segunda-feira, 28 de novembro de 2005

Mantendo todos informados sobre o andamento das mudanças em nossas vidas: Guiom passou na dinâmica de grupo que fez no Rio. Era a terceira etapa do processo de seleção e agora ele terá que fazer algumas entrevistas. Agora deixem eu ir ali procurar casa e escola e etecéteras em Petrópolis.



Listando os progressos: consegui pegar uma rodovia assustadora e ir a um shopping meio longinho, sozinha e dirigindo! E estou muitíssimo orgulhosa de mim mesma. Parece besteira né? É que vocês não tem noção de como as rodovias paulistas me apavoram..



Religamos o modo filme-obscuro: Sin noticias de Dios. Assim: o negócio de que o céu e o inferno estão completamente ligados e são interdependentes me soou pouco original e pareceu cópia do Saramago em "O Evangelho Segundo Jesus Cristo"; o fato de no céu falarem francês e no inferno falarem inglês, apesar de parecer meio obvio, me divertiu. Não é um filme estupendo mas é legal. E pensem assim: não é sempre que a gente pode ver Gael García Bernal (Lindo! Tesão! Bonito e gostosão! Foi péssimo, eu sei, perdoem. É que esse ser humano me tira do sério..) e Penélope Cruz e Victoria Abril juntos num filme né não?



Ouçam Devendra Banhart e sintam-se por alguns momentos perdidos numa comunidade hippie em plenos anos sessenta. Eu garanto: é uma viagem e tanto. Ah sim: e dancem. Com os braços pra cima e os pés descalços e coroas de flores na cabeça. E fechem os olhos e imaginem asas de borboleta nascendo em suas costas e sintam uma luz lilás envolvendo vocês e.. bom.. chega né? A única pessoa que se chama Gio aqui sou eu. Pois.



"Lavoura Arcaica" acabou e como eu previ fiquei totalmente deprimida. Primeiro porque eu adoro essa estória. Segundo porque os amores contrariados são infinitamente mais interessantes e comoventes que os amores satisfeitos. E terceiro porque eu sou assim mesmo: sugestionável até o limite do socialmente aceitável.. E todos os escritores e cineastas e compositores fizeram um pacto "vamos abalar Gio todos ao mesmo tempo agora porque é muito divertido". Tenho dito.



Frases e frases. Eu já disse que eu adoro frases? Acho que não. Então: eu adoro frases. E trechinhos. E poemas. Essa eu conhecia faz tempo mas reli dia desses e senti um arrepio de identificação:

Não perca a mágica do momento concentrando-se no que está por vir.
(H. Jackson Brown Jr.)

O que está por vir promete ser bom demais da conta. Mas esperar pela festa já é curtir a festa não?

quarta-feira, 16 de novembro de 2005

Leitores amigos, deixa eu sentar aqui pertinho de vocês e dividir o meu "drama da semana".

Todo mundo que lê esse blog há um tempinho sabe a peleja que foi minha mudança pra Campinas né? Pois então. Abandonar a terrinha, a mãe, o cachorro, a família, os amigos, os planos, os sonhos. Foi difícil pra caramba. E vocês querem sinceridade? Pois. Ainda é difícil. Muito. Mesmo assim, a gente se esforçou. Considero que nesses onze meses conseguimos nos adaptar bem. Falta muita coisa, eu sei. Falta coragem pra andar sozinha de carro no centro, falta plantar uma arvore na porta de casa, faltam amigos. E que falta fazem os amigos.. aos poucos fui vendo o lado positivo de morar aqui. Aos poucos fui refazendo meus planos, meus sonhos. Aos poucos, caminhando. E então uma noticia abala a paz do meu lar:

Guiom passou numa seleção de trainees com a qual ele sempre sonhou.

Em Petrópolis, no Rio de Janeiro.

Primeira coisa que eu disse: "não vou nem amarrada". Imaginem vocês: logo agora que eu comecei a me acostumar? Logo agora que eu refiz meus planos e sonhos? Levantar acampamento de novo? Nem morta!

Depois de muita conversa, as partes interessadas (o marido, claro, e minha mãe, que acha que Petrópolis vai ser melhor pra todos nós) conseguiram me acalmar um pouco. Comecei a pensar que talvez não seja uma tragédia completa essa mudança. De qualquer forma, não é definitivo. Guiom tem que passar em mais uma etapa do processo de seleção. Enfim, veremos.

Só uma coisa a dizer: cigano perde viu?



O nome dessa família é "pé-no-mundo" (precisa explicar?) né não? Pois. Em três semanas, quatro passeios bacanas demais: Joaquim Egidio, distrito charmoso daqui de Campinas; Itu, cidade com um patrimônio histórico e arquitetônico super rico e bem conservado; centro histórico de São Paulo, que a gente começou a viciar naquela cidade; e Embu das Artes, cidadezinha cujo nome diz tudo. Nos dois primeiros passeios comemos bem demais: comida mineira em Joaquim Egidio e alemã em Itu. E sejamos francos: comer bem é que há né não? Pois. Nos quatro passeios João emburrou rapidinho. Sejamos francos mais uma vez: nenhuma criança de seis anos agüenta ficar o dia todo vendo paisagens bucólicas ou igrejas barrocas ou edifícios modernistas ou esculturas metidas né não? Pois. Sem-noção demais eu e Guiom.. Juro e prometo que mostro as fotos do centro histórico de São Paulo e de Embu. Depois que agora bateu uma preguiça básica de organizar a pilha de imagens..



Nosso amigo Vincent esteve aqui esse final de semana. Vinha da Filadélfia, depois de trabalhar oito meses la', e ia pra França tocar a vida. Muito bom mesmo ter amigos em casa. E eu esperando Dona Dina, que esta' perdida na Selva Paulistana, dar as caras por aqui!



Assim: eu sou a rainha do filme-alternativo-obscuro-do-qual-ninguém-mais-ouviu-falar. Eu sei disso e todo mundo sabe também. Mas esses últimos tempos resolvi dar umas chances pro cinema comercial e me dei bem. Montes de coisas boas! Listinha que eu adoro listinhas:

House of Sand and Fog (EUA / 2003)
In Good Company (EUA / 2004)
We don't live here anymore (EUA / 2004)

Depois listo os outros senão não consigo falar de tudo.

House of Sand and Fog é tristissimo. Dirigido pelo russo radicado nos EUA Vadim Perelman. Até Guiom que é uma rocha pra se emocionar em filmes ficou balançado. Confesso que quase que não agüento o tranco. Identificação total com os dois lados do conflito do filme: a menina perdida-sozinha-vazia e a família que procura um canto no mundo pra chamar de seu, já que foi impedida de viver no seu canto de verdade. Jennifer Connelly linda como sempre e Ben Kingsley bom como nunca. In Good Company é despretensioso e divertido, faz rir e faz pensar na vida. Só não gostei mais porque adoro a Scarlett Johansson, e nesse filme o papel dela - que no inicio parece central - perde importância com o tempo. We don't live here anymore é meio pancada. Sobre casamentos e traições. Mais que isso: sobre o tédio e como ele pode corroer a vida e o amor e mudar radicalmente as prioridades. Desse eu nem esperava tanto e me surpreendi geral. Recomendados os três então.



Descobertas musicais do mês: Sons and Daughters, Kings of Convenience e Arcade Fire. Três bandas ótimas que valem a pena ser ouvidas pelo menos uma vez (vamos lá! Não sejamos preconceituosos!). Ricardo Feltrin, que eu adoro demais, disse uma verdade sobre todas as bandas queridinhas do momento ("grupelhos ingleses" hehehe). Tudo bem tudo bem. Pode ser que daqui a pouco a febre passe e descubra-se que os talentos não eram tão talentosos assim. Mas enquanto isso aproveitemos o auge dos moços e moças certo?



Ainda não terminei de ler Lavoura Arcaica porque estou com medo de ficar deprimida quando acabar. Revi o filme antes de começar a ler e fico embasbacada com a fidelidade dele à linguagem e à estrutura do romance. Continua sendo meu filme preferido, e o livro corre o sério risco de se tornar meu livro preferido também. Esse é o maravilhoso capitulo 2 do livro, que o narrador lê todinho e igualzinho logo no começo do filme:

Na modorra das tardes vadias na fazenda, era num sitio lá do bosque que eu escapava aos olhos apreensivos da família; amainava a febre dos meus pés na terra úmida, cobria meu corpo de folhas e, deitado à sombra, eu dormia na postura quieta de uma planta enferma vergada ao peso de um botão vermelho; não eram duendes aqueles troncos todos ao meu redor, velando em silêncio e cheios de paciência meu sono adolescente? Que urnas tão antigas eram essas liberando as vozes protetoras que me chamavam da varanda? De que adiantavam aqueles gritos, se mensageiros mais velozes, mais ativos, montavam melhor o vento, corrompendo os fios da atmosfera? (meu sono, quando maduro, seria colhido com a volúpia religiosa com que se colhe um pomo).




So' informando: passei na primeira etapa do concurso do Iphan mas não passei na segunda. É.. A vida pode ser bem cruel apesar de ser boa demais às vezes.. Agora é juntar os cacos (de novo e de novo e de novo) e procurar mais um caminho pra seguir..