A revista Época dessa semana trouxe uma matéria intitulada "Só as mães são sinceras". Eu não gosto da Época. Eu nem devia dizer isso, agora que eu tenho uma amiga que é repórter lá (Rê, tu lê isso aqui? Diz que não, vai). Mas eu tenho que admitir que essa edição foi feliz abordando esse tema espinhoso. Pra resumir, a matéria fala sobre como as mães de hoje _ entendam, as mães com filhos relativamente pequenos, e que têm qualquer idade entre 20 e 40 anos _ estão cada vez menos temerosas em assumir que sim, ter filhos é dramático. E segue, falando dos blogs das mães modernas porém desesperadas, e de como esses veículos, de certa forma, auxiliaram essa mudança de postura diante da maternidade.
Porque vocês lembram. Cinqüenta anos atrás as mães eram somente mães e pronto. Não se esperava muito delas e elas ficavam quietas. Aí veio a tal da revolução feminista e as mães tiveram que trabalhar fora, subir na carreira, administrar bem a casa, dar beijinhos e coisinhas mais aos maridos antes de irem dormir, ter um corte de cabelo bacana, usar as roupas do momento, entender o mundo e acompanhar as noticias, sair com os amigos e se divertir com eles, dedicar-se ao restante da família e, ainda por cima, como se tudo isso não bastasse, criar filhos bonitos, inteligentes, saudáveis e felizes.
Percebem o grau de irrealidade da condição humana desse ser. Não é difícil concordar que essa mãe jamais de la vie conseguiria operacionalizar tudo isso. E nunca conseguiu. Minha própria mãe é uma prova cabal disso. Alguma coisa, uma delas, ou duas, acabou sempre ficando de lado. Às vezes calhou de ser a filha. Mas as mães produtos do feminismo eram (e são) incapazes de assumir que falharam. E essa é a diferença entre essa geração e a geração de mães na qual a minha pessoa está inserida.
As mães da geração de mães na qual a minha pessoa está inserida ainda têm que trabalhar fora, subir na carreira, administrar bem a casa, dar beijinhos e coisinhas mais aos maridos antes de irem dormir, ter um corte de cabelo bacana, usar as roupas do momento, entender o mundo e acompanhar as noticias, sair com os amigos e se divertir com eles, dedicar-se ao restante da família e, ainda por cima, como se tudo isso não bastasse, criar filhos bonitos, inteligentes, saudáveis e felizes.
A diferença crucial é que as novas mães são sim capazes de assumir não somente que falham, mas também de gritar bem alto pra todo mundo ouvir: não, tudo isso, eu não consigo. E mais, têm a coragem de pensar e verbalizar a frase complexa:
TER FILHOS É DRAMÁTICO.
É claro que não são todas as mães. Eu conheço um monte delas que age como se a maternidade fosse a coisa mais celestial dentre as coisas terrenas. Pessoas, às vezes é. Mas muitas vezes, não é de maneira alguma.
Ter filhos não é só dramático. É monótono, solitário e angustiante. Faz a gente ter vontade de morrer. Faz a gente ter vontade de matar. O filho, inclusive. Faz a gente se perguntar "putz, o que foi que eu fiz da minha droga de vida?". Faz a gente se arrepender e pensar que sem aquela criaturinha pequena, gorducha e chorona, a gente poderia estar num lugar longe e bacana, curtindo a vida adoidado.
É verdade. Mas pouca gente assume. Ou assumia, porque, graças aos deuses, e aos blogs, essa falsidade generalizada anda capengando.
Eu mesma. Por mais que eu sempre tenha pensado tudo isso, eu não lembro de ter dito de maneira clara nenhuma vez. Lendo a matéria eu me dei conta disso. E vim correndo escrever esse post.
Porque entendam. João é tudo na minha vida. E é uma criança altamente bem resolvida, que nunca me deu muito trabalho. Mas eu fiquei grávida aos dezoito anos, de uma cara que não significava muita coisa, e tive que rebolar, rebolar e rebolar pra fazer faculdade, trabalhar, namorar, manter os amigos e cuidar dele. Não, pessoas, não foi fácil, vocês devem imaginar. E teve umas horas demasiado trágicas, em que eu cogitei dar veneno a ele e depois tomar uma dose eu também. Ora bolas, a pessoa surta. Quem não tem filhos não deve ter muita noção, mas a pessoa definitivamente surta. É preciso um bocado de apoio, autocontrole, terapia e (por que não?) remedinhos faixa preta pra agüentar o tranco.
Mas o mais importante é: revelar A Verdade às demais pessoas. Ter filhos é dramático. Não se enganem. Pensem cinco vezes antes de casar. Pensem cinco mil vezes antes de ter filhos. No fim das contas, é uma criaturinha, sem culpa da sua maluquice, que você põe no mundo, e que merece ser bonita, inteligente, saudável e feliz. E você, uma vez que pôs ela no mundo, tem toda responsabilidade sobre isso. E precisa estar pronto pra encarar.
Então, ficamos assim combinados. Não façam filhos sem querer muito isso, certo? Já que a gente não consegue diminuir a infelicidade nesse mundo bandido, pelo menos, vamos evitar aumentar, né?
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22 comentários:
Eu não ando muito lendo blogs de mães, é verdade, mas já li muitos blogs. Muitos mesmo. E confesso que nunca vi muito esse tipo de confissão não. Mas deve ter por aí, se saiu na Época e tudo. Que é dramático é, não tenho dúvida, apesar de não ter filhos. Já vi gente com filho novo e tenho alguma idéia. Das discussões sobre ter filhos que eu já vi na Internet eu tiro uma coisa principalmente: não entendo a fixação que as pessoas têm por "transmitir seus genes". Sei que é comum, mas é meio estranho para mim.
Andrei
Este é o Clube das Mães. A primeira regra do Clube das Mães é: você não pode falar sobre o Clube das Mães. A segunda regra do Clube das Mães é: você NÃO pode falar sobre o Clube das Mães.
Andrei
ai Gio, te respeito tanto.
e com teu post fiquei morrendo de medo e morrendo de curiosidade de ter filhos.
mas sabe que o que me fez adiar tanto, e o que me tem feito adiar ainda mais? justamente isso tudo o que voce disse. bom saber que alguem entende!
beijos
Manu | Homepage
hehehe. adorei, andrei.
rapaz, sabe que... eu não sou mãe mas vou falar, porque sou mulher e tem coisas que a gente sente mesmo antes. pois então, tem aquela história de que ter filhos significa não morrer de vez, não sumir de vez. tem a ver com o medo da mortalidade da gente. mas não quero me aprofundar em nada, não, até porque não saberia. fato é que não é muito racional, isso. e pras mulheres ainda menos. fico olhando aquelas barrigas enormes, os padecimentos da gravidez todos, peso, xixi, respiração ruim, inchaços e tal... e penso como pode ser, que mesmo assim só penso na maravilha de gerar e depois ver nascer, e depois de meses vc conhecer aquela pessoinha que foi vc quem criou ali dentro de vc. clichê até umas horas, mas esse mistério é um negócio que me fascina demais.
liuba
mas ó, saco todos os perigos. a fascinação não me enrola, não. ;)
liuba
eu quero pq quero transmitir meus genes. e tenho certeza q nunca vou ser uma mae problematica.
Bruno
Além de toda esses poréns de foro íntimo da mãe, ainda tem a escalada da violência, o aquecimento global, as altas taxas de juros, o trânsito caótico, a overdose de informação, a selvageria do mercado, gordura trans, as neuroses, sem contar q em 2050 os peixes já terão acabado. Essa turminha q vem por aí não vai ter vida fácil..
Luís
escalada da violencia eh um clichê do caralho :P
Bruno Ricardo
Eu tenho a solução: não tenha filhos, tenha filhAs.
45iso | Homepage
Gio, não me mate do coração! Tudo bem: ter filhos é dramático. Tudo bem: Na cabeça da gente passa todo tipo de cogitação, até mesmo desistir da própria vida. Mas de modo algum, de modo algum dê lugar (digo, dê cabimento, alimente etc) a qualquer pensamento que atente contra a sua vida e a de seus queridos. Que preciosidade que é João! E que mulher extraordinária que você é! Desejo que consiga sempre enxergar a calmaria que sucede toda tempestade. Beijão!
Breno | Homepage
Gio, afilhadinha, tem coisas que nem adianta repetirem pra gente mil vezes, pq simplesmente não sossegamos enquanto não vivemos. Todo mundo diz que namorar é melhor que casar e etc, mas eu tô doida pra casar. e filhos? estes tbm fazem sim parte dos meus planos. bjão. saudades
mi_al
toma, ailton hehehe
Bruno
milena não sabe na encrenca q quer se meter... ¬¬
tonton
faltam*
Mythus
Eu não sei se conseguiria me realizar na vida completamente sem ser pai. Talvez adote, talvez faça, mas ser pai é imperativo. Só falta uns detalhes...
Mythus
fazer é prazer. Assumir é sumir
tonton
sabe kem eu vi ontem? Virginia. tornei a ver akela derrota depois de 5 anos. tava com uma pulseira prateada q me lembrou um pedaço da armadura de seiya de pegasus. o diabo veste prata.
Bruno | Homepage
Pensei agora seriamente sobre a existência de Anderliza e Andarella, minhas queridas filhas gêmeas... Ser mãe é uma vontade que eu só tive por um momento... não, quero agora não. Por enquanto estou criando duas plantas. Mulher, eu vim aqui, não comentei, mas li e amei a sinceridade. Agora eu comentei, ó!
Zabella
Imagino a barra que vc passou sendo mãe tão jovem. Eu já fui mãe madura e apanho todos os dias. Né moleza não...
Fefê | Homepage
toda vez que chego e vejo aquele 'revista época' ali em cima dá uma agonia nos nervos! (...) tudo bem, não é pra tanto. muito trabalho?
Liuba
Depois dessa, vou dizer mais nada não.
Andrei
Menina, vou te falar, esse teu post tá demais. Ontem mesmo eu tava com a minha terapeuta dizendo exatamente isso: "Que saco ter filho! Quesacoquesacoquesaco!". Não sei como não saí de lá com uma receita de tarja preta. kkkkkk Ter filho é foda mesmo. Uma das melhores e piores coisas deste mundo, credo! A não repetir.
Philio
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