quarta-feira, 15 de fevereiro de 2006

Um post nos moldes antigos, pra variar da variação.



Nossa vida campineira segue no seu passo arrastado. A especialização só começa em março, o que significa que eu estou de molho ainda. Guiom volta e meia fica ainda mais cansado do trabalho e do Brasil e dos brasileiros, mas até mesmo isso é normal aqui em casa. João peleja pra acostumar com o ritmo da primeira série, com suas lições de casa diárias e visitas ao parque escassas. Nossa vida campineira segue enfim.



Ontem voltei a caminhar no parque dos patos. Não, é claro que o parque tem um nome e tal, mas João né? Batizou o parque de "dos patos" e pronto, ficou. Engraçado é que eu esqueço e falo pras pessoas: "lá no parque dos patos" e as pessoas "onde?". Mas não era isso que ia falar. Eu ia falar que voltar a caminhar no parque dos patos é uma coisa realmente ótima pra minha pessoa. Quando voltei a fazer yoga no ano passado eu parei de caminhar. Tá bom, eu confesso: fiquei com medo de emagrecer. Isso mesmo: medo de emagrecer ainda mais. Quem me conhece sabe o palito que eu sou, o tiquinho que eu como e a minha gigantesca dificuldade pra conseguir ganhar umas gramas a mais. Mas não era isso que eu ia falar, cada vez mais repetitiva minha pessoa se torna. Eu ia falar que caminhar é uma coisa realmente ótima porque me faz muito bem; que grande novidade isso, claro que caminhar faz bem pra qualquer um, mas não era isso coisetal. Eu me sinto mesmo muito em casa naquele parque, eu me sinto mesmo muito tranqüila à sombra daquelas árvores, eu me sinto mesmo muito em paz olhando aquele laguinho de águas paradas. E eu sou mesmo muito impressionável. Fiquei lá caminhando e ouvindo Adriana Calcanhoto dizer que "transito entre dois lados de um lado, eu gosto de opostos, exponho meu modo, me mostro, eu canto para quem?" e chorei. Sério. Chorei em plena manhã de terça-feira em pleno parque repleto de pessoas. Chorei enquanto caminhava à sombra das árvores e olhava o laguinho de águas paradas. Chorei enfim. Problemas hein?



Conforme vocês podem deduzir do parágrafo anterior, eu ando ouvindo Adriana Calcanhoto bem muito. Nada de novo no front, só os velhos sucessos mesmo. Que essa criatura me emociona deveras. Modos que eu preciso ouvi-la quando fico sensível. Aí pronto. Dana-se tudo. Que eu fico ainda mais sensível. Conforme vocês podem deduzir do parágrafo anterior. Porque assim, eu também "faço longas cartas pra ninguém"; eu também "perco o chão, eu não acho as palavras"; eu também "tenho por principio nunca fechar portas"; eu também muitas coisas mais. Mas xeu parar por aqui que a situação tá ficando complicada.



Aí eu finalmente vi On Connaît la Chanson (o nome em português é "Amores Parisienses" bleh) que é super antigo e eu era doida pra ver porque eu amo de coração Agnes Jaoui. E era um musical. E eu sabia. E eu desprezo musicais. E eu gostei mesmo assim. Que nem era um musical como os outros e era muito mais divertido. O que não significa que o filme era uma comédia. Se vocês forem catar ele por aí vão dizer que é uma comédia. Mas, creiam em mim que eu sei do que eu falo. Não esperem dar deliciosas gargalhadas nem muito menos derramar um sofrido pranto. É um filme francês minha gente. É blasé, altamente blasé. Como filmes franceses no geral. Aliás, se vocês não costumam gostar de ou se identificar com ou qualquer coisa + filmes franceses, não vejam, que não vai rolar. Filme francês é meio como religião: ou a pessoa abraça ou então não rola de jeito nenhum. Só um lembrete, especialmente destinado a Bruno: Jaoui é a diretora de Le Goûts des Autres, que também não é exatamente uma comédia. Enfim, preciso refazer o discurso não. Então pronto, pra quem viu esse filme, não é preciso dizer mais nada.



Lendo Tchekov de Janet Malcolm. E gostanto horrores. O livro é assim: "Uma viagem à vida do escritor" + "37 contos traduzidos do russo" por Tatiana Belinky. Eu ainda não cheguei nos contos e já me apaixonei por Anton Pavlovitch Tchekov. E eu nem sou chegada a biografias. Mas essa me pegou pelo pé. Não que Tchekov tenha tido uma vida excepcional. Justamente por isso. Ele não era nada persona, como a maioria dos artistas. Não tinha uma vida dificílima de alcoólatra falido e exilado como Dostoiévski, nem era um profeta com apelo de celebridade internacional como Tolstói. Era uma pessoa totalmente comum. Pra um cara que aos vinte e poucos anos foi considerado um dos maiores escritores russos de todos os tempos ser uma pessoa comum é bastante coisa. E vamos aqui combinar que ser uma pessoa comum muitas vezes é o que há. Esse é um dos casos.


Ainda em "Lendo Tchekov" mas nada a ver com ele: em determinado momento, Malcolm descreve uma refeição que ela fez em Yalta, uma decadente cidade ucraniana.

Sempre fico sensibilizada com comida simples, bem preparada; com a idéia de que uma pessoa estranha que nunca vou encontrar se deu ao trabalho de cuidar do meu jantar, cozinhando-o com perfeição e arrumando-o com elegância num prato. Sinto como se algo amistoso e generoso estivesse sendo irradiado na minha direção. E, inversamente, sinto algo mal-intencionado e agressiva na comida pretensiosa e descuidada servida nos hotéis. E mesmo os pratos elegantes e rigorosamente preparados dos bons restaurantes muitas vezes fazem com que eu me sinta consciente do egocentrismo dos seus realizadores: estão fazendo aquilo por amor à arte, não por mim.

Eu sinto isso também. Sempre senti e sempre achei que era meio maluquice minha sentir. Foi engraçado ler alguém falando exatamente o que eu falo pra mim mesma (e não pros outros, pra ninguém achar que é maluquice minha). O fato é que ontem fomos jantar num restaurante francês muito bacana. Bacana e com comida preparada "por amor à arte", o que não quer dizer que o chef era egocêntrico ou qualquer coisa. Eu gosto de lá em geral, comida, decoração, vinhos, atendimento. Mas ontem não pude deixar de notar que meu lindo prato - que era truta e tinha um nome francês complicadíssimo - era mais lindo do que gostoso.

Mas então a gente entra noutra estória que eu queria discutir. Algumas semanas atrás eu pensei em começar a falar de comidas e bebidas aqui, porque comer e beber bem são coisas que realmente me interessam e me fazem feliz e me dão margem pra falar bastante. Aí Bruno (esse post falando dele direto, sei não; vai ficar se achando), sempre ele - minha consciência bloguística, disse que falar disso era coisa de "gente refinada", o que pra mim soou como "gente metida". E eu, óbvio, fiquei cabreira com isso. E nem falei nem nada. E fiquei me perguntando se devia ou não falar. Uma dúvida-martelo em meu cérebro crepita e a alma se agita aflita, disse certa vez Chico César. Então isso vai ser uma pesquisa, certo? Querendo, manifestem-se que eu gostarei de ouvir opiniões. Não querendo, calem-se para sempre. Ei, esse final era brincadeira viu?

13 comentários:

gio disse...

ora, ser refinado nao significa necessariamente ser metido. tudo depende do q a pessoa faz com seu refinamento.. dá pra ser metido sem ser refinado e, perfeitamente, o contrario. vc nao eh metida de jeito nenhum. tu e dina pra me entender errado.. e, p/ ficar claro, eu dou força pra vc falar de seus jantares e vinhos refinadérrimos. ;) // uma mulher chamada malcolm? estranho.. // ei, vc botou os filmes franceses todos num saco, ignorando a grande variedade daquela cinematografia! ora, o (mau) gosto dos outros nao tem nada a ver com o closet, que por sua vez nao tem nada a ver com qualquer um de luc besson, e por aih vai..

Bruno

gio disse...

Meu amor, eu venho aqui porque gosto de ler tudo sobre voce: um cadinho de sua vida (pq de voyeur todo mundo tem um pouco), das suas opinioes, das suas vivencias, dos seus gostos, etc. Se vc quiser falar de comidas e bebidas, dar receitinhas que seja (coisa que eu sempre pensei em colocar no meu e nunca faco), eu vou adorar!
Xero

Manu | Homepage

gio disse...

Fala sim, Gio, nem que seja só pra aperrear Bruno =)

lala

gio disse...

Bruno - verdade. reconheço que generalizei demais. mas pense bem e você vai concluir que no fundo todos os filmes franceses tem um quê blasé sim. mesmo O Closet e os de Luc Besson. | Manu querida! que saudade de te ver por aqui! ô que bom que tu gosta de ler sobre mim hehehe. e podeixar que em breve falarei de comidinhas sim! | afagos afetuosos nos dois!

Eu

gio disse...

Lalita! vi teu comentario so' agora! né isso! aperrear Brunix é o que ha'! beijinhos querida!

Eu

gio disse...

e vc sabe q eu nao me acho, eu me tenho certeza

Bruno

gio disse...

Vai postar as receitas também?

/// Vai ser interessante ver os comentarios culinários de João B^D

Mythus | Homepage

gio disse...

seguinte: curti a parte sobre caminhar no parque. Como tenho dito, tou caminhando td dia agora. Na verdade, descobri q posso correr. 30 min de corrida por dia; tds os dias, praticamente forest gump. E espero ansiosamente o posts sobre vinhos.

ailton | Homepage

gio disse...

Brunix - eu tenho certeza que você se tem certeza! e eu concordo contigo! | Myt - os comentarios culinarios de João são impagaveis! | Tonton - eu ja' pensei em correr.. mas não estou certa de que consigo; e aguade e confie que os posts sobre vinhos virão. apertões nas bochechas!

Eu

gio disse...

É sempre redundante, mas ler seus posts é como estar ao seu lado conversando... E eu fiquei descrevendo na minha mente toda a cena da caminhada no lago dos patos. Como sempre, intensamente Gio!
Adorei a definição dos filmes franceses... blasé! Por falar em francês, pelo tom da conversa não vai demorar muito pra vocês irem morar na França, né? Glup!

Zabella

gio disse...

Só não entendi uma coisa: tu pede meu endereço e diz que escreve longas cartas pra ninguém...!

Zabella

gio disse...

Zabellicota minha preferida frô! xeu te dizer: né que eu te escrevi uma carta hoje? juro que sim! daqui a pouco chega por essas bandas! mas tenho que confessar: melhor coisa é caminhar com a tua pessoa na areia do Cabo Branco! amo tu!

Eu

gio disse...

"'tô sempre escrevendo cartas que nunca vão chegar/ pra amores secretos, revistas semanais e deputados federais/ ás vezes nunca sei se 'as vezes' leva crase/ às ve4zes nunca sei em que ponto acaba a frase (.,;?!...) (...) é como ficar esperando cartas que nunca vão chegar/ não vão xegar com 'X', nem vão chegar com 'CH'"

ton ton