quarta-feira, 25 de abril de 2007

é preciso temer michel houellebecq, é preciso temê-lo seriamente

Minha encarnação atual vem se degradando; não acredito que possa aguentar ainda por muito tempo. Sei que na minha próxima encarnação reencontrarei meu companheiro, Fox, o cachorrinho.

O bom da companhia de um cão é que é possível fazê-lo feliz; ele pede coisas tão simples, seu ego é tão limitado... É possível que, numa época anterior, as mulheres tenham-se visto em situação similar - próxima a de um animal doméstico. Havia provavelmente uma forma de felicidade domótica ligada ao funcionamento comum, que nunca conseguimos entender; havia provavelmente o prazer de constituir um organismo funcional, adequado, concebido para realizar uma série discreta de tarefas - e essas tarefas, ao se repetirem, constituíam a série discreta dos dias. Tudo isso acabou, bem como a série de tarefas; não temos mais objetivo realmente identificável; as alegrias do ser humano permanecem desconhecidas para nós, suas desditas, ao contrário, não desgrudam da gente. Nossas noites não vibram mais de terror nem de êxtase; vivemos apesar de tudo, atravessamos a vida, sem alegria e sem mistério, o tempo nos parece breve.



A possibilidade de uma ilha, página 11.

eu poderia tecer diversos comentários sobre esse trecho. mas quando o li pela primeira vez fiquei muda. e por isso, agora, prefiro ser fiel à minha reação primeira. portanto, calo-me.

terça-feira, 24 de abril de 2007

anotações sobre um sábado chuvoso

cenário: churrasco. ação: despedida de um amigo francês que retorna à pátria depois de longos anos brasileiros. personagens: casais, quase todos, à exceção de três ou quatro rapazes desacompanhados. distinção dupla: a primeira, homens de um lado _ ao redor da churrasqueira _ e mulheres do outro _ em frente à porta da cozinha; a segunda _ namoradas dos estagiários de um lado e senhoras casadas com filhos do outro.

e eu nisso tudo? apesar de ter quase a mesma idade das namoradas dos estagiários, e apesar de achar que conversas masculinas são em geral mais produtivas que conversas de donas-da-casa, foi junta dessas, das donas-de-casa que passei o churrasco inteiro. e foi somente junto delas que me diverti. todas as outras pessoas me pareceram demasiado aborrecidas, com suas estórias emocionantes e seus planos futuros mirabolantes. perdi, de vez, a paciência. coro com nelson rodrigues: "jovens, envelheçam!"

mas, o que isso quer dizer? estarei eu velha, enfim? incorporei eu a persona da dona-de-casa suburbana-classe-média, enfim? perdi eu de vista a pessoa que eu costumava ser pouco tempo atrás? talvez, talvez e talvez. não estou bem certa.

a questão é: se qualquer das indagações acima constitui uma verdade, ou ainda todas elas, não me incomodo nem um pouco.

pelo contrário. sinto mesmo é um grande dum alívio.

terça-feira, 10 de abril de 2007

e você sempre gostou deles, sempre foi fã, mas tudo sob controle

aí de repente você assiste maria antonieta e lá no meio do filme, numa cena com a qual você se identificou horrores, estão eles, os strokes eles mesmos."i wanna be forgotten" aquela coisa arrepiante toda. e o que ocorre com você então? você sonha. pois. com julian casablancas. e seus cabelinhos bagunçados caindo na cara. naquele clipe. o da água preta descendo pelas paredes. que nem é nem de longe a música que você mais gosta, mas o imaginário fantasioso da pessoa não é? é uma coisa assombrosa. você sonha com julian casablancas vestido com aquela roupinha branca brega e.. quem mais? você mesminha, lá, nadando na água preta com ele. não que você sinta qualquer atração especial por roupinhas brancas ou água preta e tal, mas é assim que é no seu sonho. e você se dá conta não é? que você está sofrendo da mais adolescente paixão platônica por um astro de rock. e você pensa, mas que coisa tão absurda não é? isso assim agora. ainda mais que você gosta dos strokes há tanto tempo não é? por que agora? sem contar não é? que você é casada há uns bons tempos já? será o efeito maria antonieta em sua vida onírica-cinematográfica? e você pensa mais uma vez. haverá, deuses todos, salvação para sua pobre alma enferma?

só guimarães rosa salva a pessoa nos momentos difíceis dessa vida

As aventuras de Lalino Salãnthiel na capital do país foram bonitas, mas só podem ser pensadas e não contadas, porque no meio houve demasia de imoralidade. Todavia, convenientemente expurgadas, talvez mais tarde apareçam, juntamente com a estória daquela rã catacega, que, trepando na laje e vendo o areal rebrilhante à soleira, gritou - "Eh, ahuão!..." - e pulou com gosto, e, queimando as patinhas, deu um pulo depressa para trás.
Portanto: não, não fartava. As huris eram interesseiras, diversas em tudo, indiferentes, apressadas, um desastre; não prezavam discursos, não queriam saber de românticas histórias. A vida... Na ritinha, nem não devia de pensar. Mas, aquelas mulheres, de gozo e bordel, as bonitas, as lindas, mesmo, mas que navegavam em desafino com a gente, assim em apartado, no real... Ah, era um outro sistema.
Aquilo cansava, os ares. Havia mal o sossego, demais. Ah, ali não valia a pena.
Ir-se embora? Não. O ruim era só no começo; por causa da inveja e das pragas dos outros, lá no arraial... Talvez, também, a Ritinha estivesse fazendo feitiços, para ele voltar... Nunca.
Caiu na estripolia: que pândega! Antes magro e solto do que gordo e não... Que pândega!
Mas, um indivíduo, de bom valor e alguma idéia, leva no máximo um ano, para se convencer de que a aventura, sucessiva e dispersa, aturde e acende, sem bastar. E Lalino Salãnthiel, dados os dados, precisava apenas de metade do tempo, para chegar ao dobro da conclusão.

página 78, "Traços biográficos de Lalino Salãthiel ou A volta do marido pródigo", em Sagarana

porque não é? é uma grande verdade, essa. a aventura sucessiva e dispersa aturde e acende sem bastar. eu nem sei, sabem? porque eu concordo. mas concordo. nem deveria ser assim, eu penso. a aventura. não é com ela que a gente sonha dormindo e acordado, mesmo que nunca admita pra si mesmo ou para os outros? todo mundo aí queria ser peter pan ou pedrinho do sítio do pica-pau quando era criança ou era só eu? a aventura, ela mesma. que nunca basta, quando a gente a tem. é sempre longe, é sempre pouca. e a gente sabe disso. no fundo a gente sabe. que é com ela, a aventura, ela mesma, que a gente sonha, e que quando ela é real ela nunca satisfaz. porque não é? nada satisfaz a gente de todo nessa vida, nesse mundo. nem a aventura. que deveria, mas não satisfaz. e não é triste isso? que a gente sonhe dormindo e acordado com a aventura e que ela chegue e atordoe a gente e a gente perceba que, que puxa, eu queria tanto e agora eu tenho e, ó, nem me sinto assim pleno como eu pensava que iria me sentir. como eu pensava que deveria me sentir. tem sempre né? essa falta infeliz, esse vazio que nada preenche. é humano isso né? deve ser. bruno diria que isso é falta de roupa suja pra lavar, mas eu, sabem, eu duvido disso. a roupa suja pra lavar não preenche o meu vazio. nem a aventura. não de todo. e eu me pergunto se é comigo isso. ou se é assim que é e ponto. e eu me pergunto se isso um dia vai acabar. porque né? cansa. e me dá medo. viver a vida toda sentindo isso. mas, sabem, é a impressão que eu tenho. que isso nunca vai passar. e, sabem, não é nada alentador ter essa impressão. mas né? é preciso ter força, é preciso ter raça, é preciso ter gana, sempre. e isso também cansa. talvez ainda mais que tudo o mais.
às vezes tudo o que eu queria era adormecer deitada na areia da praia, na sombra de um coqueiro, e demorar bem muito a acordar.

terça-feira, 3 de abril de 2007

é a época da procriação dos blogs da pessoa

mas desta vez a pessoa não está só!

osambadonumeroirracionaldoido.blogspot.com

mas, é aquela coisa, esse mundinho daqui segue em seu passo lento e arrastado como sempre.

e sim, eu continuo recebendo sugestões de como fazer o final de semana passar mais rápido, sim.

domingo, 1 de abril de 2007

eu não sei se eu já disse isso aqui, mas eu tou dizendo agora então _ de novo, ou não

eu odeio finais de semana. sério. não é pra ser excêntrica, não.
agora eu lembrei. eu já disse aqui sim, disse que eu adorava segundas-feiras. pois. porque elas são o atestado de óbito do final de semana. e é quando, enfim, eu posso respirar aliviada.
porque, vejam. eu gosto de rotina. não, mentira. rotina me faz bem. não é exatamente gostar, passa perto, mas não é. eu gosto de me programar com antecedência, de anotar compromissos na agenda, de fazer listas de compras ou tarefas e depois ticar ao lado do que foi comprado ou realizado. aliás, eu adoro listas. de tudo. eu tenho um monte de caderninhos com as listas mais variadas que vocês podem imaginar. pra dar uma idéia: eu tenho um caderninho com uma lista das citações que eu já escrevi nas cartas para os meus amigos. uma lista com as citações, as datas das cartas e o nome dos amigos que receberam as cartas com as citações. eu também gosto muito de limpeza e organização. arrumar o armário é ótimo. é sim.
então, mas voltando à rotina e ao problema com os finais de semana. finais de semana não têm rotina alguma à qual eu possa me apegar. eu me sinto perdida. e solta no mundo. e eu odeio me sentir assim. talvez seja a sensação que eu mais detesto. me sentir perdida e solta. eu gosto de saber onde eu estou e de sentir meus pés no chão.
pois bem. toda sexta à noite começa a minha crise do final de semana. às vezes calha que o final de semana é agradável e prazeroso e tudo bem, beleza. mas no mais das vezes não é. ou até é, mas aí, em determinado momento eu me dou conta de que sim, ainda é final de semana, e pronto, eu começo a me sentir esquisita.
é o que ocorre agora. ontem foi um dia razoável. eu dormi à tarde, vi dois filmes bacaninhas, comi brownie, tomei suco de açaí com banana e abacaxi mais caldo de cana, joguei basquete com joão e li o veríssimo. hoje também, não foi nada mal, fui a um churrasco e comi queijo de coalho assado enquanto conversava com franceses, belgas e americanos sobre a diferença no custo de vida em diferentes lugares do planeta. e conheci crianças que moram num orfanato numa cidade perto daqui. e fiquei pensando numa forma de fazer pelo menos uma delas mais feliz.
aí, percebam. eu cheguei em casa e clique. me dei conta de que é domingo à noite ainda. e eu cansei já. eu quero a segunda. e, puxa vida, não foi um final de semana tão ruim assim, ora bolas, por que não é? por que raios eu preciso ficar aflita com um final de semana que já quase acabou?
não sei por que. eu sei que eu fico. e aí venho aqui ó, encher a paciência de vocês com a minha implicância para com o final de semana. e escrevo esse post, que não tem graça nenhuma e que só serviu pra eu desengasgar. porque, percebam, eu precisava dizer isso. isso que é quase uma blasfêmia. que eu odeio finais de semana. ponto.
se alguém aí tiver uma dica de como fazer o sábado e o domingo passarem mais rápido, eu tou aceitando sugestões hein?