

House of Sand and Fog (EUA / 2003)
In Good Company (EUA / 2004)
We don't live here anymore (EUA / 2004)

Depois listo os outros senão não consigo falar de tudo.

House of Sand and Fog é tristissimo. Dirigido pelo russo radicado nos EUA Vadim Perelman. Até Guiom que é uma rocha pra se emocionar em filmes ficou balançado. Confesso que quase que não agüento o tranco. Identificação total com os dois lados do conflito do filme: a menina perdida-sozinha-vazia e a família que procura um canto no mundo pra chamar de seu, já que foi impedida de viver no seu canto de verdade. Jennifer Connelly linda como sempre e Ben Kingsley bom como nunca. In Good Company é despretensioso e divertido, faz rir e faz pensar na vida. Só não gostei mais porque adoro a Scarlett Johansson, e nesse filme o papel dela - que no inicio parece central - perde importância com o tempo. We don't live here anymore é meio pancada. Sobre casamentos e traições. Mais que isso: sobre o tédio e como ele pode corroer a vida e o amor e mudar radicalmente as prioridades. Desse eu nem esperava tanto e me surpreendi geral. Recomendados os três então.



Descobertas musicais do mês: Sons and Daughters, Kings of Convenience e Arcade Fire. Três bandas ótimas que valem a pena ser ouvidas pelo menos uma vez (vamos lá! Não sejamos preconceituosos!). Ricardo Feltrin, que eu adoro demais, disse uma verdade sobre todas as bandas queridinhas do momento ("grupelhos ingleses" hehehe). Tudo bem tudo bem. Pode ser que daqui a pouco a febre passe e descubra-se que os talentos não eram tão talentosos assim. Mas enquanto isso aproveitemos o auge dos moços e moças certo?



Ainda não terminei de ler Lavoura Arcaica porque estou com medo de ficar deprimida quando acabar. Revi o filme antes de começar a ler e fico embasbacada com a fidelidade dele à linguagem e à estrutura do romance. Continua sendo meu filme preferido, e o livro corre o sério risco de se tornar meu livro preferido também. Esse é o maravilhoso capitulo 2 do livro, que o narrador lê todinho e igualzinho logo no começo do filme:

Na modorra das tardes vadias na fazenda, era num sitio lá do bosque que eu escapava aos olhos apreensivos da família; amainava a febre dos meus pés na terra úmida, cobria meu corpo de folhas e, deitado à sombra, eu dormia na postura quieta de uma planta enferma vergada ao peso de um botão vermelho; não eram duendes aqueles troncos todos ao meu redor, velando em silêncio e cheios de paciência meu sono adolescente? Que urnas tão antigas eram essas liberando as vozes protetoras que me chamavam da varanda? De que adiantavam aqueles gritos, se mensageiros mais velozes, mais ativos, montavam melhor o vento, corrompendo os fios da atmosfera? (meu sono, quando maduro, seria colhido com a volúpia religiosa com que se colhe um pomo).




So' informando: passei na primeira etapa do concurso do Iphan mas não passei na segunda. É.. A vida pode ser bem cruel apesar de ser boa demais às vezes.. Agora é juntar os cacos (de novo e de novo e de novo) e procurar mais um caminho pra seguir..

domingo, 16 de outubro de 2005

Da série :

"Como é que eu agüento João hein? Digam-me vocês!" - Episodio I




A própria mãe (no caso, a minha pessoa) estudando (como sempre, aliás) e o próprio filho (no caso, a pessoa de João) que estava por aqui e por ali catando uma coisa útil pra fazer (como sempre, aliás):

- Mamãe.
- Ã.
- Xeu te perguntar uma coisa.
- É importante?
- Por que?
- Só pergunte se for importante.
- É?
- É.
- Por que?
- Porque eu preciso me concentrar na questão da adequação da teoria funcionalista para a analise dos pressupostos básicos da comunicação organizacional.
- Ah.

- Mas mamãe.
- Que é que danado tu quer minino?
- Perguntar uma coisa!
- Pergunte de uma vez!
- Mas é que eu num sei se é importante...
- PERGUNTE DE UMA VEZ CRIATURA OU ENTÃO FIQUE QUIETO PREU LER AQUI!
- Certo, certo. Se estresse não que daqui a pouco seu estômago começa a doer...

(Puta-que-pariu)

(Perdoem os termos, caros leitores)

- Mamãe.
- João, olhe, parabéns! Você conseguiu. Parei de estudar. Agora pergunte logo o que você quer saber que eu tou quase sem paciência hoje.
- Certo. Pergunto.
- Pergunte, João...
- Certo.

- Mamãe.
- ...
- Certo, calma, vou perguntar!
- ... ...
- Mamãe.
- ... ... ...
- Quantos minutos tem meia hora?

(Aleluia Senhor)

- Meia hora tem trinta minutos, João.
- Certo.

- Mamãe.
- Diz.
- E quantos segundos tem em meia hora?
- Não sei, João. Não sou boa de matemática.
- E precisa ser pra saber disso?
- Precisa sim.
- Ah.

- Mamãe.
- Diz, João. Logo.
- E quantos milésimos de segundo tem em meia hora?




A própria mãe (que vocês já sabem de quem se trata) tomando seu café despreocupadamente numa manhã de sábado. O próprio filho (idem, ibidem) tomando café (ou fingindo que) ao lado dela.

- Mamãe.
- Oi.
- Não sei por que tem passarinhos que cantam os nomes deles e outros passarinhos que fazem as coisas que o nome dele diz...
- Como é João? Entendi nada.
- Ouxe! Como tu é lesa!
- Olhe João, comece a sessão falta-de-respeito não, que você sobe agorinha pro seu quarto e fica lá o dia todo viu?
- Certo. Desculpe.
- Vá, explique.
- Assim: tem passarinhos que cantam os nomes deles, como o Bem-te-vi e o Quero-quero; e tem outros que fazem as coisas que o nome deles diz, como o Beija-flor, porque ele beija a flor. Entendeu?
- João, é o contrario. O nome do Bem-te-vi é esse porque ele canta assim "bem-te-vi, bem-te-vi". E o nome do Beija-flor é esse porque ele beija a flor e tal. Entendeu? O nome deles é esse por causa do canto ou do que eles fazem, e não o contrario.
- E é?
- É.
- E o calopsita?
- Que é que tem?
- Por acaso ele faz calopsitas? Ou é o canto dele que é assim: "calopsita, calopsita"?

(Ai. Creiam em mim. Isso cansa. E como.)




Agora vejam bem. A pessoa leva anos apurando seu gosto musical. Gasta dinheiro comprando cds. Perde tempo baixando musicas. Lê sobre o assunto. Informa-se com os amigos. Descobre um artista maravilhoso. O marido importa da França o cd novo do dito cujo. O cd do dito cujo chega. Você fica feliz. Sente-se uma pessoa privilegiada. Deita no sofá. Esquece de tudo por alguns instantes. Reflete sobre como é gratificante estar ouvindo aquela musica divina. (Para efeito de esclarecimento é importante que os leitores saibam que a musica em questão é instrumental).

Ai chega seu filho, aquele ser que você mesma gestou em seu ventre fecundo por nove meses (tudo bem, por oito meses no caso de João), que é a pessoa mais preciosa do mundo pra você, que tem seis anos e que emociona e enlouquece você todo santo dia. Senta no sofá pertinho de você e solta:

- Por que essas musicas que tu escuta são assim?
- Assim como?
- Assim: tipo "karaokê"?



Aí tem as horas em que uma pessoa que é mãe morre de orgulho:

- Tenho que praticar bastante meus desenhos. Quando eu crescer eu quero ser pintor, igual ao Picasso e o Portinari.




Mas, eis que se coloca o dilema-mor da vida da mãe Motherna:

O que fazer quando seu filho de seis anos insiste em manter um penteado que deixa ele com cara de paspalho?


terça-feira, 11 de outubro de 2005

Cinco dias para a segunda da bateria de provas às quais me submeterei esse mês. Belo momento pra repensar a periodicidade desse blog e promover atualizações constantes. Tudo bem. Vamos ignorar momentaneamente esse fato e dar prosseguimento à reflexão.



Desde que eu me lembro, eu sempre adorei história. Sempre foi minha disciplina favorita. Acho que isso se deveu em parte à competência de uma professora que tive e que me acompanhou da oitava série ao cursinho pré-vestibular. Bem, o caso não é de discutir aqui os motivos da minha simpatia por esta ciência. O caso é que as coisas às vezes calham de acontecer no tempo certo, no tempo exato.

Quando eu fiz dezesseis anos eu ganhei da minha mãe uma coleção luxuosa e enorme sobre a historia da humanidade, uma coleção chamada Historia em Revista. Meus pais sempre mantiveram o habito de comprar coleções de livros. A casa da minha mãe é até hoje cheia delas por todos os cantos. Logo que eu comecei a falar, começaram a construir pouco a pouco o meu acervo pessoal. Minha infância foi marcada pelo lirismo da obra de Monteiro Lobato, pelas reinações de Narizinho, Pedrinho e Emilia.

Mas eu cresci e minhas obrigações escolares de certa forma me impediram de ler por inteiro as coleções que fui ganhando. A tal coleção de historia ficou guardada, à espreita, por quase dez anos. No momento em que resolvi vir morar em Campinas, minha mãe pôs-se a decidir "o que é meu, o que é teu" dentre nossos livros. Pois bem, a citada coleção veio comigo e ficou meses adornando toda uma prateleira das minhas estantes. Numa tarde qualquer de tédio, tirei o primeiro volume da coleção e comecei a ler, sem maiores planos ou pretensões.

E eis que uma pequena tempestade tomou de assalto a minha cabecinha. Não sei muito bem por que fui caindo de amores pela evolução das primeiras civilizações humanas, em especial pela maneira como foram sendo definidos os primeiros códigos de linguagem, muitos deles ainda indecifrados. Quando me dei conta já estava avidamente pesquisando e anotando minhas observações sobre o tema, não sei muito bem por que. O caso é que eu mudei um tanto o foco dos meus estudos em comunicação e talvez isso vá fazer uma diferença fundamental na minha vida, no modo como eu vejo o mundo. Se eu tivesse lido a coleção quando eu a ganhei, aos dezesseis anos, é claro que isso não teria acontecido.

Não vou ficar aqui discursando longamente sobre o tema; não, não é o caso. O caso é que, como existe uma possibilidade (ainda que remota, pois acho que não me dediquei o suficiente) de eu passar no concurso que fiz no domingo passado, e então começar a trabalhar no Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), os meus interesses teóricos em comunicação social e a minha busca profissional (e por que não dizer, também, pessoal?) correm o risco de sofrer uma tremenda metamorfose. E como eu sou um bichinho inquieto por natureza, esse troço todo anda me fritando os neurônios como poucas outras coisas conseguem fritar.


Por isso, pelos concursos, pelo que me espera no próximo ano, e por mais algumas coiselhas e coisudas, ando ansiosa como nem sei o quê. A ansiedade me rendeu uma dor crônica no estômago que marido, filho, mãe, demais parentes, amigos e professora de yoga de plantão classificaram como uma possível gastrite. Eu sei, eu sei, preciso ir num médico e cuidar disso direito. Mas a idéia de ter que fazer uma endoscopia arrepia todos os pelinhos do meu pobre corpinho. Enfim, veremos.



Semana passada vimos um filme maravilhoso. "Machuca", chileno, dirigido por Andrés Wood (Machuca, Chile / Espanha, 2004). Tudo bem, devo admitir que em certos momentos eu achei que o melodrama quase extrapolou o limite do razoável, mas mesmo assim a historia de dois pré-adolescentes (um muito rico e outro muito pobre) - cujos caminhos se encontram em meio à tensão dos meses que antecederam o golpe de Pinochet - comove sim. E muito. Certo, certo, Bruno diria: "mas pra comover Gio um filme não precisa ser necessariamente comovente; Gio é uma criatura que chorou no cinema vendo 'Lilo e Stitch'!" Admito mais uma vez: sou uma manteiga derretida, uma chorona compulsiva, uma sensível inveterada... mas, o filme é bom sim. Creiam em mim e leiam o resto. Ano passado tínhamos visto um outro filme de Wood, "Febre do Loco", que nos deixou perplexos com sua atmosfera mítica e sufocante. Esse cara tornou-se então nossa nova descoberta cinematográfica e estamos loucos atrás de outros filmes dele. Se tiverem oportunidade, não deixem de ver que os filmes valem mesmo o investimento.



Ouvindo de tudo um pouco enquanto estudo o dia inteiro (assim: eu acho que estudar é uma das melhores coisas que uma pessoa pode fazer na vida, mas vamos combinar aqui que cansa que só). Descobri que gosto da Joss Stone, embora às vezes ela seja meio pop. Loirinha, bonitinha, novinha, mas com voz grave, potente e enérgica como uma negona! E tem coisa mais bacana que vozeirão de negona? Tem nada. Mas a obsessão da semana é mesmo o Jonh Frusciante. Putz. Que é aquilo aquele homem hein? Apaixonada total eu agora. Gostava faz um tempo mas essa semana viciei. Em especial numa musica perfeita: "Murderers". Essa musica me leva a fazer associações boas demais, e posso ficar ouvindo ela a tarde inteira. Mas deixa quieto isso que tem coisas das quais não se fala.



Descobri a prosa nervosa e inebriante de Raduan Nassar. Li "Um copo de cólera" e, depois de assistir "Lavoura Arcaica" de novo (que continua sendo meu filme preferido), comecei a ler o romance no qual foi baseado o longa. De ¿Lavoura Arcaica¿ falo depois que é assunto muito. Deixa eu derramar meus elogios a "Um copo de cólera" aqui. O livro é curtinho, uma novela, pra ser lida de um fôlego só. O inicio é extremamente excitante. Mas excitante no sentido sexual do termo mesmo. (Não, eu não vou começar a falar de intimidades aqui. Sim, sim eu me considero uma pessoa liberada e sexualmente bem-resolvida. Mas... Não, não falemos disso que esse não é o espaço. D' accord, pode vir a ser um dia quem sabe. Mas vamos voltar ao post certo?). Então, nem superado o impacto do inicio, a narrativa começa a fluir com uma velocidade e uma vibração impressionantes e você se vê perdido em meio àquelas argumentações todas e de repente: o fim. Igualmente excitante. Uma delicia só esse livro. Emprestados de Andrei, ele e "Lavoura Arcaica". Andrei, mon cher, devo essa revelação divina a você! Recomendo, recomendo. Mas preciso transcrever um trechinho aqui (adoro transcrever trechinhos) pra dar uma amostrinha a vocês. Esse é o finalzinho mesmo, as ultimas linhas:

"...e até que me desloquei entre aqueles fragmentos e atravessei a peça toda, e so foi cruzar o corredor pr'eu alcançar a porta ali do quarto, boiando vagamente à luz tranqüila duma vela: deitado de lado, a cabeça quase tocando os joelhos recolhidos, ele dormia, não era a primeira vez que ele fingia esse sono de menino, e nem seria a primeira vez que me prestaria aos seus caprichos, pois fui tomada de repente por uma virulenta vertigem de ternura, tão súbita e insuspeitada, que eu mal continha o ímpeto de me abrir inteira e prematura pra receber de volta aquele enorme feto."



Nem sei se falei. Se falei repito, se não falo agora: fiz prova pro Iphan ontem. Melhor que eu esperava, mas chutei o balde algumas vezes. O jeito né? A gente sempre chuta o balde algumas vezes nessas provas sem-noção. Enfim, o resultado? Veremos.



Por causa da prova aproveitamos pra passar o dia lá em São Paulo mesmo. Viajamos às cinco da manhã e vou dizer uma coisa séria a vocês: ninguém no mundo merece acordar às quatro da madrugada de domingo. Nos meus dias de alforriada, essa é a hora mínima pra ir dormir, oras. Mas enfim. Fiquei a manhã toda quebrando a cuca e depois fomos almoçar num restaurante bacaninha (que esqueci geral o nome) providencialmente descolado na Vila Mariana. Pra compensar o coitado de João, que pulou da cama antes do sol sair, resolvemos fazer um programinha infatil à tarde. Fomos ao Instituto Butantã ver os bichinhos nojentinhos. João, é claro, amou todas aquelas cobras, aranhas, escorpiões, e lagartos horrorosos. Tá, beleza, também fiquei impressionada com a píton Albina (uma cobra loira, vejam vocês), a naja egípcia (com aquela cabeça de naja mesmo) e (horror dos horrores) a sucuri de cinco metros. Tão impressionada que tive dificuldades pra dormir. Eu moro em casa, perto daqui tem uma mata, sabe como é né? Então. E outra: como fez calor ontem. Caracas. Trinta e cinquinhos graus. E eu que fui toda cuidadosa ver a previsão do tempo na véspera: "céu parcialmente nublado com possibilidade de chuva à tarde". Sei, sei. Empacotei-me, empacotei João e quase que a gente tem um piriri de tão quente que estava o sol. Ô tempo doido o desse estado, minha deusa!



Rapaz, é aquela coisa: Orkut empolga no começo e depois enche. Entrei na fase do "enche". Os fantasmas do passado começaram a aparecer, deixar scraps, adicionar como amigo, adicionar no emessêne, mandar emails suspeitos e eu fui me invocando. Quase quase cometi orkuticídio, como diz Lumy. Mas eis que me aparecem uns amigos do colégio, outros da faculdade de direito (véi nadinha!) e primas há muito perdidas de vista. Fiquei com pena. Juro. Fiquei sim. Pensando melhor, deixa a pobre da minha conta lá mais um tempinho.



Ai que eu ia me esquecendo! Amigos pessoenses: alegrai-vos! Comprei minha passagem! Chego dia 14 de dezembro de novo na Paraíba-pequenina-mando-um-abraço-pra-ti. Ai que felicidade! Ops, depois da felicidade, a desgraça: fico duas semanas só. Fazer o quê né não? Nada é perfeito mesmo. Mas, como meu tempo será cruelmente corrido, já comecei a agendar festanças e passeinhos. Por isso queridos: atenção hein? Que eu não quero deixar de dar dois beijos estalados nas bochechas de nenhum de vocês!







terça-feira, 20 de setembro de 2005

Depois de ouvir um monte de reclamações de varias partes do mundo, decidi que era hora de perder um pouquinho de tempo atualizando meu blog. Criei coragem e me inscrevi em três concursos públicos. Depois criei um pouco mais de coragem e comecei a estudar de verdade. Pronto! Acabou-se todo o tempo livre que eu tinha e que reclamava tanto por ter! Mas como muitas coisas bacanas aconteceram nos dois meses que separam esse e o post anterior, eu vim aqui conversar um pouquinho com vocês.

Primeiro de tudo: leitores fantasminhas começaram a se manifestar. E é claro que achei isso o máximo! Leitores fantasminhas todo blog tem os seus. Ter um contador de visitas é legal e é chato por que você vê que um monte de pessoinhas entraram lá e leram sua saga (como disse uma vez minha amiga Larissa) mas você não faz idéia de quem são. É claro que a gente sempre conhece um ou outro leitor fantasminha e o mais legal de tudo é de vez em quando descobrir um leitor fantasminha novo. Esses dias descobri alguns. Fiquei feliz, mas isso me fez pensar no assunto. Uma vez Túlio disse que o chato de você não saber quem te visita é que você não pode agradecer as visitas. Concordo. Mas acho que o pior de tudo é algo que Bruno observou certa vez: quanto mais cresce o seu publico leitor, menos liberdade editorial você tem. E se você sabe que seu publico leitor cresceu, mas não sabe quem faz parte dele, sua liberdade fica mais restrita ainda. Não, esse não é um apelo pra que os leitores fantasminhas saiam da sombra. De medico, bruxo, louco e voyeur, todo mundo tem um pouco, e ficar na sombra é um direito que você, você mesmo, querido leitor fantasminha, tem e sempre vai ter, disso não abro mão. Esse é apenas um aviso: eu não sei quem você é, e como aqui eu digo o que eu quiser, às vezes você pode se decepcionar.

Segundo de tudo: as férias foram boas demais mas voltar representou uma bela surpresa pra nós (bem, pra mim, pelo menos). Percebi que eu até gosto de Campinas e que estar aqui de novo não é de todo ruim. Em Campinas estão os novos amigos que fizemos desde que chegamos; em Campinas está a nossa casa nova, que, depois de devidamente arrumada, ficou linda de morrer; em Campinas estão todos os restaurantes, lanchonetes, bares e botecos que freqüentamos e adoramos; em Campinas estão também a Escola do Sitio, a Padaria Alemã, a Fnac e mais um monte de outros estabelecimentos que tornam a vida da gente nessa cidade muito mais fácil.

Uma semana depois que chegamos passamos um final de semana muito agradável com nossos queridos amigos Aline e Carlos Feller. Bebemos barris de cerveja, comemos feijoada e churrasco até empanturrar, ouvimos e contamos boas estórias, vimos e tiramos boas fotos e nos divertimos horrores! Ainda em agosto fizemos um programinha meio infantil (afinal é preciso agradar os pequenos também, não é verdade?), mas muito interessante: visitamos o zoológico de Itatiba, uma cidade perto daqui. O parque é muito bonito mesmo, especializado em aves raras do mundo todo (mas com outros bichos também, pra alegria de João, que se apaixonou por seu primeiro tigre-de-bengala) e permite que você faça uma boa caminhada pra conseguir ver tudo. Se um dia vocês estiverem à toa na vida pelo interior de São Paulo, eu recomendo.

Bom, finalmente setembro chegou e logo no dia cinco chegaram da França minha cunhada Delphine e sua amiga Amandine. Não deu outra: férias de novo! Fomos até Paraty com elas, mas infelizmente não ficamos mais que um dia lá por conta do temporal que cismou de cair bem na hora que a gente chegou... Mesmo assim, deu pra caminhar um pouco pelo centro histórico da cidade, que é conservadíssimo e mais que emocionante. De lá pegamos a estrada de novo rumo ao Rio e ficamos quatro dias ótimos por aquelas bandas. Passeamos e passeamos, vimos e revimos pontos e parentes queridos da cidade. Voltamos pra Campinas e as meninas foram ver as cataratas em Foz do Iguaçu. Três dias depois voltaram e todos juntos fomos passar o ultimo sábado em São Paulo, passeando pela Avenida Paulista e pelo bairro da Liberdade. Uma montanha de fotos, claro, que depois mostro a todo mundo.

Alguns filmes bons, outros nem tanto. O ultimo foi médio. "Eterno Amor" (Un Long Dimanche de Fiançailles / França / 2004) de Jean-Pierre Jeunet, o mesmo diretor de "O Fabuloso Destino de Amelie Poulain". Como bem observou meu amigo Andrei é legalzinho, mas procura repetir a formula de Amelie, aí perde um pouco a graça. Assistam, mas não esperem um filme arrebatador.

Guiom trouxe da França pra mim um cd que me fez chorar dezenas de vezes. É o novo trabalho do multi-instrumentista bretão Yann Thiersen, que eu já conhecia e já amava. Esse trabalho porém tem uma carga de nostalgia tão grande que me comove e me desarma totalmente. Não é um cd bom. É um cd perfeito. Depois de ouvi-lo tive certeza de que numa outra vida eu já fui bretã como ele. Registrando: Yann Thiersen - Les Retrouvailles. Pelamordadeusa, ouçam!

Não tenho lido quase nada de ficção ultimamente. Muita coisa pra ler para os concursos. Mas semana passada ganhei "Extensão do Domínio da Luta" do francês Michel Houellebecq, considerado por muitos o melhor escritor europeu da atualidade. Guiom e Andrei adoram o cara, e falaram tanto dele que resolvi ler também. Ainda nem comecei, mas quando terminar faço um resumo pra vocês.

João conseguiu a façanha de perder quatro dentes em dois meses. Resultado: uma janela gigantesca e uma dificuldade maior ainda pra comer. Ultimamente a escola dele tem promovido uns debates sobre consumo, lixo e reciclagem. Agora ele se acha "o entendido" no assunto, e vive dando lições de moral na gente. Legal a idéia e tudo; mas levar bronca de João é, definitivamente, um saco.

PS: nesses últimos tempos descobri que não há nada melhor do que ter um cavaleiro medieval por perto ;)



sexta-feira, 22 de julho de 2005

Mais de um mês desde o último post. Muita coisa aconteceu, e é claro que não dá pra comentar tudo, por isso vou tentar fazer um resumo dos fatos mais marcantes.

Junho foi um mês de festas na escola de João. Festa junina, muitos aniversários, apresentação da turma da ginástica olímpica. João, claro, participou de tudo. E nós, claro, estivemos presentes em quase tudo. A festa junina foi linda e tudo, mas a turma de João não dançou uma quadrilha e eu estranhei. Dos milhares de aniversários eu cansei um pouco: comprar presente, escrever cartão, ir deixar, ir buscar.

Em um deles João foi vítima de um troço bizarro que eu só descobri o que era um dia desses: bullying; isso mesmo que você pensou, caro leitor: ele foi agredido física e verbalmente por crianças mais velhas. Quando ele nos contou, tive um ataque de desespero. Chorei por horas e me perguntei o que deveríamos fazer. Depois de muita discussão e conselhos de outras mães, decidimos que o melhor seria que a escola ficasse sabendo de tudo, antes de tomarmos qualquer atitude mais, digamos assim, drástica. A escola nos ouviu e garantiu que a vigilância seria redobrada. Combinamos com João que sempre que acontecesse algo errado ele contaria à professora, à coordenadora e a mim e que nenhuma de nós jamais revelaria que ele havia delatado os agressores. Fiquei um pouco mais calma, mas não com menos raiva das pestes que chutaram e xingaram meu filho. Sempre que penso no assunto tenho vontade de espancar cada uma das pestes. Mas sei que não é assim que as pessoas civilizadas resolvem as coisas. E eu sou uma pessoa civilizada, certo? Ou não?

Aí, finalmente nos mudamos da casa problemática. Uma trabalheira só, e eu não arrumei nem um décimo das coisas ainda. A mudança foi feita do sábado para o domingo e, mais ou menos sem querer, deixamos algumas coisas importantes dormirem na casa quase vazia. Não deu outra: arrombaram a casa pela terceira vez e levaram meu som portátil e meu computador caquético porém querido, com todos os meus textos, músicas, fotos e filmes dentro. Detalhe básico: eu nunca fiz um back-up sequer em toda a minha vida...

Mas como tragédia que é tragédia nunca vem sozinha, João, na última semana de aula, trombou com um menino na escola e abriu a cabeça. Só não foi pior porque era o dia da reunião de pais e eu estava lá, junto com todos os pais e professores que felizmente correram pra nos socorrer. No fim das contas e feitos todos os exames não foi nada grave, o que não significa que foi pouca coisa. Ele perdeu muito sangue, e sangue sempre assusta e traumatiza; desmaiou duas vezes e eu pensei que ele fosse morrer. Levou só três pontos, mas ganhou uma cicatriz horrenda. E eu confirmei minhas suspeitas de que essa criaturinha veio ao mundo pra testar a resistência do meu coração de mãe.

Dia 2 chegamos em João Pessoa. Nosso vôo foi péssimo, pelo menos pra mim, que detesto voar. Eu sei, eu sei, enjôos e turbulências fazem parte do pacote, mas eu jamais me acostumarei com qualquer dos dois.

Nossa vidinha na capital paraibana não poderia ser melhor: praia, piscina, piscina, praia. Almoçar com os quarenta membros da família reunidos, cair na farra com os amigos queridos, fazer turismo de brincadeirinha só pra rever lugares adorados , comer comidinhas que só encontramos aqui e tirar um monte de fotos sem noção com todo mundo. Como se não bastasse, ganhar duas festas de aniversário badaladíssimas e divertidérrimas e um monte de presentes bacanas demais. Será que o paraíso é aqui, hein?

Sim, eu tenho visto filmes. Filmes de super heróis, basicamente, já que entre os últimos estavam Batman Begins e Quarteto Fantástico. Empolguei-me com ambos. Perdoem-me. É que eu sou mãe de um menino de seis anos. Vocês imaginam como é que é, né?

Sim, eu tenho ouvido músicas. O acervo da minha mãe não é lá essas coisas, mas tem muito Chico Buarque e Quinteto Violado. E minha amiga-irmã Lumy (que teve a audácia de viajar, só por uns dias, é verdade, pro Rio com Gio em João Pessoa!) me deixou a case dela, recheada com todos os cds de The Cramberries, Radiohead, Red Hot Chili Peppers, The White Stripes e do mais que maravilhoso Nando Reis. Pra equilibrar a balança, João ganhou do meu primo Silvinho o cd com a trilha do Cavaleiros do Zodíaco. Não, meu ouvidos não merecem isso, mas eu tenho que confessar que senti saudades do tempo em que eu amava Seya e queria ser Saori.

Sim, eu tenho lido livros (e um monte de revistas também). Comecei aqui "Os Funerais da Mamãe Grande" de Gabriel Garcia Márquez, por indicação do meu querido Luís Carlos e "Mothern ¿ Manual da Mãe Moderna" de Ju e Laura (chequem no link da coluna ao lado), presente dos meus queridos Bruno e Dina.

Sim, eu estou feliz pra caramba, embora sinta falta de dividir essa felicidade com Guiom. Se eu fosse citar todas as pessoas queridas que encontrei, esse post não passaria de uma lista gigante de nomes. Mas não posso deixar de destacar minha enorme alegria em rever Patrícia e Fabien, que estão mudando da Guiana Francesa pra Natal, e minha enorme alegria em conhecer pessoalmente Paula, Sylvia e Pops. Agora só falta Manu, tomara que a gente consiga se encontrar antes de voltarmos as duas pros cantos em que estamos morando por enquanto.

Pra fechar, tem que ser com João, claro. As duas tiradas são de ontem à noite:

- Eu gosto mais de andar de avião do que de carro. Quer dizer, andar de avião não, que avião não é ambulante. É voante.

- Mamãe, guardanapo de papel é descartável, né? Mas o porta-guardanapos, não. Ele é cartável.

terça-feira, 7 de junho de 2005

Como falei no post passado, estamos de mudança programada. Ainda não assinamos os papéis mas a casa já está reservada. É uma casa pequena, bem menor do que essa, e por isso temo que João vá sofrer um pouco com a falta de espaço. Bem, melhor não começar a me preocupar com isso agora. Não tenho nada encaixotado mas já avisamos ao proprietário da casa em que estamos agora de que vamos embora, já fizemos o acordo quanto à rescisão do contrato de locação e já avisamos aos poucos amigos que fizemos aqui.

O chato dessa tentativa de arrombamento foi que ficamos presos em casa. O seguro ainda não mandou consertar a janela e ficamos com medo de deixar a casa sozinha e os mesmos ladrões burros tentarem, pela terceira vez, levar nossas parcas e preciosas coisinhas. Três semanas de clausura. Isso vale pra mim, é claro, pois meu marido e meu filho continuaram com suas atividades normais. Eu não. Fui nomeada guardiã invencível do nosso lar e tenho que passar meus dias aqui plantada, esperando a hora da mudança chegar.

Acredito que vocês, caros amigos, devem fazer idéia do tédio em que minha existência se tornou. Já era complicado não fazer muito além dos afazeres domésticos e das minhas atividades físicas esporádicas, agora então, a coisa virou um verdadeiro desafio. Tenho tentado me concentrar e estudar um pouco, estudar qualquer coisa, mas não adianta muito: sempre me pego distraída, pensando no que eu poderia estar fazendo se não estivesse aqui plantada, esperando a hora da mudança chegar.



Minha faxineira-anjo-da-guarda Bia decidiu que não vai mais voltar pra Campinas. Vai ficar lá no Rio mesmo, a coitada. A sorte é que ela tinha me deixado Márcia, irmã dela e minha faxineira-anjo-da-guarda reserva. Márcia agora não só é minha faxineira-anjo-da-guarda titular, como também é babá de João toda sexta à noite, quando eu e Guiom compramos nossa carta de alforria e podemos finalmente cair na naite depois de meses e meses de seca. De brinde, João ganhou um amiguinho: Gustavo, sobrinho da Márcia, que sempre vem passar a noite aqui com ela. E assim todos são felizes para sempre!



No quesito ficção, minhas leituras estacionaram em "A Morte em Veneza", de Thomas Mann, que eu engatei logo que terminei "Tonio Krueger", dele também. Não é que eu não tenha gostado do livro, até que gostei, mas a questão é que minha atenção foi desviada para outros gêneros literários, digamos assim. Mas isso é assunto pra um outro post.



Como agora eu sou uma pessoa que voltou a ir ao cinema, posso comentar o que andei vendo em telas grandes. "Cruzada" foi um tanto previsível; não é um filme péssimo; tem boas locações, boas atuações, o bonitinho do Orlando Bloom, a bonitona da Eva Green... mas é meio repetitivo. Saí da sala com a impressão de que tinha visto o mesmo filme pela sétima vez. Já "Star Wars - Episodio III - A Vingança dos Sith" teve outro impacto; não é um filme perfeito; tem atuações ruins, diálogos ruins, tem a Natalie Portman, que não convence ninguém como grávida... mas é bacana. Saí da sala emocionada com a cena da máscara negra sendo colocada no Anakin, e olha que eu não sou exatamente uma fã da série. Ah, um PS: Guiom ganhou de presente uma caixa com os episódios IV, V e VI mais um disco de extras. Bom demais, né não? O chato é que não tem legendas em português...



Tenho ouvido um pouco de música francesa pra variar. Mais especificamente o cd "Le Jour de Clarté" de Graeme Allwright. O disco todo é bom, uma grande mescla de estilos, mas linda de morrer mesmo é a música "Petit Garçon", que Guiom adora e que acaba me comovendo também.



Ontem falei por telefone com minha querida prima Raquel, que está grávida de sete meses de Mateus (que deve nascer enquanto estivermos em João Pessoa! (eba!)) e com minha mais que querida prima-afilhada Jéssyca, que segundo minha mãe está "uma mocinha". Fiquei superhiperultramastermega feliz, mas fiquei ainda mais saudosa... Ainda bem que dia 2 de julho tá quase chegando, né não?



João, o popular, vive sendo convidado para festinhas ou para passar o dia na casa dos amiguinhos. E é claro que vive também convidando amiguinhos para passar o dia aqui. Já era assim em João Pessoa, mas a diferença é que agora os amiguinhos são, em sua maioria amiguinhas. Tem a Julia, de quem já falei (ela já veio passar o dia aqui e João já foi passar o dia lá), a Mariana (que também já veio passar o dia aqui) e a Bruna (que convidou João pra passar o dia na casa dela na próxima sexta-feira). É, parece que a fase clube-do-bolinha finalmente passou.

As discussões filosóficas a respeito da existência humana têm rendido bastante aqui em casa. Esse foi o dialogo de ontem à noite (eu na cozinha, fazendo o jantar, João no meu pé, como sempre):

- mãe, é verdade essa estória de que os humanos são animais?
- é.
- mas os humanos são muito diferentes dos animais!
- é, os humanos são animais racionais e os outros são animais irracionais.
- como assim?
- os humanos pensam, raciocinam, os outros não.
- e como é que eles comem, andam, essas coisas?
- eles fazem as coisas por instinto.
- como assim?
- eles fazem as coisas porque são programados pra fazer.
- quer dizer que eles não fazem as coisas porque querem?
- não.
- peraí, eu sou humano, né?
- é.
- então eu sou racional.
- é.
- então eu faço as coisas porque eu quero.
- eh... é.
- então por que eu preciso tomar sopa todo dia se não é isso o que eu quero?

quarta-feira, 1 de junho de 2005

Post sim, post não, faço propaganda de um fotolog. Dessa vez é o meu. Não pude resistir à tentação e criei um. "Bruno vai morrer de me xingar", pensei comigo. Tou nem aí, viu, Brunito? Sei que até mesmo você vai acabar aparecendo por lá. Afinal essa é uma boa forma de compartilhar imagens (atuais ou não) nossas com todo mundo que está longe da gente.

Vai lá!

Que mundo pequeno! agora em imagens!

terça-feira, 24 de maio de 2005

Ser mãe é um troço bacana mesmo. Eu sei, o espírito do dia das mães passou faz tempo; eu sei, dia das mães é uma coisa superhipermastermega comercial; eu sei, eu já enchi o saco de todo mundo com a conversa sobre filhos do post passado. Não, eu não vou falar sobre como ser mãe é um troço bacana mesmo. Só queria dizer que eu adoro ganhar flores e presentes fofos, principalmente quando nem é meu aniversario.

Mais de um post em menos de um mês. Um recorde para os padrões desse pequeno mundo. O negocio é que eu ando com tempo livre. Tempo livre demais. Tempo livre é um sonho, um paraíso. Todo mundo vive buscando o tal tempo livre. No meu caso, tempo livre é uma merda. Tempo livre oriundo do desemprego, esse maldito. João e Guiom passam o dia fora de casa e eu passo o dia sozinha, em casa. Não é que eu não tenha o que fazer, claro que tenho. Donas de casa sempre têm coisas pra fazer aos montes e aqui em meus domínios, roupa limpa e comida fresca é lei. O pior de estar desempregado não é nem o fato em si, é o olhar enviesado da sua mãe e do seu marido, as pessoas às quais você passa a dever a sua alma.

Minha faxineira-anjo-da-guarda Bia viajou pro Rio. Foi passar uns tempos lá, lagarteando, a coitada. Quase morro intoxicada de inveja. E quando você começa a quase morrer intoxicada de inveja da sua faxineira, é hora de parar e pensar no que esta errado.

Pela primeira vez em minha vida eu enfrento o dilema que eu sempre quis enfrentar: dentre tantas opções de programas culturais, quais escolher para o próximo fim-de-semana? Estou comendo as unhas de dúvida, mas nunca minhas unhas foram tão saborosas. Enfim morar no Sudeste começa a fazer sentido pra mim, e já não era sem tempo.

Sábado dia 14 foi aniversário de Guiom e decidimos ir visitar duas exposições em São Paulo. A primeira do escultor inglês Henry Moore, em comemoração aos cem anos da Pinacoteca do Estado de São Paulo. A segunda, no MAM do Parque Ibirapuera, do acervo de Roberto Marinho, que conseguiu colecionar grandes obras dos principais artistas brasileiros do século XX. Eu nunca, ou raramente, falo aqui dos micos que pagamos, mas essa viagem teve trapalhadas tão absurdas que decidi compartilhar nossas aventuras com vocês, caros leitores.

Pra começo de conversa, nós, como qualquer pessoa normal, na minha humilde opinião, sempre nos perdemos em São Paulo. Tudo bem ate aí. O negócio complica porque Guiom, como todo homem normal, na minha não tão humilde opinião, detesta pedir informação ou encostar o carro pra examinar melhor o mapa. O mapa, é claro, fica sempre comigo, que não sou lá muito boa em orientação espacial, caso contrário não teria largado a faculdade de arquitetura no segundo semestre. Além de desorientada eu sou míope, o que me leva a precisar chegar o mapa pra perto dos olhos, senão eu não vejo porra nenhuma mesmo. Aí meu próprio marido tem uma síncope: daquele jeito, todo mundo vai ver a placa de João Pessoa do carro, a cara dele de gringo e a minha cara desolada diante do mapa de ruas de São Paulo e então vão assaltar, seqüestrar e matar os turistas. Um verdadeiro drama; e assim seguimos rodando pela cidade toda até conseguir chegar em algum lugar. Enfim, perto do meio dia chegamos na Pinacoteca. Vimos a mostra do Henry Moore em mais ou menos uma hora. João amou tudo, mas reclamou que as esculturas não eram coloridas (é uma criança exigente, sabe?). Na saída ficamos com fome. Pra não pagar dez reais por um pf naquela cidade inflacionada, levamos sanduíches e frutas na mochila. Meu plano era sentar no jardim da Pinacoteca e fazer um piquenique. Mas era sábado e o jardim estava cheio de gente com cara esfomeada. Então, meu próprio marido e meu próprio filho, assim, sem a menor cerimônia, sentaram no café chiquérrimo da Pinacoteca, cheio de gente intelectualizada e chiquérrima, abriram a mochila e puseram-se a comer o pão francês enrolado no papel bege da padaria. Momento-cara-no-chão. Fiz o que me pareceu correto fazer: dei um chilique, fiz um escândalo discreto pra não chamar ainda mais atenção, disse que não conhecia nem um dos dois e fui comer lá do outro lado, no jardim, com os esfomeados em volta e tudo. De lá fomos no MAM. O parque tem um lago cheio de patos, cisnes, garças e peixes espertinhos que só faltam falar pra pedir a comida da galera que fica relaxando na grama; em cima do lago tem uma ponte cheia de gente boba alimentando os animais espertinhos. Subimos na ponte e meus dois malas de estimação pediram comida pra jogar pros bichos espertinhos também. Dei uma bolacha só, pra não compactuar com aquilo. E me distraí, olhando o horizonte. Quando olho pros malas, estão os dois cuspindo no lago e morrendo de rir com a idiotice dos bichos que corriam ou voavam ou nadavam pra comer o cuspe deles. Momento-mais-cara-no-chão-ainda. Fiz o mesmo que da primeira vez: dei um chilique, fiz um escândalo não tão discreto, disse que não conhecia nem um dos dois de novo e sai de perto. Entramos no MAM e começamos a ver as obras. Mas aí já eram quatro da tarde e João estava de saco cheio de desenhos, pinturas, esculturas, instalações e afins. Meio emburrado, sentou num canto de parede esperando a hora de ir embora. Vi quando Guiom chegou perto dele para acalentá-lo e desliguei o modo mãe-alerta. Quando olhei em volta, cadê os dois? Entrei em pânico, interroguei todos os seguranças, alarmei todos os guias, funcionários, visitantes, Deus e o mundo. Chorei, chorei, berrei, berrei, e lembrei de dar mais um volta no museu. Quando cheguei no ultimo espaço notei que havia uma salinha exibindo um documentário. Entrei na salinha de cara inchada e dei de cara com os dois, sentadinhos , quietinhos, tranquilinhos. Dei um chilique gigante, fiz o escândalo-mor e nem me dei ao trabalho de dizer que não conhecia nenhum dos dois, fui embora do museu com eles correndo atrás de mim e todo mundo me olhando com uma cara de como-assim-os-dois-estavam-lá-o-tempo-todo-e-ela-não-viu-?. Passaram dois dias pedindo desculpas, mas até agora tenho raiva quando lembro. Falta de noção é um item em excesso nessa família.

Se eu disser que João ficou curado vou estar mentindo. Ele não teve mais febre, mas ainda tosse e vomita de vez em quando. Acabei de dar a ele o oitavo remédio desde que essa crise de sei lá o que começou e não sabia mais o que fazer, até que, conversando com as mães e professoras da escola, me disseram pra tentar inalação. Santo remédio! Foi a única coisa que conseguiu fazer aquela tosse de cachorro ceder um pouco. Já tinha levado o coitado ao hospital quatro vezes e, como aquela criatura é o Senhor Sociabilidade, todo mundo lá conhece a gente agora. Aliás, todo mundo de todos os lugares que a gente freqüenta conhece a gente por causa de João. Quando crescer vai ser vereador o menino.

Nossa atual querela com ele é deixar ou não que ele pegue o sotaque campineiro. Sim, porque, depois de cinco meses aqui ele já fala canetchinha (em vez de canetinha) e poreta (em vez de porta). Preciso nem dizer o que eu penso sobre o assunto, né? Por outro lado é preciso deixar que ele tenha liberdade pra falar como quiser, e falar como as crianças daqui é uma forma de se igualar a elas e inserir-se no grupo.

Tenho visto muitos filmes bons mas não estou exatamente a fins de fazer uma lista, por isso só vou falar de dois: "O Retorno" e "Bem-me-quer, Mal-me-quer". O primeiro é russo, sombrio, mítico e tem uma fotografia tão linda que chega a assustar. O segundo é francês, aparentemente leve, aparentemente colorido e me surpreendeu com a reviravolta na narrativa. Recomendo os dois, mesmo pra quem não simpatiza muito com o cinema russo ou com o francês.

Desde o dia 8 só escuto um cd: "Essa Boneca Tem Manual" de Vanessa Da Mata, que eu queria há um tempão e finalmente ganhei (ser mãe é um troço bacana mesmo). Vanessa tem uma voz poderosa e suave, e a criatividade de suas composições me faz lembrar minha amada Marisa Monte.

Domingo dia 15 aconteceu uma coisa sinistra: arrombaram de novo a janela da sala daqui de casa. Foi a segunda vez em pouco tempo e dessa vez fizeram um estrago grande. Como eram os mesmos ladrões burros da primeira vez, eles quebraram o vidro e o cadeado e entortaram tanto a estrutura de ferro que não conseguiram entrar e não roubaram nada. Tivemos sorte de novo mas não queremos ficar aqui pra ver um terceiro arrombamento, dessa vez quem sabe, mais bem sucedido. Já começamos a providenciar nossa mudança. Achamos uma casa num condomínio perto daqui, bem menor mas bem mais segura. E pra nos convencer de que é mesmo preciso ir embora, descobrimos que as duas casas da frente são um terreiro de macumba e uma boca de fumo. Nada especificamente contra macumbeiros e traficantes, que não quero entrar no mérito da questão, o caso é que meu marido francês não quer mais morar aqui de jeito nenhum.

Eu já falei da minha viagem aqui? Se não falei vou falar, é bom que todo mundo fica logo sabendo: chego em João Pessoa dia 2 de julho e só volto pra cá dia 8 de agosto. Bom demais, né não? O melhor de tudo é que vou assistir dois casamentos importantíssimos: o de Patrícia e Fabien (que já são casados em solo francês, mas querem fazer uma festinha brésilienne; que moram hoje na Guiana Francesa mas estão mexendo as anteninhas pra sair de lá; que são nossos padrinhos de casamento e estão grávidos!) e o de Isabella e Anderson, o casal mais centrado da zerozeroum (que além disso é o casal mais imbatível em termos de jogatinas quaisquer). Eu e João estamos contando as horas pro dia da viagem chegar...

quarta-feira, 11 de maio de 2005

Só pra fugir da regra (e enquanto meu sócio Bruno não organiza os links por aqui): a zerozeroum (codinome da nossa turma de faculdade, e agregados) tem um fotolog comandado por Milena Má. Quase todo mundo que passa por aqui tá lá, por que vocês não dão uma espiadinha?

Fotolog Zerozeroum e Ilustres Agregados

quarta-feira, 4 de maio de 2005

E então, de repente, sem mais nem menos e com o desespero típico das grandes catástrofes naturais, eis que pousa nada suavemente sobre nós um frio colossal. Eu ando me virando bem, com meus casaquinhos e minhas poucas experiências com baixas temperaturas. Meu pequeno João, no entanto, sofre. Comprei um monte de roupas quentinhas pra ele, mas não adiantou: quarta-feira eu e Guiom saímos de casa às sete da manhã para levá-lo ao hospital com uma febre de quase quarenta graus. Tomamos um susto quando a pediatra de plantão nos alertou para o risco de pneumonia. Meu coração parou por um longo instante. Senti os pés dormentes e vi as paredes girando ao meu redor. ¿Quero ir embora daqui¿ pensei na hora, quase sem querer. Quero mesmo, não é segredo pra ninguém. Nesse longo instante de delírio, eu quis mais do que nunca. Com os remédios, os cuidados, o repouso, João está melhor, mas ainda tosse muito. Estamos com medo, mas não há muito que possamos fazer além do que já fazemos.

Pior coisa da vida é ver filho sofrer. Imagine a pessoa que você mais ama no mundo. Agora imagine que você a ama muitas vezes mais. Então imagine ela sofrendo sem que você possa fazer muita coisa. Imaginou? Agora responda: você agüenta? Se agüenta, parabéns! Você já pode ter um filho! Ter um filho é isso. É mais do que enlouquecer e se emocionar todo dia. É ver a pessoa mais preciosa do mundo sofrer e não poder fazer nada às vezes. Primeiro porque às vezes você não pode fazer nada mesmo; segundo porque é preciso deixar sofrer, pois é sofrendo que a gente cresce.

Eu queria ter outro filho. Guiom acha que não temos estrutura financeira. Ele acha também que não tem estrutura emocional. Eu respeito. Tem gente que acha que para ter um filho é preciso somente grana, tempo, paciência e amor. Não é pouco, mas tem mesmo gente que acha que é só. E erra feio.

Ter um filho exige uma coisa que pouca gente tem e menos gente ainda está interessada em adquirir. Ter um filho exige desprendimento. O amor é a coisa mais importante. Mas, assim como não é o amor que segura um casamento, não é o amor que te habilita a ter um filho e criá-lo dignamente. Ter desprendimento é saber que seu filho é uma parte de você, mas que é uma parte de você fora de você, que um dia, vai levantar e sair andando pelo mundo com as próprias pernas. Ter desprendimento é saber que, embora seu filho sempre vá ser uma parte de você, ele é uma outra pessoa, com outras idéias e outros caminhos. Ter desprendimento é saber que seu filho dificilmente vai ser a pessoa que você gostaria que ele fosse, ou a pessoa que você queria ter sido e não foi. Ter desprendimento é amar o seu filho não importa quem ele seja; ou, quem sabe, não amar, e não se sentir culpado por achar que tem a obrigação de amar alguém que você despreza, só porque esse alguém é seu filho.

O problema é que quase todos os pais e mães que eu conheço não têm esse desprendimento. Minha mãe não tem. Ela me ama mais que tudo e eu a amo também e ela é uma mãe ótima. Mas desprendimento, esse de que eu falo, ela nunca teve. Sempre quis que eu fosse diferente. Mais alegre, mais convencional, mais gorda. Adiantou? Não. Tudo o que ela conseguiu foi que eu crescesse culpada por frustrar as expectativas dela. E olha que não eram poucas, visto que eu sou uma filha única que nasceu depois de um tratamento de fertilidade de seis anos, visto também que ela perdeu outros dois filhos em dois abortos terríveis que traumatizaram a família toda, visto ainda que ela perdeu o marido quando a filha do casal (essa que vos escreve) tinha apenas nove anos. Não foi fácil pra mim, mas pra ela deve ter sido um inferno. Eu entendo o quanto eu decepcionei; mas entendo também que eu não poderia ter deixado de engravidar aos dezoito anos, ter deixado de me casar com um estrangeiro tão esquisito quanto eu porque ele é o cara que eu amo, ter deixado de abandonar o curso de direito na metade porque eu odiava aquilo lá. Não poderia ter vivido uma vida que não era a minha só porque era a vida que minha mãe planejou pra mim. Eu fui a rainha da rebeldia sem causa na minha adolescência. Hoje eu sei que tudo o que eu queria era ser livre pra escolher. E eu fui livre, de certa forma, não posso dizer que não fiz minhas escolhas, porque eu fiz sim. Mas eu briguei muito por causa delas, e eu acho que eu não precisaria ter brigado tanto se a minha mãe tivesse compreendido o que se passava no meu coração.

Não sei como vai ser quando João crescer. Talvez ele escolha um caminho que seja totalmente contrário a tudo em que eu acredito, a tudo o que eu respeito. Se isso acontecer, eu espero sinceramente que nosso bom senso providencie toda a tolerância de que a gente precisar pra sobreviver, seguir em frente e ser feliz.


terça-feira, 19 de abril de 2005

Enfim faz calor em Campinas. Faz, na verdade, um calor terrivel, que não fica devendo nada ao calor do Nordeste. Parou de chover mas às vezes faz frio. Um clima louco, resumindo. Eu tento me acostumar e não reclamar muito, pois dizem que em um mês vai começar a nevar por aqui¿

João, o deslumbrado, ama tudo. De manhã, saindo pra escola, ele precisa usar um casaco por causa do vento gelado. E ele descobriu que ama usar casaco. Ao meio dia, quando chega da escola, ele precisa tomar banho no jardim porque a água do chuveiro é aquecida. Preciso nem dizer que ele ama tomar banho no jardim. No nosso jardim há cinco pés de acerola, que não pararam de dar frutos desde que a gente chegou aqui. A terra é preta e muito fértil. Aí já viu, João redescobriu sua relação com a natureza e vive de apanhar acerolas e plantar mudas ou sementes em potinhos de plástico. Nosso problema é com a fauna que prolifera abundante ao nosso redor : mosquitos de todos os tipos, baratas, ratos, sapos e, horror dos horrores, aranhas e cobras. A situação é tão crítica que até cogitamos a possibilidade de mudar de casa¿

Mas é facil deslumbrar-se aqui, principalmente para uma criança vinda de João Pessoa. Os parques são enormes, as livrarias são enormes, as videolocadoras são enormes, os shoppings são enormes ; tudo é bacana, limpo e organizado. Queria eu também estar deslumbrada com as coisas, mas infelizmente não sou muito impressionável e continuo querendo voltar correndo pra minha terra.

Guiom anda de saco cheio do trabalho, do calor, do Brasil. Em julho, enquanto eu estiver em João Pessoa, ele vai passar duas semanas na França, e eu sinceramente espero que ele mate a saudade de tudo lá, e volte um pouco mais animado, caso contrário, nossa ida para Paris virá bem mais cedo do que todo mundo imagina¿

Na última sexta-feira eu e João fomos passar a tarde na casa de uma amiguinha dele, a Júlia. Alias, a Júlia é a nova paixãozinha do João, os dois vivem grudados e se dão super bem. A tarde no condomínio onde ela mora foi ótima e nos divertimos pacas. Na casa dela tem uma cama elástica grande e eu e João fizemos a farra; depois fomos (com a Júlia, a mãe dela e as irmãs) pra piscina do clube que fica dentro do condomínio, e, farra mais uma vez. Depois fomos ao happy hour na casa dos vizinhos, com direito a vinho e tudo o mais. Conheci uma americana, a Jody, casada com um francês, e ela contou que os filhos dela, de cinco e três anos, falam inglês, francês e português. Ah, eu esqueci de contar que os pais da Júlia também falam em inglês com ela e as irmãs, de dez e doze anos (eles moraram sete anos nos EUA). Quando a Eneida (a mãe da Júlia) e a Jody me pergutaram se eu e Guiom falávamos em francês com João, eu respondi que não e fiquei me sentindo a maior ET. Mas, analisando bem, não é um pouco louco uma criança pequena falar três línguas ao mesmo tempo ?

No sábado foi o dia da entrevista da professora do João com os pais de cada criança individualmente. Ela falou mais ou menos o que eu já sabia : que o João conseguiu ser bem inserido e aceito no grupo (ufa!), que ele tem uma memória boa e uma criatividade fenomenal e que o problema com ele é que ele detesta perder numa argumentação. Aí fiquei pensando se isso não era um pouco culpa minha, pois toda vez que ele diz uma frase inspirada eu caio na risada achando aquilo o máximo, e não me preocupo muito em convencê-lo do contrário se ele está errado.

No domingo achei um site da escritora Sônia Hisch. Eu conheci a Sônia por indicação da minha amiga - irmã Lumy, que tem o "Só Para Mulheres", o melhor livro dela. Sônia escreve sobre a arte de viver bem a vida, o que inclui conselhos mais que úteis sobre alimentação, respiração, meditação, atividades físicas e saúde sexual. O site tem trechos de livros que fazem você ficar com vontade de comprá-los todos (bom, pelo menos é o que acontece comigo¿). Vale apenas dar ao menos uma espiada ; o endereço é www.correcotia.com.br.

Ontem eu peguei uma revista na sorveteria na qual batemos ponto toda semana. Uma revista legal, só sobre Barão Geraldo. Pra quem não sabe, Barão Geraldo é o distrito onde eu moro e onde fica a Unicamp ; é meio distante do centro de Campinas, mas pra mim, Barão é o que há de bom, tem de tudo aqui e o clima é uma mistura de cidade do interior com cidade universitária ; tem muita gente que defende a emancipação de Barão, mas acho que isso está longe de acontecer; em todo caso, só de gozação, eu costumo sempre dizer : "eu não moro em Campinas, eu moro em Barão", por causa disso, meu apelido agora é A Separatista. Enfim, adorei a revista, acho que vou assinar ; e um dia ainda edito uma revista assim. Se alguém tiver interesse em ler, deixo o endereço eletrônico : www.semana3.com.br.

Semana passada vi dois filmes do Woody Allen e adorei os dois. Um faz pate de um conjunto de três curtas chamado "Contos de Nova York" (os outros são do Scorcese e do Coppola, todos muito bons), e o outro chama-se "Zelig" e imita um documentário. "Zelig" é particularmente interessante, pelo formato, pelo humor refinado típico do diretor, pela crítica óbvia ululante à sociedade americana e pela atuação da Mia Farrow, que, para variar, desvia a atenção do personagem principal.

Guiom e João descobriram o Zé Ramalho e agora só escutam o cd duplo "Antologia Acústica". Fica chato porque eu tenho esse cd há anos e já escutei até dizer chega. Agora tenho que escutar de novo. Guiom acha o Zé genial, é o melhor cantor brasileiro do momento pra ele ; João diverte-se com as rimas. E eu me pergunto se sou só eu que às vezes acho o Zé inatingível¿ o que ele quer dizer com "não admito que me fale assim / eu sou o seu décimo-sexto pai" ou "disparo balas de canhão / é inútil pois existe um grão-vizir" ?

Dei um tempo na leitura de "O Povo Brasileiro" do Darcy Ribeiro e comecei a ler "Tonio Kroeger" do Thomas Mann ; estou gostando, é verdade, mas não entrará pra minha lista de favoritos. Apesar disso, senti especial empatia por alguns trechos:

E deixou a angulosa cidade natal, onde o vento soprava em volta das esguias cumeeiras, deixou o repuxo e a velha nogueira do jardim, os íntimos de sua infância, deixou também o mar que tanto amava e não sentiu mágoa com isso. Pois tinha crescido e ficara inteligente, compreendera o que se passava com ele e estava cheio de escárnio pela existência grosseira e baixa que por tanto tempo o segurara em seu meio.
Ele se entregou completamente ao poder que lhe parecia o mais elevado deste mundo, para os serviços aos quais se sentia destinado e que lhe prometiam grandeza e honra, ao poder do espirito e da palavra, que, sorrindo, reina sobre o mundo instintivo e mudo. Com seu jovem entusiasmo dedicou-se a ele, e este retribuiu-lhe com tudo o que tinha para presentear, dele tomando em pagamento, implacavelmente, tudo o que costuma exigir.
Aguçou o olhar, fazendo-o compenetrar-se das grandes palavras que enchem o peito do homem, descobriu-lhe as almas dos homens e a sua própria, deu-lhe clarividênia e mostrou-lhe o fim que está atrás das palavras e atos. Mas o que ele via era isto: comicidade e miséria ¿ comicidade e miséria.
Então veio a solidão, com o tormento e o orgulho da cognição, porque não se sentia bem no círculo dos inocentes com a alma alegre e obscura e estes, por sua vez, sentiam-se perturbados pelo sinal em sua testa. Mas a alegria nas palavras e nas formas se tornou cada vez mais doce para ele, pois costumava dizer (e já tomara nota disto) que o conhecimento da alma somente nos faria infalivelmente tristonhos, se o contentamento da expressão não nos coservasse acordados e alegres¿

quarta-feira, 30 de março de 2005

Mais uma vez decepciono quem apostou que eu iria abandonar o mundinho de uma vez por todas. A questão é que a vida em Campinas pegou o embalo e desceu rolando ladeira abaixo que nem uma pedrona enorme. Não, não estamos totalmente adaptados (no momento considero isso algo impossível de acontecer), mas caminhamos bem.

Descobrimos as vantagens de morar aqui: a quantidade e a qualidade de produtos e serviços e a facilidade de encontrá-los , a infra-estrutura bacana, a beleza da região, a proximidade de São Paulo e do Rio. Aproveitamos o quanto podemos; passamos o carnaval no Leblon e um sábado inteiro batendo perna na Avenida Paulista e no Parque do Ibirapuera. Assim, tudo isso é muito bom e tal, mas a saudade de João Pessoa e de todas as pessoas e coisas queridas é teimosa e cruel. Mais cruel ainda é uma possibilidade que posso vislumbrar no horizonte não tão distante: morar em Paris. Tudo bem, eu sabia que esse dia iria chegar, mas parece que ele vai chegar em menos tempo do que eu esperava. Aguardem mais detalhes no próximo capítulo.

João ama a nova escola. Três vezes por semana fica o dia todo lá e eu morro de saudade mas fico um pouco mais livre. Tem aula de música, expressão corporal, culinária, costura e ginástica olímpica; escola bacana é apelido. Apesar disso há alguns pontos nevrálgicos. É uma escola cara, cara pra caramba. Isso faz com que ele só conviva com riquinhos mimados (salvo raras exceções), o que me preocupa muito. Já sofreu discriminação algumas vezes por ser nordestino e eu fiquei uma fera. Agora todo mundo na escola tem medo de mim, hehehe. Mas ele gosta de lá, fez amigos e está feliz, é o mais importa, é o que vale.

Tenho feito longas caminhadas em um parque perto da nossa casa. Depois de andar quatro quilômetros dentro da mata me sinto bem, renovada, e aí nem parece que estar nessa cidade nem é tão ruim assim. Tenho praticado yoga também e finalmente consigo encontrar um pouco de calma e equilíbrio no turbilhão que foi a minha vida nos últimos tempos.

Estou ouvindo Franz Ferdinand e curtindo horrores. É pop demais, eu sei, e eles são uns metidos, eu também sei, mas o som é bom e quem quiser que fale mal que eu não tou nem aí. Estou lendo "O Povo Brasileiro" do Darcy Ribeiro; dizem que ele está ultrapassado mas eu sempre tive vontade de ler esse livro. Bem, e filmes, tenho visto um monte... Guiom disse que os filmes que eu gosto são sorvete de morango mas eu não me incomodo com esse tipo de insulto bobo e por isso vou recomendar algumas coisinhas pra vocês: "Queimando ao Vento", suíço; "As Bodas", russo; "Uma Relação Pornográfica", francês; 'Bem-vindos", sueco; "Terra dos Sonhos", americano. Não lembro os nomes dos diretores mas acho que não tem problema. Ah, e se houver cineclube na casa de alguém não me contem pra eu não morrer intoxicada com a inveja.

As últimas perguntas de João são meio antigas mas valem ser lidas:
- Minha escola tem seis mil metros quadrados, né? E metros redondos, tem quantos?
- Mãe, antes de eu ser bebê, eu era um macaco? (Tentando entender a Teoria da Evolução das Espécies)

Por enquanto é isso queridos amigos... saibam que estou roxa de saudades de todos vocês e sintam-se infinitamente beijados e abraçados com carinho!


domingo, 23 de janeiro de 2005

Como quase todo mundo que lê esse blog deve saber, hoje é aniversário do meu querido amigo Bruno. Além de desejar tudo de bom que há no mundo pra ele, hoje e sempre, eu lamento imensamente não estar perto dele nesse dia pra beber todas e mais algumas, cantar juntos desafinando e inventar coreografias breguérrimas. Mesmo assim quero que ele saiba que um pedaço do meu coração está e estará sempre em JP com ele. Todos os bjins do mundo pra tu Brunito!

quarta-feira, 19 de janeiro de 2005

Hoje, aliás como sempre, chove na cidade de Campinas. Hoje, aliás como sempre ultimamente, estou cansada, não sei bem do que. Ontem passei mal duas vezes, com náusea e dor no estômago. De repente, bateu um pânico: caracas! Estamos sozinhos aqui! Todo mundo que sai de casa e vai morar longe está sozinho de certa forma. Certo, tudo bem. A questão é: para alguém como eu ¿ uma criatura forjada pela solidão ¿ estar sozinho é um tanto assustador. Ontem Guiom e João foram dormir e eu fiquei acordada rondando a casa escura. Li, liguei o computador, desliguei. Liguei pra minha mãe. Meu estômago doía mas não havia nada que ela pudesse fazer. Chorei, não sei bem por que. Eu cresci, sou maior de idade, vacinada, eleitora, casada e mãe de uma criança de cinco anos. Apesar de tudo isso, às vezes acho que fiquei perdida em algum lugar da minha infância, esperando até hoje ser resgatada e enfim entrar com o pé direito na maturidade.

Esse foi um final de semana legal, apesar de começar triste, com a partida da minha mãe. Descobrimos parques legais, passeamos em dois deles. Descobrimos também uma sorveteria bacana e uma barraquinha de caldo de cana (!) com um parquinho que João adorou. Conheci um casal amigo de Guiom e fiquei aliviada por me sentir menos socialmente isolada nessa cidade. Passeamos pelo centro e por alguns bairros legais e percebi que Campinas não é tão feia como parece à primeira vista.

Finalmente acabei de desarrumar as caixas e minha casa ganhou uma cara de casa de verdade. Estou começando a gostar dela. Andei tendo um monte de idéias de decoração e estou empolgada com isso. O problema é que no momento a grana anda curta e minhas idéias brilhantes vão ter que esperar um pouco.

Nossos eletrodomésticos não funcionam muito bem aqui por causa da voltagem diferente. Assim, estamos temporariamente sem ouvir cds, o que não é de todo mau pois isso faz com que eu ouça rádio de novo.

Assisti "Jogo de Sedução" ("Dot the I" ¿ Espanha, Inglaterra - 2003) e gostei muito. Achei que seria meio clichê, mas não, até me surpreendeu. A direção é do inglês Matthew Parkhill (estreante em longas) e a fotografia, ótima, do brasileiro Affonso Beato (ele fez a direção de fotografia de "Tudo Sobre Minha Mãe" de Pedro Almodóvar). Além do roteiro, o elenco é o melhor de tudo: Natalia Verbeke (de "O Filho da Noiva") e o lindo, maravilhoso, fantástico e extraordinário Gael Garcia Bernal (no papel de um brasileiro!). Não vou falar da trama, pra não tirar a graça. Recomendo, recomendo.

Terminei de ler "O Evangelho Segundo Jesus Cristo" de José Saramago e confesso que fiquei bastante impressionada. Quando comecei a ler imaginei que seria um livro chocante, coisa e tal... Enganei-me redondamente. Saramago apenas dá um olhar diferenciado aos acontecimentos conhecidos da vida de Jesus e especula sobre o que tanto ele fez na adolescência (isso é a melhor parte). O livro tem passagens antológicas que eu adoraria comentar aqui, mas não irei fazer isso em respeito a Guiom, que está começando a ler o livro e me proíbe de falar dele. Prometo que quando ele terminar de ler eu faço meus comentários
.
João, sem mais nem menos, mudou de heróis preferidos. Agora ele tá nem aí pro Homem-Aranha e pros Power Rangers. O negócio dele no momento são os Cavaleiros do Zodíaco. Fica o dia inteiro me enchendo o saco; quer o cd, o dvd, a fantasia, tudo. E o pior, agora ele discute comigo o tempo todo, por qualquer coisa, porque eu estou sempre errada e ele sabe de tudo (palavras dele). Ontem ele ficou duas horas tentando me convencer de que se a avó dele mandasse um presente pelo correio, o presente chegaria na mesma hora aqui. Esgotados os meus argumentos ele me veio com essa:
- Ô mamãe, como tu é bobinha... nunca ouviu falar de teletransporte não?

quarta-feira, 12 de janeiro de 2005

Estou há quase um mês vivendo sob o céu nublado do sudeste embora seja verão em todo o país. Pra falar a verdade estou um pouco cansada de tanta chuva, de tanto desarrumar caixas, de tanto tédio. Nosso carro quebrou, o que nos deixa mais ou menos presos em Vila Santa Izabel (nosso bairro), que não é lá essas coisas. Já providenciei as coisas mais importantes como a escola de João, quase todos os móveis, faxineira e tal. Nunca pensei que ser dona de casa fosse um troço tão difícil. Sim, porque uma coisa é ser dona de casa perto da minha mãe, com a lavadeira da minha mãe, a cozinheira da minha mãe e a faxineira da minha mãe à minha disposição quando eu precisasse. Outra coisa é ser dona de casa sozinha, só eu e a casa, a casa e eu. Por enquanto minha mãe está aqui, mas dia 15 ela vai embora e pensar nisso me dá cólicas. Aliás, tenho sentido cólicas diárias, mais ou menos pelos mesmos motivos: saudades de João Pessoa, saudades dos meus amigos de João Pessoa, saudades da minha família de João Pessoa, do meu cachorro, da minha praia de Cabo Branco, dos meus cineclubes, de tudo o que ficou longe de mim. Campinas é uma cidade que não me diz nada, não me provoca nenhuma emoção. Minha casa não é tão ruim quanto pensei, mas fica do lado de uma mata e isso a torna desnecessariamente fria. Estou certa de que, uma vez no inverno, congelaremos. Guiom está bem no emprego, fazendo o que gosta. Eu vou atrás do mestrado na Unicamp, mas só quando me der coragem. Passei o Natal e o Ano Novo no Rio. Legal, mas ninguém no mundo merece aquela cidade completamente lotada de turistas. Na volta pra Campinas enfrentei minha primeira chuva de granizo e fiquei assustada. Não sei quando voltarei à Paraíba mas espero que seja em breve. João não se conforma com a mudança e todo dia pede pra ir embora. Isso, é claro torna tudo muito mais difícil, mas estamos tentando sobreviver. Nesse minuto estou bem, mas a qualquer momento me vem uma tristeza pesada e lenta que demora a passar. Mesmo assim o mundo, pequeno como é, segue girando sem parar.