quarta-feira, 13 de outubro de 2004

Só pra ninguém ficar dizendo por aí que eu abandonei o blog ou que eu sou sumida, resolvi postar hoje, contrariando meu bom senso, que me manda ir estudar e cuidar da vida.

Pois é, faz tempo mesmo. O negócio é que aulas, de manhã, de tarde e de noite, provas e mais provas, dois estágios (infelizmente não remunerados...) e uma monografia que até que enfim chega ao fim, não me deixaram tempo pra lembrar do meu pobre mundinho abandonado.

Mas, a carruagem sempre anda e aqui estou eu de novo. Guiom veio passar uma semana aqui (agora ele já foi embora de novo, domingo passado) e eu me dei uma folga de todas as minhas obrigações. Ele mudou de emprego, conseguiu um mais legal, lá em Campinas mesmo e parou pra descansar por uns dias.

Minha querida amiga Milena veio de Maceió pra nos ver, o que me deixou muito feliz. Nesse fim de semana recebi e-mails de Patrícia (que está em Caiena, na Guiana Francesa) e de Marie (que está em Lyon, na França). Aí pronto, já viu... Comecei a pensar em todo mundo que eu adoro e que está espalhado pelo mundo. Pensei em Emilie, minha amiga da Martinica que está em Beirute com nosso querido Walid (que está trabalhando por um mês na Jordânia), pensei em Andy em Nova York, e em Grace em Nova Jersey, em Ciryl e Emilie na Índia, em Damien em Hong Kong, e em mais um monte de gente que eu não esqueci, mas não vou citar se não seria um post gigante só com nomes e lugares.

Fiquei pensando nesse povo todo e quase morro de saudades. Os amigos que fazemos deveriam ficar junto da gente pra sempre. Mas não é assim que a vida funciona. Infelizmente.

Minha mudança pra Campinas mudou de tom. No início eu me descabelava pelo aspecto existencial, metafísico da coisa (meu deus! vou embora da minha terra!). Agora me preocupam os detalhes práticos. Transportadora, escola, imobiliária, pediatra, faxineira... Não me revolto mais com o fato, mas continuo em fase de adaptação ao fato.

Semana passada João me veio com essa (no posto de gasolina, depois de observar atentamente a frentista encher o tanque, calibrar os pneus e verificar o óleo e a água):

- Quando eu crescer, antes de ser cientista eu quero ser posteiro!
- O que é posteiro?
- Ohw, mãe! Num sabe não é? É uma pessoa que trabalha num posto de gasolina!
- E o nome num era colocador de gasolina?
- Era, mas agora eu descobri que eles não fazem só isso da vida...
...
- Sim, mas, e aí, tu vai ser cientista também?
- É. Cientista louco!
- Louco?!?!
- Bem, louco, eu não sei se eu vou ser mesmo. Isso eu ainda vou resolver.


Dos últimos filmes que vi dou especial destaque a "Encantadora de Baleias", neozelandês da diretora Niki Caro. É um filme muito lindo, sensível, tocante e muito, muito sutil. A menininha que faz o papel principal, Keisha Castle Hugues, concorreu ao Oscar de melhor atriz e é mesmo super talentosa. Eu, boba que sou, chorei o filme todo. O que não significa que seja um filme melodramático, claro. Mas é com certeza um filme que todo mundo deveria ver, especialmente agora que todos os olhos estão voltados pra o cinema da Nova Zelândia (vide o mega sucesso da trilogia de O Senhor dos Anéis). Não poderia esquecer de "Dolls", do japonês Takeshi Kitano, um filme doloroso em cada cena, lento e com um visual incrível; e como disse Marco Frenette, da Bravo!, um filme sobre a danação do amor e a violência do espírito, mais que isso, um filme em que paixão e obsessão são como sinônimos.

Passei as últimas três semanas ouvindo Portishead e lembrando de Guiom e Luís, dois super fãs da banda. Guidi, Luís, dedico todas as músicas que tocaram na minha vitrola a vocês dois.

Dei um tempo no livro de Berkeley e comecei a ler "O Lustre", de Clarice Lispector. Mas, não adianta fugir... O livro de Clarice me lembra muito o de João Gilberto Noll e aí, o doido do Berkeley se instala de novo no meu quarto e não quer ir embora. Se eu enlouquecer, todo mundo já sabe a causa.

Minha monografia termina, como disse lá em cima. Concluí, com a ajuda de alguns autores da minha bibliografia, que:

A pedagogia da comunicação acredita que a atividade didática é um ato de comunicação e integração cuja preocupação é fazer com que os conhecimentos adquiridos a partir das necessidades dos sujeitos gerem novos conhecimentos, uma vez que essa pedagogia visa satisfazer os desejos dos indivíduos: o desejo de saber, de construir, de ser, de viver.


Queria eu ter sido educada tendo como base uma pedagogia assim... mas eu cresci num colégio feminino e católico, e tive que fazer um esforço enorme pra ser o que eu sou hoje.



23 comentários:

gio disse...

gio!!! há um tempão não tinha notícias tuas! nem pude ir à pizzaria/pastelaria/etc encontrar com vcs... obrigações sociais do dia das crianças com a "minha" sobrinha. saudades de tu (e de joão). beijo.
p.s.: fico felicíssima em saber que vc concluiu a monografia! parabéns ;)

milena (mélo)

gio disse...

Glory box... Os posts sao raros mas tao muito bons ultimamente. :D ps. O primeiro parágrafo é uma estrofe.

Laranja

gio disse...

oi mi! que bom te ver por aqui! tou com saudades também, vice? brunito, amado e querido, bjins pra tu!

Gio

gio disse...

Primeiro quero protestar contra o maldito lapso que me deixou fora do último ajuntamento. Eu iria, sim, iria.. E agora, às coincidências: 1) hoje mesmo eu fui parar lá pros lados da Penha, Seixas (uma longa história) e deu uma vontade danada de ir pra praia. Qdo chego aqui me deparo com os recados.. 2) Também terminei minha mono, parabéns pra gente! Eu defenderia nesta semana e iria para a praia com vcs se não fosse por um pequeno imprevisto: estou doente, aquelas gripes mensais.. =/ Enfim, vou ficando por aqui com minhas tosses e com Garcia Marquez. Depois de Cem anos e Ninguém escreve ao coronel, tô em Candida Erendira e o Outono do Patriarca tá me esperando. Vício? É nada..

Luís

gio disse...

luís, Candida Erendira é o poder! lembrei de tu quando li, achei que tu ia gostar; me conte o que achou depois. e tu perdeu de ver bruno de cabeleira molhada na praia, parecia um anjo barroco!

Gio

gio disse...

barroco pode ateh ser, mas anjo..

Laranja

gio disse...

e perdeu de ver tb gio arranjando uma briga e sendo chamada de "xoxinha"

Laranja

gio disse...

Gio, obrigada por tudo, viu? Não vou esquecer nunca o que você fez! =)

Lala

gio disse...

Estamos vivos! Helber, de olho vermelho. Eu, escutando barulho do mar. Mas vivos! \o/

Lala e Helber

gio disse...

Portishead é massa. A história do cientista louco, fizeram uma pesquisa em vários países para saber que imagem as pessoas associavam à figura do "cientista", e no geral as pessoas sempre pensam na figura do cientista louco, com aquelas roupas de cientista e os cabelos desgrenhados, algo do tipo :)

Andrei

gio disse...

lala e helber, fico feliz e aliviada sabendo que os dois estão vivos e mais ou menos bem... andrei, cara, não sei se eu quero ter um filho cientista louco não...

Gio

gio disse...

Luis, O Outono do Patriarca foi úm dos únicos livros que não consegui ler até o final. Ô livrinho ruim! Mas todos os outros dele que li são bons.// Gio, tu escreveu... milagre.

ailton

gio disse...

algumas das nossas fotos sem noção do lual improvisado já estão no fotolog, vice? as mais comprometedoras, mando depois por e-mail!

milena (mélo) | Homepage

gio disse...

Gioô.. também estudei no/na/nas Lourdinas.. "Gerar novos conhecimentos"? tcs.. certamente quem está a procura disso tem que ir mais longe. Ah, tou com O Lustre aqui.. qq folga dessas eu começo, é q a influencia de Luis tá me fazendo ler Garcia Marquez sem parar. Beijão pra tu.

PauLa

gio disse...

me conta como foi o domingao da gio

Laranja

gio disse...

ailton, seu chato, eu escrevo sempe, sim, viu? mi, como assim, comprometedoras? meu marido não vai gostar disso... paulaaa! leia o Gabo sim, mas não deixe O Lustre de lado não! brunito, o domingão da gio foi ótemo, perdesse não só os comes e bebes como a nossa boa conversa fiada de sempre... mas fica triste não que qualquer dia eu faço o sabadão da gio, só pra tu poder ir!

Gio

gio disse...

Seus textos são simplesmente maravilhosos. Adorei ler vc. Vou lhe lincar e voltar sempre por aqui. Sera que a gente se conhece? Também sou de JP. Beijo.

PH

gio disse...

ker dizer q nao rolou master? nem imagem e acao? Entao nao perdi nada... :P

Laranja

gio disse...

minha garganta ainda tá inflamada...!

ailton

gio disse...

Bem que ele disse que queria fazer um "anti-Cem anos" com esse Outono do Patriarca. Livrinho dificil.. Mas Candida Erendira é bom demais! O do Blacaman, o do navio fantasma, o próprio Candida, o do "anjo" velho, fantásticos (literalmente). Ah, e o que tenho ouvido é Half day closing, é a 4 desse cd do Postishead. Essa só não ganha de Glory Box.. :)

Luís

gio disse...

se vc nao me chamar pra sua defesa, eu te mato

tenha medo

gio disse...

tsc, mata nada... duvido! tu não teria coragem...

Gio

gio disse...

Gio, acabei de acabar o Outono do Patriarca. É fantástico, fuderoso, indescritível, inenarrável.. É da fase mais inventiva dele (finais dos 60s, começo dos 70s). Ouvi falar que esse é o preferido dele, que nesse ele quis fazer um "anti-Cem Anos", quis ampliar os horizontes temáticos, estéticos, métricos, aloprar mesmo. E conseguiu. Como ocorre em toda obra, este é o livro injustiçado dele, ofuscado é claro por Cem Anos e o do Cólera (mas esses continuam sendo os meus preferidos).

Luís