sexta-feira, 3 de novembro de 2006

A revista Época dessa semana trouxe uma matéria intitulada "Só as mães são sinceras". Eu não gosto da Época. Eu nem devia dizer isso, agora que eu tenho uma amiga que é repórter lá (Rê, tu lê isso aqui? Diz que não, vai). Mas eu tenho que admitir que essa edição foi feliz abordando esse tema espinhoso. Pra resumir, a matéria fala sobre como as mães de hoje _ entendam, as mães com filhos relativamente pequenos, e que têm qualquer idade entre 20 e 40 anos _ estão cada vez menos temerosas em assumir que sim, ter filhos é dramático. E segue, falando dos blogs das mães modernas porém desesperadas, e de como esses veículos, de certa forma, auxiliaram essa mudança de postura diante da maternidade.

Porque vocês lembram. Cinqüenta anos atrás as mães eram somente mães e pronto. Não se esperava muito delas e elas ficavam quietas. Aí veio a tal da revolução feminista e as mães tiveram que trabalhar fora, subir na carreira, administrar bem a casa, dar beijinhos e coisinhas mais aos maridos antes de irem dormir, ter um corte de cabelo bacana, usar as roupas do momento, entender o mundo e acompanhar as noticias, sair com os amigos e se divertir com eles, dedicar-se ao restante da família e, ainda por cima, como se tudo isso não bastasse, criar filhos bonitos, inteligentes, saudáveis e felizes.

Percebem o grau de irrealidade da condição humana desse ser. Não é difícil concordar que essa mãe jamais de la vie conseguiria operacionalizar tudo isso. E nunca conseguiu. Minha própria mãe é uma prova cabal disso. Alguma coisa, uma delas, ou duas, acabou sempre ficando de lado. Às vezes calhou de ser a filha. Mas as mães produtos do feminismo eram (e são) incapazes de assumir que falharam. E essa é a diferença entre essa geração e a geração de mães na qual a minha pessoa está inserida.

As mães da geração de mães na qual a minha pessoa está inserida ainda têm que trabalhar fora, subir na carreira, administrar bem a casa, dar beijinhos e coisinhas mais aos maridos antes de irem dormir, ter um corte de cabelo bacana, usar as roupas do momento, entender o mundo e acompanhar as noticias, sair com os amigos e se divertir com eles, dedicar-se ao restante da família e, ainda por cima, como se tudo isso não bastasse, criar filhos bonitos, inteligentes, saudáveis e felizes.

A diferença crucial é que as novas mães são sim capazes de assumir não somente que falham, mas também de gritar bem alto pra todo mundo ouvir: não, tudo isso, eu não consigo. E mais, têm a coragem de pensar e verbalizar a frase complexa:

TER FILHOS É DRAMÁTICO.

É claro que não são todas as mães. Eu conheço um monte delas que age como se a maternidade fosse a coisa mais celestial dentre as coisas terrenas. Pessoas, às vezes é. Mas muitas vezes, não é de maneira alguma.

Ter filhos não é só dramático. É monótono, solitário e angustiante. Faz a gente ter vontade de morrer. Faz a gente ter vontade de matar. O filho, inclusive. Faz a gente se perguntar "putz, o que foi que eu fiz da minha droga de vida?". Faz a gente se arrepender e pensar que sem aquela criaturinha pequena, gorducha e chorona, a gente poderia estar num lugar longe e bacana, curtindo a vida adoidado.

É verdade. Mas pouca gente assume. Ou assumia, porque, graças aos deuses, e aos blogs, essa falsidade generalizada anda capengando.

Eu mesma. Por mais que eu sempre tenha pensado tudo isso, eu não lembro de ter dito de maneira clara nenhuma vez. Lendo a matéria eu me dei conta disso. E vim correndo escrever esse post.

Porque entendam. João é tudo na minha vida. E é uma criança altamente bem resolvida, que nunca me deu muito trabalho. Mas eu fiquei grávida aos dezoito anos, de uma cara que não significava muita coisa, e tive que rebolar, rebolar e rebolar pra fazer faculdade, trabalhar, namorar, manter os amigos e cuidar dele. Não, pessoas, não foi fácil, vocês devem imaginar. E teve umas horas demasiado trágicas, em que eu cogitei dar veneno a ele e depois tomar uma dose eu também. Ora bolas, a pessoa surta. Quem não tem filhos não deve ter muita noção, mas a pessoa definitivamente surta. É preciso um bocado de apoio, autocontrole, terapia e (por que não?) remedinhos faixa preta pra agüentar o tranco.

Mas o mais importante é: revelar A Verdade às demais pessoas. Ter filhos é dramático. Não se enganem. Pensem cinco vezes antes de casar. Pensem cinco mil vezes antes de ter filhos. No fim das contas, é uma criaturinha, sem culpa da sua maluquice, que você põe no mundo, e que merece ser bonita, inteligente, saudável e feliz. E você, uma vez que pôs ela no mundo, tem toda responsabilidade sobre isso. E precisa estar pronto pra encarar.

Então, ficamos assim combinados. Não façam filhos sem querer muito isso, certo? Já que a gente não consegue diminuir a infelicidade nesse mundo bandido, pelo menos, vamos evitar aumentar, né?

22 comentários:

gio disse...

Eu não ando muito lendo blogs de mães, é verdade, mas já li muitos blogs. Muitos mesmo. E confesso que nunca vi muito esse tipo de confissão não. Mas deve ter por aí, se saiu na Época e tudo. Que é dramático é, não tenho dúvida, apesar de não ter filhos. Já vi gente com filho novo e tenho alguma idéia. Das discussões sobre ter filhos que eu já vi na Internet eu tiro uma coisa principalmente: não entendo a fixação que as pessoas têm por "transmitir seus genes". Sei que é comum, mas é meio estranho para mim.

Andrei

gio disse...

Este é o Clube das Mães. A primeira regra do Clube das Mães é: você não pode falar sobre o Clube das Mães. A segunda regra do Clube das Mães é: você NÃO pode falar sobre o Clube das Mães.

Andrei

gio disse...

ai Gio, te respeito tanto.
e com teu post fiquei morrendo de medo e morrendo de curiosidade de ter filhos.
mas sabe que o que me fez adiar tanto, e o que me tem feito adiar ainda mais? justamente isso tudo o que voce disse. bom saber que alguem entende!
beijos

Manu | Homepage

gio disse...

hehehe. adorei, andrei.
rapaz, sabe que... eu não sou mãe mas vou falar, porque sou mulher e tem coisas que a gente sente mesmo antes. pois então, tem aquela história de que ter filhos significa não morrer de vez, não sumir de vez. tem a ver com o medo da mortalidade da gente. mas não quero me aprofundar em nada, não, até porque não saberia. fato é que não é muito racional, isso. e pras mulheres ainda menos. fico olhando aquelas barrigas enormes, os padecimentos da gravidez todos, peso, xixi, respiração ruim, inchaços e tal... e penso como pode ser, que mesmo assim só penso na maravilha de gerar e depois ver nascer, e depois de meses vc conhecer aquela pessoinha que foi vc quem criou ali dentro de vc. clichê até umas horas, mas esse mistério é um negócio que me fascina demais.

liuba

gio disse...

mas ó, saco todos os perigos. a fascinação não me enrola, não. ;)

liuba

gio disse...

eu quero pq quero transmitir meus genes. e tenho certeza q nunca vou ser uma mae problematica.

Bruno

gio disse...

Além de toda esses poréns de foro íntimo da mãe, ainda tem a escalada da violência, o aquecimento global, as altas taxas de juros, o trânsito caótico, a overdose de informação, a selvageria do mercado, gordura trans, as neuroses, sem contar q em 2050 os peixes já terão acabado. Essa turminha q vem por aí não vai ter vida fácil..

Luís

gio disse...

escalada da violencia eh um clichê do caralho :P

Bruno Ricardo

gio disse...

Eu tenho a solução: não tenha filhos, tenha filhAs.

45iso | Homepage

gio disse...

Gio, não me mate do coração! Tudo bem: ter filhos é dramático. Tudo bem: Na cabeça da gente passa todo tipo de cogitação, até mesmo desistir da própria vida. Mas de modo algum, de modo algum dê lugar (digo, dê cabimento, alimente etc) a qualquer pensamento que atente contra a sua vida e a de seus queridos. Que preciosidade que é João! E que mulher extraordinária que você é! Desejo que consiga sempre enxergar a calmaria que sucede toda tempestade. Beijão!

Breno | Homepage

gio disse...

Gio, afilhadinha, tem coisas que nem adianta repetirem pra gente mil vezes, pq simplesmente não sossegamos enquanto não vivemos. Todo mundo diz que namorar é melhor que casar e etc, mas eu tô doida pra casar. e filhos? estes tbm fazem sim parte dos meus planos. bjão. saudades

mi_al

gio disse...

toma, ailton hehehe

Bruno

gio disse...

milena não sabe na encrenca q quer se meter... ¬¬

tonton

gio disse...

faltam*

Mythus

gio disse...

Eu não sei se conseguiria me realizar na vida completamente sem ser pai. Talvez adote, talvez faça, mas ser pai é imperativo. Só falta uns detalhes...

Mythus

gio disse...

fazer é prazer. Assumir é sumir

tonton

gio disse...

sabe kem eu vi ontem? Virginia. tornei a ver akela derrota depois de 5 anos. tava com uma pulseira prateada q me lembrou um pedaço da armadura de seiya de pegasus. o diabo veste prata.

Bruno | Homepage

gio disse...

Pensei agora seriamente sobre a existência de Anderliza e Andarella, minhas queridas filhas gêmeas... Ser mãe é uma vontade que eu só tive por um momento... não, quero agora não. Por enquanto estou criando duas plantas. Mulher, eu vim aqui, não comentei, mas li e amei a sinceridade. Agora eu comentei, ó!

Zabella

gio disse...

Imagino a barra que vc passou sendo mãe tão jovem. Eu já fui mãe madura e apanho todos os dias. Né moleza não...

Fefê | Homepage

gio disse...

toda vez que chego e vejo aquele 'revista época' ali em cima dá uma agonia nos nervos! (...) tudo bem, não é pra tanto. muito trabalho?

Liuba

gio disse...

Depois dessa, vou dizer mais nada não.

Andrei

gio disse...

Menina, vou te falar, esse teu post tá demais. Ontem mesmo eu tava com a minha terapeuta dizendo exatamente isso: "Que saco ter filho! Quesacoquesacoquesaco!". Não sei como não saí de lá com uma receita de tarja preta. kkkkkk Ter filho é foda mesmo. Uma das melhores e piores coisas deste mundo, credo! A não repetir.

Philio