quarta-feira, 21 de junho de 2006

Eu tinha combinado comigo mesma que meu próximo post seria alegre e otimista e alto-astral e essa coisa toda. Que nem combina com meu estado de espírito nesse momento da minha vida. Mas né? Eu ia tentar.

E eu me disse: "Então vai ter que postar antes do dia 21 de junho".Que o dia 21 de junho é um dia complexo. Eu realmente pensei nisso uma semana atrás. Mas não deu. Não postei. E o dia 21 de junho chegou. E cá estou eu. E não há no mundo nada mais em que eu consiga pensar hoje a não ser isso.

O dia 21 de junho é o dia da morte do meu pai.

Olhem. Eu detesto isso sabem? Autocomiseração. Autoflagelação. Autovitimização (essa foi boa). Oh deuses todos como sou infeliz e coitada e pobrezinha de mim. Odeio. Muita gente por aí perdeu o pai ou outra pessoa querida e continua em pé. Como eu. Porque é aquela coisa. É preciso continuar o tempo não pára the show must go on. Eu sei. Eu juro e prometo que eu sei bem.

Mas. Cara. Não dá. Você tenta. Você tenta de verdade. Mas não sai da cabeça. Não sai do coração. Dezesseis anos. E continua doendo como se tivesse acontecido ontem. E você começa a escrever ou falar sobre isso no dia de hoje e quando você vê o nó na garganta já tá apertado. E você chora na frente do computador. É um caso de corpo de bombeiros com certeza. Quem foi mesmo que inventou os blogs hein?

Eu não devia postar isso. Mas eu odeio pensar os negócios e escrever e depois jogar fora. Odeio. E infecciona né? Eu acredito que sim. Se você deixa os negócios guardados no fundo do baú que tem dentro do peito. Melhor postar mesmo. Fuck.

Aí eu tentei pensar: "Daqui a pouco você vai pra João Pessoa e isso tudo vai passar". Aí logo depois eu tentei pensar de novo: "Vai ficar lá, com seus amigos e seu cachorro e sua família na casa onde vocês sempre sonharam morar". Certo. Família né? Na casa dos sonhos né? E eu lembrei. O pai né? E o sonho foi sonhado junto com ele. E ele recitava uma poesia de Cecília Meireles (daquele livro. lembram?) que diz assim:


O ultimo andar

No ultimo andar é mais bonito:
Do ultimo andar se vê o mar.
É lá que eu quero morar.

O ultimo andar é muito longe:
Custa-se muito a chegar.
Mas é lá que eu quero morar.

Todo o céu fica a noite inteira
Sobre o ultimo andar.
É lá que eu quero morar.

Quando faz lua, no terraço
Fica todo o luar.
É lá que eu quero morar.

Os passarinhos lá se escondem
Para ninguém os maltratar:
No ultimo andar.

De lá se avista o mundo inteiro:
Tudo parece perto, no ar.
É lá que eu quero morar:

No ultimo andar.


E você adorava essa poesia. E ficava construindo seu castelinho no ultimo andar dentro da cabecinha de criança. Seu castelinho no ultimo andar no Cabo Branco. E o castelinho se concretizou e de lá agora você de fato vê o mar e todo o luar. E os passarinhos e o mundo inteiro. Mas falta né? O pai. Vai faltar sempre. E não há nada que ninguém possa fazer. Nada a fazer a não ser lembrar. E pensar. Pensar e dizer baixinho com você mesma.

É bonito, pai. É muito bonito o nosso ultimo andar.

quarta-feira, 14 de junho de 2006

Alguém disse uma vez que todo dia ao acordar precisamos lembrar de quem somos. Muito bem. Já é quase meio dia. Acordei às seis e meia. E ainda não lembrei quem eu sou. Mas isso não exatamente me angustia. Porque no fim das contas todas né? Eu não sei se eu sei mesmo quem eu sou de verdade.

Houve um tempo em que eu queria avidamente saber. Houve um tempo, esse mais recente, em que eu achei que sabia. Ocorreu uma coisa qualquer, não sei bem o quê, que me fez perder as certezas.

Pensando bem né? De que nos servem as certezas? Inútil ter certezas.

Sempre lembrando que a dúvida é o preço da pureza. Mas isso é outra estória.

Sim. Hoje eu acordei incrédula.

Normalmente eu recitaria Martha Medeiros. Como já fiz aqui uma vez. E diria:



O quarto ainda está crescente
E já venero a lua cheia.

O disco ainda nem foi lançado
E eu já sei a letra de cor.

O sol ainda nem nasceu
E já estou estendida na areia.

Fuzilem-me!
Não há nada em que eu não creia.



Por que essa sou eu. Fuzilem-me. Mas né? Hoje eu acordei incrédula.

Não perguntem o por quê. Hoje eu acordei incrédula. É só.

Alguém aí chame o corpo de bombeiros pra vir me resgatar.

quinta-feira, 1 de junho de 2006

Porque você passou toda sua vida fazendo os planos todos pra quando você fosse arquiteta. E, numa bela sexta-feira - dia 13 de março (como esquecer?) -, você teve a revelação que mudaria tudo para todo O Sempre. Você se deu conta de que você nunca seria arquiteta. Qualquer coisa. Menos arquiteta.

E levou anos pra isso ser digerido. Se é que foi digerido já. Foi há 8 longos anos e isso ainda continua remoendo as entranhas. Mesmo que você nunca mencione. Mas continua remoendo sim.

E você só percebe que continua quando - 8 longos anos depois - você sonha três noites consecutivas com todo aquele processo doloroso de largar do curso e se afastar da turma e desistir do sonho.

Você se formou em jornalismo. Começou a fazer pós-graduação. Nada a ver mais. Arquitetura? Aquilo passou.

Passou coisa nenhuma. Três noites. O mesmo sonho horroroso.

Problemas hein?